Pedido de ajuda
e Processo Terapêutico
Olá!
Decidi pedir a alguém que partilhasse a
sua perspectiva associada ao pedido de ajuda psicológico. Apesar de não
estar directamente relacionado com consumos, este post vem na sequência do
anterior associado ao aumento de consumo de substâncias associado a depressão e
ansiedade. Pareceu-me bastante interessante abordar a dificuldade que é pedir
ajudar e a vivência de um processo terapêutico… Aqui ficam as palavras de alguém que não se importou de partilhar a sua
experiência. Desde já aqui fica o meu apreço e gratidão pela sua
disponibilidade.
“Bem, se me estás a ler
provavelmente estarás em busca do teu problema e a internet por mero a caso ou
não, trouxe-te até aqui. Sei bem o que é isso. Primeiro chama-nos devagarinho
como se fosse uma “vozinha” lá ao fundo...depois quando dás por ti essa “voz”
está te a gritar repetidamente aos ouvidos e não consegues pensar em mais nada
a não ser nesse mau estar que estás a sentir. Começamos por pensar que somos
loucos, diferentes, começamos por esconder o problema, ou até muitas das vezes
acabamos por tentar esconder o problema de nós mesmos; os nossos pensamentos
começam a viver em círculos, bolas de neve...o nosso corpo começa a
corresponder ao que pensamos e à forma como estamos a pensar sobre o problema,
arranjamos mil e uma desculpas ou para não pensar, ou pensamos freneticamente,
alguns procuram amigos, companheiro/a, família em momentos de aflição, outros
preferem estar sozinhos; outros recorrem a algum tipo de droga, muitas das
vezes acabamos por até recorrer a algum tipo de cognição que faz com que agrave
mais o problema. Enfim todos reagimos de forma diferente. Mas todos deveremos
aceitar que não estamos bem e tentarmos encontrar a melhor solução.
Essa vozinha de que falei aparece
no teu corpo para te alertar de algo; não...não me refiro a nenhuma voz no
sentido literal da palavra, mas de algo que está a chamar o teu organismo em
forma de reacção física para determinado momento emocional que estás a viver ou
viveste da tua vida. Começas por sentir picadas, batimentos acelerados do
coração, espasmos, dormências, problemas intestinais, desconcentração, falta de
ar, nós na garganta, vontade de salivar, vazio, enfim se não referi nenhum tipo
de reacção/sintoma foi porque não me lembrei e porque felizmente não os tive a
todos, até porque diferencia muito de pessoa para pessoa. Geralmente no início
pensas que essas sensações vão passar, dizes para ti mesmo que é temporário,
outras vezes pensas que é por ter bebido um cafezito a mais, andares a dormir
mal, a realidade é que estás com um problema e não vale a pensa fugires. “Podes
fugir mas não te podes esconder” seria até uma boa frase para relacionar com
tudo isto. Ainda noutro dia estive com uma amiga, que esteve ao telefone cerca
de uma hora com outra amiga dela que estava na auto-estrada e não conseguia
respirar e nem se concentrar no momento presente, e procurou-a para conseguir
fazer o caminho até casa (a desculpa dela era o excesso consumo de cafeína na
coca-cola que tinha estado beber...).
Quanto mais fugires do problema e
inventares para ti mil e uma desculpas (em que até os portadores desta coisa
costumam ser peritos), pior te sentirás, e o teu corpo ainda vai se vingará
mais por não o enfrentares! Já devem saber que “vozinha” é esta, que “coisa” é
esta de que estou a falar...crises de ansiedade...ataques de
pânico...”adornozinhos da ansiedade”, como lhe queiram chamar! Se quiserem até
a podem chamar de inferno! Sim, porque como eu e como muitos vocês já devem ter
vivido momentos de inferno por terem que conviver com esta característica
inerente a vocês mesmos. O importante é saber que existe forma de conseguir
conviver com este problema que muitas das vezes é acentuado em determinado
momento da vida por x, ou por y factor que diferencia de pessoa para pessoa.
Eu levei algum tempo a procurar
ajuda, acho que existem dentro de nós ideias bastante erradas em relação à
saúde mental, induzidas pela própria sociedade material que vivemos, que não
está preparada para falar de um dos mais potentes órgãos que temos - a nossa
cabeça - e no fundo do nosso coração - as nossas emoções.
No início custa, custa termos que
enfrentar isto, custa ter que tomar medicação por vezes, custa até abrirmo-nos
com alguém que não conhecemos, e toda esta ideia inicialmente nos parece
estranha. Nem sempre a terapia podia funcionar (por acaso a minha primeira
experiência terapêutica não funcionou); mas depois começamos a ganhar uma
grande magnitude sobre o tema, sobre nós mesmos, ou até mesmo sobre quem nos
rodeia. Aprendemos uma série de coisas desconhecidas sobre nós, outras
reforçamo-las, há dias que saímos ainda mais ansiosos da sessão, outros em que
parece que aquela sessão nos limpou por completo a alma, enfim se vais iniciar
esta experiência, será sem dúvida uma viagem muito interessante ao pais da
complexidade do teu eu, rodeado de distorções e muitas vezes maravilhas que tu
desconhecias. Vais ter um guia nessa viagem que será o teu terapeuta, que te
indicará o melhor caminho segundo o que queres e precisas procurar em ti; ele
não te julgará nessa luta. Será um trabalho de ambas as partes. Com muitos tpcs
pelo meio, e muitas descobertas e às vezes lágrimas. Eu ainda continuo em
terapia e estou disposta a vir aqui falar-vos mais vezes da minha experiência e
da forma como a vivo.
Deixo-vos desta vez um pequeno
grande conselho, quanto mais tempo levarem a procurar ajuda, mais grave se
tornará o problema, por isso sem medos, sem desculpas e sem complicações
recorram agora a ajuda terapêutica.”
Mais palavras para quê?
(mais
uma vez OBRIGADA a quem partilhou estas palavras)
Ana
Nunes da Silva
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