Falo-vos do Projecto PROCESSO(s).
Nasceu de catarses entre Psicologia e Arte e, sem conceito que lhe fosse foz,
propôs-se redesenhar o verbo criar a partir de uma linha temporal contínua,
ancorando-se em vários nichos sociais. Surgiu como um projecto emergente, contínuo
e gregário, com uma forte vertente humana e com o grande objectivo de mover
massas num processo de criação sem limites sociais ou temporais. O objectivo core
é dinamizar a sociedade, através de projectos artísticos que devem partir do
aproveitamento dos seus recursos. Assim, podem ser expandidos vários caminhos
artísticos, tendo como base a crença de que todos podem gerar arte e de que
esta pode acrescentar caminho à sociedade.
Qualquer leitor pode questionar-se
relativamente à utilização da arte como catalisador do desenvolvimento
supramencionado.
Os nossos olhos vêem que arte deve ser
uma forma de valorizar cada elemento pertencente a um grupo como "pessoa
dos seus talentos", de promover o pensamento divergente, a exploração de
alternativas e assim, os processos criativos, tendo como destino o
desenvolvimento humano e social. A aprendizagem da utilização dos recursos já
existentes permite a economia de recursos humanos e materiais e assim, cada vez
mais, o desenvolvimento "reciclado".
Numa altura em que a sociedade já
nada espera de si, em que os recursos parecem inexistentes e quando se espera
que a solução seja extrínseca, o PROCESSO(s) ambiciona reverter as crenças para
um controlo interno nos desafios que surgem. Assim, o trabalho artístico, nas
várias áreas, prevê-se como catalisador de mudança e de evolução cognitiva,
emocional e social.
A ideia que se coloca como base do
projecto é a de que a arte não representa um hiato, um local, um molde. Vive de
co-construções contínuas entre Pessoas e deve integrar o seu quotidiano, sendo
envolvida nas suas tarefas, hábitos e desafios. Aqui, não se pretende que o
PROCESSO(s) seja um museu ou um centro de arte. Pretende-se que seja uma
ferramenta, um catalisador de desenvolvimento comunitário, que estará em
constante deslocação, interacção e evolução. Em verbalizações práticas, o nome
surgiu de um insight que prevê arte a partir do processo individual que
nos nutre, mas também dos processos entre os vários singulares. O Projecto
PROCESSO(s) pretende assim iluminar talentos, através da promoção do
auto-conhecimento e maximização de competências.
Numa visão mundial, muitos países
adquirem muito do seu capital através da arte (temos o exemplo da China que foi
o líder mundial do mercado da arte em 2011, segundo o Jornal Público), tendo
muitas categorias laborais neste mercado; Portugal ainda não dedica recursos
suficientes ao desenvolvimento de ferramentas que lhe gerem este valor. O
objectivo é conceber vontade, oportunidade e valor a este mercado, na medida em
que todos podem ser arte e a arte pode ter várias figuras. Mais ainda, mostrar
que arte pode ser de/para todos e não apenas de uma elite. Neste sentido,
aumentando o campo de acção em vários contextos, pretende mostrar-se que o que
pode ser arte numa Instituição Social, pode sê-lo de forma diferente numa
Faculdade de Psicologia, numa Empresa de Publicidade ou numa Livraria. O
PROCESSO(s) pretende assim não cingir o conceito, mas expandi-lo, aumentando a
probabilidade de criação e de sucesso. Aqui não há populações prováveis ou mais
talentosas a priori.
Mergulhando no contexto social,
actualmente com maior interacção com o PROCESSO(s), tendem a ser gastos muitos
recursos em apoios pontuais, que acabam por ser interrompidos e/ou coagidos. Se
for realizado um trabalho contínuo e aprofundado, valorizando o papel social
activo dos elementos que dão vida a estes sistemas, não se corre tanto o risco
de perder o processo de desenvolvimento. A arte parece constituir uma das mais
valiosas ferramentas para o desenvolvimento pessoal e, assim, frutífero para
qualquer população. Além disso, não raras vezes, a fonte de reorganização é
implementada a partir do exterior e nem sempre pensada como passível de ser
auto-gerada. Desenhando um exemplo prático: uma instituição pode desenvolver um
projecto artístico e assim o valor será individual e desenvolvimentista, mas
também social e por conseguinte podemos tracejar um avanço económico. Considerando-os
como vectores.
O facto de ser um projecto social
conjunto entre várias pessoas e equipas também educa para a gregariedade, onde
cada um deve sentir-se parte integrante do projecto, aumentando assim o
sentimento de identidade e pertença. Esta dança avança na visibilidade de
trabalhos que a maior parte das vezes não passam as portas de um "pequeno
mundo".
Desta forma pretende-se também, num degrau menos niilista, aumentar o
rendimento destes locais, que muitas vezes, não tendo o apoio financeiro
necessário, acabam por fechar, deixando pelo caminho muitos selves em
desenvolvimento.
Este projecto não quer ser um
momento estanque, temporal; não é um momento que privilegia uma classe, uma
elite; não é um museu, nem uma exposição. É um trabalho de co-construção da
obra- que é plural -, entre pessoas e entre as suas várias formas de Ser-Pessoa
e terá uma continuidade conceptual. Mais do que tudo, que arte possa ser mote
de evolução de um país e de uma sociedade, tanto a nível humano como económico.
Não
deixemos de pensar que uma sociedade desenvolvida é a sua própria cura.
Ana
Rita Caldeira da Silva