terça-feira, 30 de abril de 2013

Parceria: NEPC

 
Apresento-vos hoje mais uma parceria, desta feita com o Núcleo de Estudantes de Psicologia Criminal, do Instituto Superior de Ciências da Saúde Egas Moniz!

Acompanhem o NEPC na sua página de facebook!



Psicologia Para Psicólogos

segunda-feira, 29 de abril de 2013

[Psicologia e Política]: Percepção do 25 de Abril de 1974

            Não sou da geração que viveu este dia, mas sou da geração que se preocupa com ele. Porquê? Porque existiu um conjunto de valores que foram sendo passados de geração em geração, de pessoa para pessoa, até me chegar a mim e que, depois, fizeram sentido e foram integrados como informação válida a ser utilizada.
Mas a questão que fica é: Como é que pessoas que não viveram o acontecimento, podem ser tão entusiastas da mesma? Isto é, como é que a nossa base psicológica nos permite acreditar em algo não experienciado por nós?

A isto chamamos de Cultura.
Outras teorias, como a de Jung, chamariam, à causa deste acontecimento, uma acção do Inconsciente Colectivo. Isto é, um conjunto de práticas, de saberes, de tradições e costumes, que são passados entre pessoas. Estas informações, a fazerem sentido e sendo úteis, para a acção ou compreensão da realidade, transformam-se em verdades universais de determinada população. Assim justificamos o significado dos feriados e seus motivos, ou as consequências positivas e negativas de determinados acontecimentos.

Tiago A. G. Fonseca

Seminário de Psicologia da Educação: 2 de Maio de 2013


            Deixo-vos a informação sobre o Seminário de Psicologia da Educação que ocorrerá no dia 2 de Maio de 2013, às 16h, na Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias, pela Escola de Psicologia e Ciências da Vida.

 (Carrega na imagem para a veres em tamanho real)

            Maria Stella Aguiar

domingo, 28 de abril de 2013

[Mudança] (ar)Riscar na Arte


Jovens e Processos Artísticos: Construir em Contextos de Risco

Quantas vezes a estação
É estação de novo.
E a viagem antecipa sempre a ideia,
de voltar a ser.

Liberto-me dos ensaios que concretizam conceptualmente pobreza e criminalidade. Partilho a recriação: jovens, pessoas numa continuidade descontínua de desenvolvimento; arte, hiato para que não haja espaço com barreiras de pensar, nem inércia de construir; contextos de risco, com desafios e necessidades de adaptação mais próximos no espaço e no tempo, que exigem um treino neuronal de tomada de decisão, num ambiente com menos recursos humanos e sociais para os valorizar.
Nesta medida, que há-de ser a minha medida, liberto-me do que pode ser a inclusão social e mergulho no que pode ser o desenvolvimento humano em contextos de risco, onde (sem também) há ruas, tempo, pessoas, desafios e nichos com o chão do crescimento.
Socialmente - reformulo -, economicamente, não sobejam as ferramentas pedagógicas e desenvolvimentistas, porque mesmo quem as pode manusear, os menos jovens, continuam em constante resposta ao meio desafiante, num invólucro tracejado em espiral.
Então, podemos falar em risco transversal e longitudinal. Risco de se bloquear em qualquer momento o papel no sistema, pelo infortúnio treinado de respostas menos adaptadas ao que o contexto grita. Idílico seria pensar em competências que calassem o balbucio barulhento e arrancassem a semântica que todos podemos perceber.

Agora o que pode ser a arte? Arte e Jovens. Harmonizar da criação. Possibilidade de construção. Fase que ainda não escolheu, que ainda não se habituou. A intervenção social, ancorada nas artes e aplicada aos processos de maturação e de escolha, pode ser a mudança que ainda não acordou. Neste movimento existe a vontade de empowerment comunitário, com quem ainda não perdeu a retina de olhar para o lugar e para o ser, apreendendo e movimentando-se. Em contextos de risco, as horas desafiantes, associadas a anos precários, colocam no palco o julgamento do território, que retira, que exige e que, na visão mais romântica, apenas permite sobreviver.
Os processos artísticos utilizados como ferramentas de intervenção comunitária e humana em grupos de jovens serão a folha em branco do pensamento criativo, exploratório e divergente, que procura novas respostas aos desafios, que sobretudo admite haver novas respostas. Seguindo esta assumpção a arte dará, em primeira instância, uma maior capacidade de adaptação aos desafios, nas suas diferenças e recompensas. Dará uma maior capacidade protectora às exigências sistemáticas, num escudo de controlo interno sobre o meio. Dará uma foz às próprias soluções, com responsabilização e júbilo, por assim serem. O contexto será a página que aumenta com novos significados, numa vontade revigorante de procurar sem querer encontrar, de viver as pessoas e de construir uma nova cultura de comunidade.
E quando se fala em arte, fala-se em tudo o que possa já ser ou que possa ser criado, mas sobretudo, criado numa visão gregária: não como um projecto pedido pelo relógio, mas aceitando que sem fim, as ideias da pessoa que vive ao lado são também uma nova motivação para recomeçar.

Oriento as palavras à apresentação da Emergência Social, IPSS que se dedica ao desenvolvimento comunitário no Bairro da Cruz Vermelha, na Alta de Lisboa. Suporte de necessidades básicas da hierarquia de Maslow, avança também nas competências sociais e valores humanos core. Equipa de Profissionais do Humanismo, com quem partilho ideias e intervenções, exerce um trabalho também focado nos jovens e no potencial humano de mudança que o processo de crescimento tem associado. Este ano trabalhamos as artes, no calendário de actividades Moviment´Arte, no qual em cada mês será trabalhado um processo artístico. Serão facilitadas actividades de expressão envolvidas em cada área e também integrada uma vertente de aproximação à prática, através de workshops. A ênfase é dada à construção de projectos de vida, ao desenvolvimento de competências, à descoberta de vocações e de novos significados e em grande cenário, a cultura de bairro como ar que inspira.

No que é caminho, arte e jovens em contextos de risco pretende ser uma relação dinâmica de conhecimento; lápis que cria; ruas que se vivem e não se temem; projectos de vida que devem integrar as fases de desenvolvimento, para poder ser desenvolvimento.
A arte, além de exaltar as respostas criativas aos desafios que se supõem sempre iguais, é caminho para a valorização pessoal, para a orientação a skills artísticos e para o fortalecimento da ideia de cultura comunitária. A arte, como fermentador do potencial humano que adormece.
O que nos acompanhará: criar as ideias será conhecer os novos comportamentos.

Ana Rita Caldeira da Silva

sexta-feira, 26 de abril de 2013

[Envelhecer]: Será preciso “superar” o Envelhecimento?

Numa pesquisa breve sobre que tipos de títulos aparecem acerca do envelhecimento, verifica-se que aparecem inúmeros títulos negativos, sobre a diminuição de capacidades, perdas, limitações; os outros mais positivos são sobre como superar essa fase com sucesso.
Como se envelhecer fosse uma experiência traumática que é preciso superar ou encaixar porque pode causar danos?! Será mesmo assim tão dolorosa? E superar para chegar onde?
Tal como as mamãs querem dicas para superarem os primeiros meses de vida dos bebés, os adolescentes querem saber como superar as suas“fases” e os pais desses adolescentes desesperam para saber como superar a “fase” em que os filhos estão, também os adultos querem saber o que fazer para melhor superarem a fase seguinte que se avizinha - o Envelhecer.
Parece que já nenhuma altura da vida se vive no presente, nem nenhuma “fase” tem coisas boas a aproveitar. É tudo para superar. Pergunto-me, com que objectivo?
Temos todos de nos apressar a superar a fase que vivemos porque é sempre má e queremos que passe depressa, porque o amanhã será sempre melhor?!
Como se todas as etapas de desenvolvimento fossem uma corrida de obstáculos, onde o que interessa é chegar ao fim. Mas se algumas pessoas nem têm uma ideia clara do que haverá nesse fim, para quê querer passar à frente, superar, correr?
O foco no futuro longínquo deixa-nos dormentes a esta altura (seja qual for a que estivermos a viver) da nossa vida. Dormentes no nosso presente e a quem somos no Agora.

Deixo-vos a conclusão de António Manuel Fonseca, que no seu livro intitulado O envelhecimento - uma abordagem psicológica (2006), conclui do seguinte modo:
Haverá poucas realidades tão universais como o envelhecimento. (…) o envelhecimento é uma condição bem mais complexa do que parece à primeira vista, pelo menos tão complexa como o crescimento, o que pode querer dizer que tal como temos responsabilidades no acto de crescer, elas também existem relativamente ao acto de envelhecer; se ninguém nos diz totalmente como devemos crescer, também ninguém determina completamente o nosso envelhecimento. Porém, ao invés de crescimento, serão decerto bastante menos aqueles que perspectivam o envelhecimento como uma oportunidade seja do que for, acabando a maioria de nós por vê-lo antes como um mal irremediável, um desfecho incompreensível no fim de uma vida feita de aprendizgens, de relações, de projectos, etc. Não se vislumbrando de imediato , no acto de envelhecer, qualquer potencialidade construtiva, como pode a velhice trazer algo de positivo à vida humana?”(p.185-186).
Aqui fica a questão.

Ana Carla Nunes

segunda-feira, 22 de abril de 2013

[Comboio do Desenvolvimento]: O Tempo na Psicologia do Desenvolvimento


Como prometi, vamos continuar a reflectir sobre a relação dos psicólogos do desenvolvimento com isso a que chamamos tempo.
Vimos, há uns dias, que não é o próprio tempo que nos atrai, mas sim os processos temporais, aquilo que ocorre no tempo.
Porquê?
Porque os psicólogos do desenvolvimento procuram essencialmente descrever como a conduta humana muda no tempo, e não com o tempo, ou seja, como a experiência de relação consigo, com os outros e com o mundo físico se vai sucessivamente transformando, organizando e reorganizando ao longo do ciclo de vida de cada um de nós.



 
Lembram-se do nosso comboio? Sempre que passava, percorria o mesmo percurso, sensivelmente à mesma velocidade e um qualquer gravador, fixo num mesmo local, registaria certamente a mesma sequência de sons que invadiam o espaço e que ocupavam, sensivelmente, o mesmo intervalo, a mesma duração, no tempo. Mas, não eram, de facto, esses intervalos de tempo que moviam o comboio ou que faziam mudar a intensidade dos sons que a máquina registava. A passagem regular daquele comboio, por aquele local no espaço, até parecia acontecer com o tempo, pois podíamos prever a hora em que iria passar e a duração do som que nos iria deixar. Mas nunca era, de facto, essa hora ou essa duração do tempo que fazia o comboio seguir aquele percurso, com aquela velocidade e deixar aqueles sons que a máquina guardava. 

Para os psicólogos do desenvolvimento, o tempo biológico, os processos temporais que marcam a maturação e a degenerescência do organismo que somos são determinantes, pois induzem mudanças comportamentais inquestionáveis. Desde sempre se reconhece o efeito das mudanças biológicas e, actualmente, investigam-se, cada vez mais, as relações entre os componentes psicológicos e neurológicos da conduta humana.
Porém, apesar do aceso debate actual sobre a independência e identidade da nossa disciplina, acredito que a Psicologia continua a fazer sentido e que ainda podemos argumentar, com Piaget, Vygotski e muitos outros psicólogos do desenvolvimento, que o tempo de vida, a idade de cada um de nós não constitui o único motor, senão mesmo o principal factor, de mudança comportamental.
Pensem, por exemplo, nas crianças e adolescentes que vivem, hoje, nas sociedades social e culturalmente mais evoluídas. Os cuidados pré-natais e neonatais, o acompanhamento médico regular, a qualidade da nutrição e o exercício físico a que são submetidas têm promovido uma maioria de crianças e jovens saudáveis, do ponto de vista orgânico, fisiológico. Permanecem, porém, acentuadas diferenças individuais no seu desenvolvimento psicológico, cognitivo, sócio-cognitivo, emocional ou social-relacional.
Pensem, por exemplo, na actual campanha em favor do envelhecimento activo. Nesta faixa etária, o risco de doenças do foro neurológico é particularmente acentuado e, para o prevenir, muitos especialistas reconhecem, cada vez mais, o efeito positivo da conjugação do exercício físico e da nutrição saudável com a actividade intelectual ou artística, a socialização ou, mesmo, com a intervenção psicológica.

Para os psicólogos do desenvolvimento, o tempo biológico é inquestionável. Mas, este não é, em rigor, o nosso objecto de investigação, de avaliação e de intervenção.
O tempo que interessa os psicólogos do desenvolvimento é o que poderemos designar o tempo psicológico, ou seja, os processos temporais que marcam a sucessão de mudanças de comportamento, de natureza qualitativa, estrutural e funcional, relativamente estáveis e duráveis no ciclo de vida das pessoas. Dito de outro modo, os investigadores do desenvolvimento psicológico procuram captar, descrever, compreender e prever o processo de evolução e de involução da experiência e/ou da conduta humana, processo este que ocorre no tempo e não necessariamente com o tempo, pois não é apenas um resultado passivo da idade, do tempo de vida do organismo que somos.
Mas, daqui a uns dias, continuamos a reflectir um pouco mais sobre o tempo que atrai os psicólogos do desenvolvimento.

M. Stella Aguiar


Referências:
Castro Caldas, A. (2013). Uma Visita Politicamente Incorreta ao Cérebro Humano. Lisboa: Bertrand.
Smith, L. B. & Thelen, E. (2003). Development as a dynamic system. TRENDS in Cognitive Sciences, 7 (8), 343-348.

domingo, 21 de abril de 2013

Paranóico e o Neurótico: Traços


            A imagem que vos trago hoje brinca com o proverbio português – “Para bom entendedor, meia palavra basta” – referindo-se ao Paranóico como alguém a quem lhe basta meia informação também.
 
            Nesta onda de humor é possível retirar uma verdade: com meia informação, o paranóico cria a sua realidade. Por outro lado, o Neurótico tem dificuldade em criar essa realidade, mesmo que tenho toda a informação necessária e ainda mais um bocado.

            Agora vamos à parte curiosa desta questão.
            Pensem quantas vezes criamos a história através de parte da informação total. Ou quantas vezes não acreditamos em algo quando sabemos mais do que o total. Significa que somos neuróticos? Ou paranóicos? Poderá, efectivamente, significar. Mas não será o caso.
            Todos temos traços de Paranóia e/ou de Neuroticismo. Diria até que todos temos traços de tudo. Todos agimos, em certo momento da nossa vida, de acordo com os traços que temos, manifestando o que a bíblia das psicopatologias – DSM – chamaria de Psicopatologia de forma efectiva, visto que todos ou a maioria dos sintomas estão lá.
            Mas a verdade é que não somos Paranóicos ou Neuróticos por manifestarmos, por vezes, os seus sintomas. É normal, em certos momentos e situações, manifestarmos maior paranóia, maior neuroticismo, maior tristeza ou maior furor, sem ser paranóico ou neurótico, sem estar em depressão ou ser maníaco.
            Nós somos compostos por traços. Não por totais psicopatológicos.

            Tiago A. G. Fonseca

quinta-feira, 18 de abril de 2013

[The Naked Lunch]: Leves e pesadas?


Apesar deste poder ser um título controverso, a realidade é que não é a melhor forma de se abordar o tema das drogas. Posso-vos dizer que já tive contacto com um paciente que consumira cocaína apenas num pequeno período da sua vida, até consumidores de haxixe com consequências bem complicadas.
Pois é, desengane-se quem pensa que a cannabis é do mais inofensivo que há. E se é real que quem consome haxixe pode não estar em risco de passar “das levas para as pesadas”, como vimos no último post, não deixar de estar em risco pelo consumo em si.
Existe uma síndrome clínica – síndrome amotivacional – que é normalmente descrita em utilizadores crónicos de cannabis. Posso-vos dizer que esta é uma das situações que senti como mais complicadas de trabalhar do ponto de vista clinico. Como é que um profissional que trabalha como motivações, trabalha com um paciente amotivacional?!
Clinicamente, este síndrome caracteriza-se por: alterações do comportamento, como o isolamento social, a passividade e a auto-negligencia; alterações cognitivas, como deficit de atenção, prejuízo da memória, diminuição da capacidade para resolver problemas, prejuízo da capacidade de julgamento e dificuldade nas tomadas de decisões; e ainda alterações volitivas, como a diminuição do interesse pela aparência pessoal, apatia, inércia, falta de objetivos na vida, diminuição dos impulsos, perda do interesse pelas atividades sociais, académicas e ocupacionais. Esta síndrome parece ter uma etiologia multi-factorial, estando associado a problemas cognitivos e depressivos causados pelo consumo regular de cannabis.

Para uma droga leve, parece bem pesada, não acham?
 
Ana Nunes da Silva

quarta-feira, 17 de abril de 2013

Mafalda Espada e João Baptista deixam o PPP


Os autores Mafalda Espada e João Baptista deixam o Psicologia Para Psicólogos.

Em nome de toda a equipa agradeço o seu contributo, que por certo tantos ajudou a pensar e a reflectir sobre Psicologia!

           
            Psicologia Para Psicólogos

segunda-feira, 15 de abril de 2013

Filmes, Livros e Psicologia: Elefante (2003)


O primeiro filme que quero partilhar convosco é um dos meus favoritos, pela qualidade do filme e da sua realização, mas principalmente pela mensagem, pela história e pelo que representa.

Elefante” (2003) ("Elephant" – Título original) conta a história do dia-a-dia de uma escola, focando dois colegas, vítimas de bullying, e todo o percurso que culminou em massacre. O Massacre do Columbine.
Nesta história, podemos assistir às devastadoras consequências do bullying, dos seus intervenientes e histórias, dos momentos de partilha e compaixão, da culpa à pena interior, da resposta passiva-agressiva dos cuidadores à alienação dos pares.
É um tema que sempre foi – e continua – tido como algo menor do que realmente é, e é bem premente nas consequências que assume. Alan Clarke, em 1989, realizou um documentário, sobre a realidade nas escolas, com o mesmo título. Diz ele que escolheu o título devido ao tema ser "tão facilmente ignorável quanto um elefante na sala de estar". Fica a mensagem!

Tiago A. G. Fonseca

sexta-feira, 12 de abril de 2013

Brincar às Casinhas


            A imagem a baixo representa uma verdade universal.

As crianças vêm, as crianças fazem.

 
            Apesar da universalidade desta premissa, os educadores muitas vezes não o percebem. A responsabilidade de educar é enorme. Educar representa os comportamentos, pensamentos e emoções que são adquiridos, alterados e promotores de mudança em alguém, através do conhecimento adquirido em determinada situação, com determinada motivação e percepção.
No dia-a-dia, na nossa agência pessoal e interpessoal, estamos a educar. E, não sendo constantemente conscientes do que nos rodeia, muitas vezes não percebemos o impacto que a observação directa e/ou indirecta dos nossos comportamentos têm nos outros.
            As aprendizagens passam, mesmo sem aprendizagem directiva. Não é necessário falar-se directamente para uma criança. Ela irá criar a sua interpretação e irá realizar a sua reprodução da aprendizagem.
            Em suma, nem sempre se educa como seria necessário, coerente, desejável e interessante. Muitas das nossas aprendizagens não nos servem adaptativamente, e outras, pelo contrário, terão de ser esquecidas ou resolvidas.

            Educar adaptativamente as crianças para que sejam adultos adaptados. Terá sempre, sempre, de ser este o lema.

Tiago A. G. Fonseca

quarta-feira, 10 de abril de 2013

[PREVENIcaNDO]: Porque estão onde estão?


No último texto falei-vos do corpo como a casa que habitamos. Hoje falo-vos da vizinhança. Quando pensamos numa casa ela tem um enquadramento, está no centro da cidade, ou nos subúrbios, perto de outras casas ou isolada, é um castelo ou um piso térreo despretensioso. Pensar onde nos situamos face aos outros é um tópico essencial no plano preventivo.

Um dos momentos que recordo como de maior beleza na dinamização de grupos acorreu em torno deste tema. Tratava-se de um grupo de universitários que se preparava para assumir a condução de campos de férias de grupos de jovens em rutura escolar enquadrados pelo Programa para a Eliminação da Exploração do Trabalho Infantil (PEETI). Estávamos no final da formação e tinham sido já muitas as dinâmicas aprendidas, estratégias equacionadas, técnicas aprendidas. Mas era importante que cada um pensasse aonde a formação o tinha levado. Pediu-se que cada um escolhesse na sala o seu lugar. O lugar que o situasse face aos outros e face a si próprios. Uns escolheram as janelas, pela luz, pela vista para o exterior, pelo calor ou simplesmente pelo prazer. Outros procuraram lugares junto àqueles de quem mais gostavam, pelo afecto, pelo sentido que encontraram no grupo, pelo calor humano, pela proximidade. Outros escolheram estar em locais confortáveis, porque era assim que se sentiam, bem com eles e com o mundo, prontos para o que aí vinha. Uns estavam junto às paredes pela protecção que estas lhes ofereciam, num futuro que se avizinhava trabalhoso. Outros ainda estavam junto às portas, como quem entra ou já como quem sai. A formação não fora fácil para alguns e a porta assumia-se como uma segurança que permitia repensar se a coisa corresse mal. Um a um todos falaram do sítio onde estava e porque é que ali estavam. Ouvi-os do centro da sala, requerendo o silêncio de respeito, saltando de elemento em elemento, como um processo circular. O cansaço, o calor de início de verão convidava a um remate tranquilo para o percurso feito em comunhão. No final havia sorrisos cúmplices e o campo estava claramente relaxado. Do meu lugar no meio da sala dei-lhes os parabéns. Também eu sabia o meu lugar e a razão de lá estar. Eu estava ali naquele centro porque naturalmente as coisas rodavam à minha volta. Mas sobretudo eu estava ali, porque todos eles estavam onde estavam.

Raúl Melo

segunda-feira, 8 de abril de 2013

[Criminal-Forense]: Adopção por Casais Homossexuais: Sim ou Não?


A adopção poderá ser na maior parte dos casos uma experiência traumática para as crianças e as famílias: muitas crianças institucionalizadas são retiradas de ambientes abusivos e negligentes, sucede-se a perda da família biológica e a “substituição” por uma casa adoptiva (que poderá já ter a residir outras crianças), gerando maior vulnerabilidade a problemas comportamentais e emocionais nas crianças e desafios adicionais para os pais.
A adopção por casais homossexuais pertence aos tópicos polémicos, partindo desde a homofobia a preocupações reais acerca do impacto que poderá ter nas crianças, tendo em vista o superior interesse da criança, que por sua vez será superior aos direitos, necessidades ou desejos dos adultos. No entanto, o superior interesse da criança poderá também não residir numa instituição em que recursos afetivos, económicos e de tantos outros níveis poderão não estar disponíveis de modo individualizado e suficiente, prevendo-se não se suceder de igual forma numa casa adoptiva.
Não existe evidência científica credível que demonstre que os pais homossexuais organizam as suas casas de forma diferente, que são pais desadequados ou têm crianças que se desenvolvem de forma diferente do que aquelas que crescem com pais heterossexuais. Várias investigações recentes demonstram assim que pais homossexuais, sejam adoptivos ou biológicos, são tão capazes como pais heterossexuais em educar crianças ajustadas.
Já se concluiu também que uma maior rigidez nos papéis parentais, regras e dinâmica da interacção em famílias adoptivas está relacionada com maior risco de disrupção, sugerindo que a qualidade do funcionamento familiar é provavelmente uma variável mais importante. O sucesso da adopção relaciona-se com o equilíbrio de recursos existentes e factores stressantes, podendo aqui incluir-se a gestão do preconceito de que serão alvo.
A investigação também sugere que o que é de maior importância na vida das crianças não é a orientação sexual dos seus pais, mas o amor, cuidado e maturidade destes adultos, como a educação de que são alvo, de modo a tornarem-se indivíduos confiantes e seguros em si mesmos.

Ana Lopes


Para uma revisão ver:
Brodzinsky, D. & Pertman, A. (2012). Adoption by lesbian and gay man: A new dimension in family diversity. Oxford University Press.

domingo, 7 de abril de 2013

Motivações para a Psicologia: Conclusão


            Esta é a publicação que fecha a sequência das mesmas em torno das motivações que cada um tem para a Psicologia.
            O que podemos retirar, em suma, destas publicações?

            Uma coisa é certa: cada pessoa, na sua idiossincrasia, tem as suas motivações. Todas possuem motivações diversas, assentes em histórias de vida diferentes, que lhes conferem experiências significativas para a sua escolha. São estas diferenças que fazem de cada o que são, e o que serão enquanto psicólogos, reconhecendo sempre que as motivações de cada um, devem ser encaradas como válidas nessa escolha.

            É uma escolha difícil. Ser Psicólogo deve ser encarado como algo de extrema responsabilidade, não estivéssemos a falar de pessoas que lidam com pessoas. Assim, é base de pensamento que as motivações de cada um são fruto da reflexão individual, sabendo causa e consequências. Não é nunca tomada de ânimo leve.

            Que as motivações de cada um os leve a escolher o melhor caminho, no sentido de uma motivação consciente e sincera consigo próprio, e por consequente, com os outros.

            Tiago A. G. Fonseca

sexta-feira, 5 de abril de 2013

Evolução do Conhecimento do Homem


            Apesar do falecimento aos 39 anos de idade, Blaise Pascal, matemático e filósofo francês do séc. XVII, é autor de uma das frases mais icónicas das teorias da aprendizagem humana. Deixo-vos o seu pensamento.

"Ninguém é tão ignorante que não tenha algo a ensinar,
e ninguém é tão sábio que não tenha algo a aprender."

            Ao observar de forma cuidada esta reflexão podemos assumir que ela surge da conclusão de uma grande e importante etapa de vida do seu proclamador. A constatação desta reflexão demonstra um dos grandes princípios da psicologia desde a sua origem, no que diz respeito à aprendizagem. O Homem é um ser em constante mudança e evolução, dependendo esta essencialmente de dois polos de acção: o que aprende, e por isso se aperfeiçoa, cria e evolui; e o que ensina, e por isso transmite, partilha e apreende.
Nunca ninguém estará vazio de conhecimento que não possua algo a transmitir, pelo que nunca ninguém será tão ignorante que não posso ensinar algo a outro.
Nunca ninguém estará cheio de conhecimento que poderá não assimilar algo, pelo que nunca ninguém será tão sapiente a ponto de não poder adquirir conhecimento.
O conhecimento de um é a lacuna ignorante de outro. A aprendizagem é nula quando o ignorante ou o sábio se acham como tal. Aqui, a evolução pára, pois a aquisição de conhecimento ou a sua partilha, não tem lugar.

Tiago A. G. Fonseca

segunda-feira, 1 de abril de 2013

[Psicologia e Política]: Tradições

Quero trazer-vos hoje um tema sempre actual. Tradições Culturais.

            Todas as culturas as têm, mais ou menos carregadas, com mais ou menos impacto social, com mais ou menos identificação cultural, mas é certo que elas são parte integrante de cada pessoa, integrada na cultura a que pertence, definindo-a e distinguindo-a entre sociedades.
            A imagem seguinte mostra uma tradição de grande história em Portugal, comparando a sua imagem de marca “tradição” com outras presentes num passado.

 


            Antes de mais quero esclarecer que não importa aqui a minha posição face às tradições mencionadas. Importa levantar algumas questões psicológicas que interferem na nossa posição face a essas tradições.

            Sabe-se que desde sempre existiu necessidade de passar às gerações seguintes o conhecimento das gerações anteriores. Isto acontece devido à noção da mortalidade do Homem, e faz-se através da realização de actividades que promovam a identificação dos povos. Com estas práticas, os conhecimentos e costumes de uma sociedade são transmitidos, e é assegurada a continuidade de uma tradição, de uma cultura, de uma sociedade. Podemos dizer que será tão mais duradoura uma população, quanto mais tempo souber preservar as suas tradições, os seus costumes e a sua cultura.

            Com o avançar do tempo surgiu uma questão moral associada às tradições: algumas delas têm impacto directo nas diferentes opiniões da população, dentro de uma mesma cultura.
            A associação directa a este fenómeno tem a ver com o avançar dos tempos e a disponibilidade da informação a todos elementos de uma população, que cria algo impensável há muitos, muitos anos: dentro de uma mesma população, com uma mesma cultura, existem diferentes opiniões, que se reflectem em diferentes visões de uma mesma tradição.
            O que é motivo de orgulho para uns, não é para outros. O que é alvo de identificação para uns, não o é para outros.

            Mas então, o que acontece em termos psicológicos? O que leva a mudanças nas tradições? O que leva à sua manutenção?
O que deve ser ponderado é o que pesa mais na nossa opinião. O que é de mais fácil aceitação. O que nos trás mais motivos de orgulho no que somos e no que pertencemos. O que nos dá mais momentos prazerosos.
Muitas das vezes, o que pesa nestas premissas é o hábito e o medo de mudança, e não a actividade em si. Como será se for diferente?
Outra dificuldade é na visualização da possibilidade. Dá para ser diferente?

Importa agora pensar que tradições queremos – e devemos – passar Às futuras gerações. Este pensamento é demonstrado quando vemos as outras tradições apresentadas na imagem. Umas desaparecem, outras modificam-se e outras mantêm-se.

O esquema psicológico onde nos movemos diariamente é o mais fácil. Mudar custa. Sejam tradições, sejam simples comportamentos idiossincráticos, que de simples, pouco têm.
Existem vários tipos de elos que nos unem enquanto pessoas de uma mesma sociedade, enquanto pessoas de uma mesma cultura, de uma mesma população. Somos da mesma vila, da mesma cidade, do mesmo país, falamos a mesma língua, temos a mesma formação, somos do mesmo clube. As actividades tradicionais unem estes grupos e dão-lhes – mais e maior – significado.

Tiago A. G. Fonseca