sexta-feira, 30 de novembro de 2012

[Educação e Orientação]: Orientação em Portugal (2ª Parte)


… Em Portugal, tudo começou em 1925 com a criação do Instituto de Orientação Profissional (IOP) pelo Decreto-Lei nº 10986 de 31 de Julho. Nos primeiros anos, a história do IOP confunde-se com a do seu primeiro diretor, António Sena Faria de Vasconcelos (1925-1939). Do ponto de vista conceptual, o IOP seguia um modelo de emparelhamento que, até à época, constituía a inspiração da Orientação Profissional. Segundo Vasconcelos a Orientação “consiste em escolher a profissão ou grupo de profissões que mais convêm a um indivíduo, às suas aptidões físicas e mentais diagnosticadas mediante uma série de exames apropriados, tendo em conta não só as exigências características da profissão mas também as condições do mercado de trabalho[1].
O IOP foi, até 1983, a única instituição responsável pela orientação. A partir desta data o Ministério da Educação coloca psicólogos nas escolas cuja intervenção é coordenada pelas Faculdades de Psicologia e de Ciências de Educação das Universidades de Coimbra, Lisboa e Porto. A prioridade da intervenção incide no apoio à implementação dos projetos dos alunos de via Técnico-Profissional, então criada, e na Orientação Escolar e Profissional dos alunos do 9.º ano de escolaridade.
Mais tarde, o Decreto-Lei nº 190/91 de 17 de Maio regulamenta o estipulado na Lei de Bases (1986), criando os Serviços de Psicologia e Orientação (SPO), que passa a integrar Psicólogos, Professores Conselheiros de Orientação Escolar e Profissional e Técnicos de Serviço Social. Este serviço existe, ainda, nas nossas escolas.

O SPO tem um âmbito de intervenção alargado no contexto escolar, destacando-se as seguintes áreas:
- Orientação Escolar e Profissional
- Apoio Psicológico e Psicopedagógico
- Aconselhamento/Consultoria à Comunidade Escolar
- Atividades de Formação
- Desenvolvimento de projetos

João Baptista


[1] Faria de Vasconcelos, A. S., Boletim do IOP, 1928, p. 16.

quarta-feira, 28 de novembro de 2012

[The Naked Lunch]: SmartShops: Serão assim tão smarts?


Que são smartshops? São lojas que vendem drogas legalmente como se fossem produtos naturais – incensos, fertilizantes, cultivo… Estas são apenas algumas das categorias que encontram ao entrarem no site de uma das várias smartshops existentes. Isto até poderia ser algo “inofensivo” não fosse o desconhecimento acerca de muitas destas substâncias. Se um utente der entrada num serviço de saúde com uma intoxicação por álcool ou uma overdose de heroína, saberão como o tratar. Quando se dá entrada com alterações por uso de um desses “fertilizantes” a coisa já é outra.
Um dos aspectos mais grave desta situação é que estas lojas estão por aí ao alcance de qualquer um, legalmente, com os produtos sujeitos a 23% de iva! A própria descrição que vem na embalagem de um destes “fertilizantes”, “incensos”, etc diz “produtos não destinados ao consumo humano”.
Actualmente já são conhecidos casos de intoxicação com substâncias compradas nas ditas smartshops, mas em termos legais pouco ou nada se pode fazer. Ao provar-se que o produto tem malefícios apenas poderá ser tirado do mercado mas rapidamente aparecem mais 20 ou 30 novos sem qualquer tipo de avaliação/controlo.
Eu até consigo perceber que se queira experimentar umas coisas novas, beber uns copos... Se calhar por defeito de profissão vi tanta gente a sofrer por causa da dependência de álcool, surtos psicóticos em jovens por causa de um charro… que me assusta ver a leveza com que esta situação das smart shops está a ser (não) gerida.
Pouco ou nada sabemos sobre estas substâncias. Como profissional de saúde confesso um certo receio das surpresas que os produtos destas lojas inteligentes nos possam trazer.
Acham os meus receios infundados? Já experimentaram alguma destas substâncias? Conhecem algum caso de intoxicação?

Esperteza onde nos levas?

Ana Nunes da Silva

segunda-feira, 26 de novembro de 2012

[Psicologia e Política]: Um dos Dois...


            Ultimamente, muito se tem falado de opções. Este Governo, o anterior… qual? Será que existem apenas estas duas opções? Certamente não será assim. Pelo menos, no que diz respeito às opções existentes.
            Em Junho do ano passado, nas últimas eleições legislativas em Portugal, concorreram 17 partidos/movimentos. Mas nos últimos 36 anos da nossa história, apenas 2 partidos, votados por maioria, e outro, na forma de coligação, tiveram funções governativas. Se sempre existiram outras opções que não estes 2 (3), porque são sempre estes os escolhidos? A resposta pode ser dada de forma científica.
            Tendo em conta uma população de 10.555.853 habitantes em Portugal, onde 9.624.354 podem votar (o que é impossível, mas será tema para outros fóruns, certamente!), e 5.585.054 o fizeram efectivamente, podemos partir do princípio que a amostra é normal e representativa do universo em causa. E sendo assim, esta população pode ser descrita numa Curva de Gauss. Esta curva descreve a distribuição normal de uma determinada população, e pode ser a explicação para a escolha partidária governativa. A imagem a baixo mostra a dita curva e suas percentagens, gerais.
            Com isto quero dizer que podemos distribuir a população ao longo da linha horizontal da Curva de Gauss, associando a ponta esquerda à esquerda partidária, e de igual forma, a ponta direita da linha à direita partidária. O centro da linha irá representar a divisão (ilusória) entre a esquerda e a direita partidárias.

            Em termos políticos (como em tudo o que a ciência e a psicologia, de forma mais específica, podem estudar) as pessoas tendem a encontrar-se nas posições centrais, mais abrangentes, do que nas posições mais direccionadas aos extremos, onde existirão menos indivíduos com a percepção direccionada nesse sentido. Esta poderá ser a explicação para que um partido, votado por maioria, possa perder a popularidade quando adopta atitudes e comportamentos de um dos extremos, existindo ai menor número de indivíduos que o percepcionem como normal. Esta pode ser também a razão para os partidos ditos de direita ou ditos de esquerda se entenderem melhor entre si do que com outros, mais afastadas de si na tal linha horizontal.
            É de admitir que estas percentagens são variáveis de ano para ano, de situação para situação, de contexto para contexto, mas é importante ter em conta que estas percentagens variam de forma mais severa com situações marcantes e pesadas na história local, como por exemplo, a crise actual. A imagem a baixo mostra a dita curva com exemplo da distribuição dos partidos com assento parlamentar.

 
            Por fim, relembro que a esta linha, no que toca a política, têm der acrescentadas variáveis, como a situação socioeconómica, a zona habitacional, os contextos históricos, etc. Mesmo assim, parte-se do princípio que estas variáveis já pressupõe uma distribuição normal de igual forma pela população.    

             Na próxima publicação, irei aprofundar um tema consequente a este, onde as percepções dos indivíduos se dividem também e mostram as suas preferências.

Tiago A. G. Fonseca

sábado, 24 de novembro de 2012

Realidade e Percepção


Realidade e Percepção: Dois Amigos Lado a Lado

Disse Bandura que mais importante do que a realidade em si, é a forma como a percepcionamos, pois essa é que é a nossa realidade.
É com esta percepção que vivemos, influenciando o mundo e sendo influenciado por ele. Não com a realidade. Essa não é universal, pois, uma vez mais, depende da percepção de cada um. Assim, cada individuo tem a sua própria realidade. Não obstante de que, em termos universais, existe uma realidade onde nos inserimos todos e que contêm as formas do mundo, as suas regras, a sua cultura, os seus hábitos e costumes.

O nosso mundo - a nossa realidade - apenas vai até onde o deixarmos ir, no sentido em que apenas percepcionamos o que estivermos dispostos e capacitados a percepcionar. Dispostos no sentido do nosso estado de espírito, forma psicológica, motivação, situação, sentimentos, emoções e sentimentos envolvidos. Capacitados no sentido da nossa adaptação ao mundo, das nossas experiências desse mundo, das nossas bases psicológicas para esse mundo.

De qualquer forma, e apesar das variáveis, uma coisa parece ser certa: ao limitar o nosso pensamento a um factor ou variável, arriscamo-nos a que, na sua ausência, o nosso pensamento se torne limitado. É preciso estar disposto a perceber bem e é necessário estar capacitado para essa boa compreensão.
Só assim seremos indivíduos com uma boa adaptação ao que nos rodeia, prontos para evoluir e pensar numa realidade transformada por nós, diariamente.

De uma forma mais leviana, com algum humor, a imagem seguinte representa tudo isto.


Curiosamente, a imagem foi retirada do Google.
 

Tiago A. G. Fonseca

quinta-feira, 22 de novembro de 2012

[Mudança]: MUdar


Não parece nada fácil.

Hábitos, trejeitos, expressões, tiques, posturas, perífrases, metáforas, eufemismos, silêncios, opiniões. Trabalho árduo de construção, trabalho fácil de habituação.
É assim que funcionamos ao longo da vida: primeiro, não sabemos nada, tabula rasa sedenta de vontade de integrar. Nesta altura desenvolvem-se as mais refinadas estratégias de acomodação e assimilação, entenda-se isto como um passo crucial na integração da novidade (que por esta altura deve ser tudo). Posteriormente, a confiança aumenta e também a selecção do que queremos apreender fica mais evidente.
O contexto induz-nos a gostar mais de umas coisas em detrimento de outras e isso é legítimo. O indivíduo X nasce num meio abastado e intelectualmente desenvolvido, que fomenta o gosto pela arte. Não nos iludamos: o indivíduo X começará por querer saber tudo mas posteriormente, na arrogância do desenvolvimento, tenderá a escolher o que vai ao encontro do seu interesse, genético mas também aprendido. Se assim for, poderá ir a concertos, poderá ouvir sonatas e poderá ter amigos leitores assíduos. Tal como ele, também nós passamos pela tendência de usar o que de melhor nos cabe e que ficará automatizado. Talvez para nos pouparmos a novos investimentos intelectuais, para nos tornarmos rápidos a escolher e a depreciar, para ingenuamente considerarmos a certeza de que sabemos bem de que somos feitos.
E assim, nós, que tínhamos uma casa com dezenas de andares, que começamos bem, criativos, empreendedores, sanguessugas de informação, sabotamos a oportunidade que temos para evoluir e abrir novos caminhos. Na verdade, passamos grande parte da vida a utilizar apenas um ou dois andares da casa que somos. Porque cansa, arrisca, perturba, desestabiliza. É este o retrato que temos da mudança: "periguifica" tudo o que alcançámos, que mesmo que não seja bom, é nosso.
A mudança não tem mau carácter (passo a personificação). Apenas nos quer mostrar que não nos permitimos experimentar o máximo, quando é essa a nossa obrigação existencial.

 E assim, ao longo do desenvolvimento, sedimentamos a tendência cerebral para pensar em termos de opostos redutores: através da etiquetagem dicotómica bom/mau, feio/bonito, moral/imoral, possível/impossível. Entre outras, neste dislate criativo. Consequentemente, quanto mais se pensa em termos de conceitos divergentes, mais se desenvolvem essas redes neuronais rápidas e rígidas que corroboram o sentido polarizado dos comportamentos dos outros e dos acontecimentos.
Para MU(Dar) pede-se flexibilidade, arte de discernimento e ainda criatividade interpretativa com abertura a alternativas. Pede-se análise escrutinada, capacidade para experimentar o lugar do outro, para abandonar o juízo crítico-destrutivo e abarcar um sentido cooperativo de acção e reflexão. Pede-se pouco. Pede-se congruência com a evolução humana, biológica e social. Pede-se que consigamos isto por nós e pelos outros.
Na ausência de novas estratégias, usam-se as antigas: disfuncionais ou não. Peca-se assim quase sempre pela não mudança.

É esta a miséria que mais nos afecta, antes de qualquer outra.

Ana Rita Caldeira da Silva

quarta-feira, 21 de novembro de 2012

[Mudança]: Apresentação!

Mudança e Processos Cognitivos; Arte e Processos Cognitivos

A rubrica baseia-se em reflexões acerca da resistência à mudança evidenciada por todos nós, que tende a desenvolver-se à medida que amadurecemos cognitivamente. Tem inspiração em algumas ideias provenientes da Psicologia do Desenvolvimento e da Psicologia Cognitiva, pretendendo realçar o potencial de crescimento do qual dispomos.
É dirigido à maximização das competências individuais, visando a promoção do desenvolvimento humano e social, visto vivermos num sistema em constante interacção. Ao longo das reflexões passa-se pelo percurso desenvolvimentista humano e pela forma como a maturação se mostra muitas vezes uma antítese do seu propósito: a solidificação da capacidade de investir em hipóteses virtuais, de uma forma deliberada, antecipada e estratégica.
Neste sentido, ao depararmo-nos com este paradoxo cognitivo, que se liga ao não aproveitamento de todas as competências que temos ao nosso dispor na idade madura e assim colocando em causa o que é per si o sentido do desenvolvimento, podemos colocar a questão: de que forma poderemos transformar esta tendência humana para permanecer no espaço seguro, não fazendo jus ao que nos torna únicos no nosso Ecossistema?
Não é pretendido falar apenas em mudança, mas sim mencioná-la como uma forma de interagir com os outros, de alcançarmos metas tendo em vista um bem individual mas também social. Nenhum homem é uma ilha e desta forma cabe-nos a nós objectivar, delinear e executar as pontes que nos interligam.
Também serão partilhadas reflexões que se baseiam na arte como ponto de mudança, de desenvolvimento individual e social. Sobretudo, arte como motor de criatividade, exploração de alternativas e desenvolvimento dos processos cognitivos individuais e do processo social que nos envolve.
Estas rubricas misturam-se nos seus sentidos: a mudança permite o caminho para a arte, para o que de novo podemos desenvolver, com o que de nós podemos sempre ser. Arte permite mudança, por acordarmos em novos rumos.

Ana Rita Caldeira da Silva

terça-feira, 20 de novembro de 2012

Formação da OPP para os Membros Estagiários

            Caros leitores, estou a realizar a formação da OPP para os seus Membros Estagiários e decidi partilhar convosco esta experiência. Assim:

O que é afinal a formação destinada aos Membros Estagiários a realizar estágio profissional da OPP?

Na minha opinião a Ordem dos Psicólogos, conceptualmente, tem como principal objectivo a regulação da profissão. Acredito que se trata de uma missão de extrema importância e como tal, quando acreditamos em algo, devemos tentar envolvermo-nos e dar o nosso contributo. Assim, ainda que nesta fase inicial seja impossível não identificar inúmeras lacunas, não consigo ficar de fora, assumindo uma posição meramente critica, desprovida de qualquer contributo construtivo. Tendo isto em mente, estou na parte final do processo de acesso à ordem, tendo iniciado esta semana o curso de formação associado aos Estágios Profissionais da Ordem dos Psicólogos Portugueses em Lisboa, destinada aos Membros Estagiários a realizar estágio profissional da OPP.

Neste momento já assisti a mais de 10h de formação e tenho que admitir que todo o meu cepticismo inicial têm-se gradualmente transformado num crescente interesse e curiosidade, não só pela formação em si, mas acima de tudo pelas mais variadas áreas de actuação da psicologia. Mais precisamente, o módulo de Ética e Deontologia, ao invés do tédio teórico esperado, revelou-se num momento muito interessante, onde foram debatidos dilemas éticos que podem surgir no dia-a-dia de cada um de nós.

Para terminar, gostava de comunicar a minha total disponibilidade para esclarecer questões associadas a esta mítica formação, assumindo desde já o compromisso de utilizar futuras publicações para partilhar a minha experiência nesta etapa do acesso à ordem dos psicólogos que todos nós, ou já passamos ou ainda vamos passar.

Inês Lemos

domingo, 18 de novembro de 2012

Motivações para a Psicologia #01


            Para esta primeira publicação sobre Motivações para a Psicologia, perguntei a dois alunos do 1º ano do Mestrado Integrado em Psicologia, de duas instituições diferentes, uma simples pergunta:

Psicologia. Porquê?
 
Eis as respostas:

·        André Ferreira, 1ºAno, Mestrado Integrado em Psicologia, Faculdade de Psicologia da Universidade de Lisboa;
Essencialmente o que me fascina é o comportamento humano e as respostas que damos perante as situações. Sempre gostei de observar o que as outras pessoas fazem e é esse o porquê de ter optado por psicologia.”

·       Ana Margarida Monteiro, 1ºAno, Mestrado Integrado em Psicologia, Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade do Porto;
Para além de ter sido uma escolha a nível pessoal, a Psicologia é a forma mais humana de ajudar as pessoas que estão à nossa volta e compreender as suas atitudes.. sempre me fascinou o poder dar uma 'nova' vida a uma pessoa! Sei bem o impacto que um BOM psicólogo pode ter na vida de uma pessoa e eu quero fazer de tudo para ter esse impacto na vida de outras pessoas. Tenho imensa pena que os psicólogos estejam no patamar que estão na sociedade devido a meia dúzia que se for preciso nem sequer sabem distinguir emoções de sentimentos, mas enfim.. espero que isso mude, porque há muita coisa em questão nesta profissão, não é apenas dizer meia dúzia de palavras e já está ! Não foi o meu sonho de criança, mas sim o meu verdadeiro sonho que me levou a desistir de outro curso, porque sabia que onde queria estar era aqui! Espero que todos os futuros profissionais (incluindo eu, espero) tenham o mesmo sentimento e orgulho no que vão exercer no futuro!

Caros alunos do 1ºAno que nos seguem, quais as vossas motivações para irem para Psicologia?

Tiago A. G. Fonseca

sexta-feira, 16 de novembro de 2012

Competências Sociais e Pessoais, por Raul Melo

         Desafiei o Dr. Raul Melo, sócio fundador da ARISCO, Psicólogo Clínico e um dos criadores dos Programas de Promoção de Competências Sociais e Pessoais “Aventura na Cidade” e “Eu e os Outros”, a responder à seguinte questão:

De que forma conseguimos estimular mudanças comportamentais, em crianças e adolescentes - e correspondentes mudanças cognitivas -, através da utilização de programas de promoção de competências sociais e pessoais?

Eu acredito que os contextos em que nos movemos e em que crescemos (até morrer) reforçam em nós papéis e competências que nos tornam simultaneamente especialistas e ignorantes. Saber muito bem ser alguma coisa faz com que todas as outras coisas sejam vistas como uma fuga ao porto seguro que é agarrar-me à minha especialidade. É por isso que temos adolescentes especialistas em gerar a confusão, peritos em desafiar, mestres na oposição. A maior parte das vezes o contexto reforçou esta especialidade destacando o adolescente em função dela, "Se não posso ser o melhor dos melhores que seja o melhor dos piores".

O desenvolvimento de competências sócio emocionais remete-nos para um plano de descoberta de outras especialidades. É uma descoberta guiada, em contexto protegido onde a experimentação não está envolta no receio de consequências por um rotundo falhanço. Em alguns casos, quando é possível dar ao programa um formato jogado, a experiência é brincada envolta no faz de conta que tanto nos protege desde miúdos. Mas não pode ser um jogar por jogar. É um jogar com uma plateia que devolve um aplauso ou um confronto de ideias quando a coisa não corre tão bem. É um jogar com hermenêutica onde os conceitos dos adultos são descodificados para uma linguagem da acção, mais próxima, tornada pertinente pela necessidade e pela identificação com a personagem em jogo. Finalmente é também uma construção de uma narrativa alternativa onde se pode ser protagonista de uma história diferente, metáfora da história de todos os dias.

É assim que vejo o desenvolvimento de competências, não como o programa mecânico de ensinamentos que te tornam mais certinho, mas como algo que cresce do desejo de experimentar ser diferente, com o direito à opção e ao respeito.

Raul Melo, sócio fundador da ARISCO, é Psicólogo Clínico. Trabalha actualmente no Serviço de Intervenção nos Comportamentos Aditivos e nas Dependências do Ministério da Saúde, onde desempenha também funções no Conselho de Coordenação dos Estágios da Carreira. Além disto, é Secretário Permanente do Fórum Nacional do Álcool e Saúde.
 
Tiago A. G. Fonseca

quinta-feira, 15 de novembro de 2012

Parceria: Processo(s)

           Anunciamos assim mais uma parceria, desta feita com o projecto Processo(s), um “Projecto Artístico de Desenvolvimento Social”, da responsabilidade de Ana Rita Caldeira (autora no Psicologia Para Psicólogos), Bruna Alves (autora no Psicologia Para Psicólogos) e Miguel Ramos.
            Visitem a sua página no facebook para mais informações.

Psicologia Para Psicólogos

quarta-feira, 14 de novembro de 2012

[The Naked Lunch]: Consumos Problemáticos?


Mantendo-nos à volta do álcool, e uma vez que já usei a expressão anteriormente, parece-me importante esclarecer o que é um consumo moderado.
Para quem está a pensar “é beber e ainda ser capaz de fazer o 4” desengane-se! Este não é um conceito fácil de transmitir na medida em que a expressão transmite ideias diferentes para pessoas diferentes. É comum ser associado ao que é socialmente aceite beber e até é uma expressão usada em nota de roda pé nos anúncios a bebidas com álcool “deve beber com moderação”. Mas usualmente não é explicado o que significa. A denominação consumo moderado foi inclusivamente recentemente alterada para consumo de baixo risco, na medida em que a partir do momento em que se ingere uma bebida com álcool há um risco acrescido.
Para a população adulta, baixo risco significa uma quantidade máxima diária de 2 bebidas padrão ou 20 g* de álcool puro para os homens; quantidade que após os 65 anos deve ser reduzida para 1 bebida padrão ou 10g* de álcool puro.
Para as mulheres beber moderadamente significa 1 bebida padrão ou 10g* de álcool puro em qualquer idade.
De salientar que esta definição se refere à quantidade consumida num único dia e não significa a média ao longo de vários dias. Como por exemplo, beber 6 bebidas ao sábado “já tenho a minha cota da semana”.
Não devemos esquecer as exceções, como as mulheres grávidas e a amamentar, as pessoas com alterações do SNC, as pessoas que estão a fazer medicação, e as pessoas com dependência de álcool, que não deverão beber qualquer tipo de bebida alcoólica.

A Organização Mundial de Saúde classifica ainda os consumos de álcool como:
Consumo de risco - é um padrão de consumo que pode vir a implicar dano físico ou mental se esse consumo persistir.
Consumo nocivo/abuso - é um padrão de consumo que causa danos à saúde, quer físicos quer mentais. Todavia não satisfaz os critérios de dependência.
Dependência - é um padrão de consumo constituído por um conjunto de aspectos clínicos e comportamentais que podem desenvolver-se após repetido uso de álcool, desejo intenso de consumir bebidas alcoólicas, descontrolo sobre o seu uso, continuação dos consumos apesar de consequências gravosas, uma grande importância dada aos consumos em desfavor de outras actividades e obrigações, aumento da tolerância ao álcool (necessidade de quantidades crescentes da substância para atingir o efeito desejado ou uma diminuição acentuada do efeito com a utilização da mesma quantidade) e sintomas de privação quando o consumo é descontinuado.

Por vezes as pessoas ficam um pouco chocadas com as quantidades para um consumo de baixo risco, porque são muito abaixo do que é socialmente aceite.

Qual a vossa opinião/posição face aos consumos de álcool? Já tiveram algum episódio mais desagradável com álcool, pessoalmente, ou com amigos? Já quiseram ajudar alguém com descontrolo ao nível dos consumos e não souberam como?
Se têm dúvidas acerca do vosso padrão de consumo podem usar um auto teste – AUDIT – que permite um despiste rápido do tipo de consumo.

Tenham uma boa semana. Ah! E se conduzirem não bebam! Ou vice-versa!

Ana Nunes da Silva
 
*Conversão do volume de álcool em gramas
Podemos converter qualquer volume de álcool em gramas seguindo a seguinte regra: cada mililitro de álcool , tem 0.8g de álcool puro.
Exemplo: I l de vinho de 12º = 120 ml de álcool
120 ml x 0.8 (factor de conversão ) = 96 gramas
Não esquecer que bebidas com mais graduação terão mais gramas de álcool por litro!

segunda-feira, 12 de novembro de 2012

[Psicologia e Política]: Comunicar em Politiquês


Paralelamente aos temas actuais do quotidiano do país – e falo da dita crise financeira, e claro, da tão falada visita de hoje que nos foi feita pela Chanceler Alemã - muito se tem falado sobre o afastamento das pessoas face à classe política.
Podemos discutir as razões para este afastamento, desde algumas razões muito óbvias até outras mais remotas. Mas trago-vos a que me parece ser a que mais está ligada à percepção das pessoas face à política: a forma de comunicação da classe política.

Quando procuramos expressar-nos a alguém, temos sempre em atenção quem representa esse “alguém”. A forma como comunicamos com um familiar directo, é diferente da forma como falamos para um professor nosso, da mesma maneira que a forma como falamos para um colega de trabalho é diferente da forma em como o fazemos para o patrão. Tal como a forma como prestamos uma informação de trabalho é diferente da forma como damos um conselho ou como comunicamos algo de bom a alguém.
Significa isto que, dependendo do público alvo e do conteúdo da informação a prestar, o interlocutor tem de cuidar a forma da comunicação.
O que acontece é que a classe política, quem a população espera que lhes preste informação válida, precisa e clara, não o faz. Ou, pelo menos, assim não é percebida.
Parece que se adoptou uma nova forma de falar, como se de um dialecto se tratasse, cada vez mais vincada ao longo do tempo. Refiro-me ao “Politiquês”.

Ninguém quer participar no que não percebe.
Ninguém quererá saber do que não entende.
Ninguém irá querer compreender o que acha que não é feito para se compreender.

É necessário e obrigatório o bom entendimento do que se diz para que a boa percepção das pessoas ocorra. Só assim, estas sentirão confiança em quem comunica e, por consequência, no que por estes é realizado.
É também importante perceber que há maior percepção de risco de algo quando a percepção de controlo é menor. A maior e melhor informação sobre algo aumenta a percepção de controlo, o que baixa a percepção de risco associada.

Em suma, quanto melhor for explicado à população o que se passa e vai passar, em forma e conteúdo adequados, mais estes participam e se motivam para a mudança, num projecto que é de todos e para todos.

Tiago A. G. Fonseca

sábado, 10 de novembro de 2012

Modelo de Complementaridade Paradigmática


Já vos disse o que são, e já vos mostrei como evoluíram.

Hoje trago-vos uma teoria, o Modelo de Complementaridade Paradigmática, de António Branco Vasco, que conceptualiza as necessidades psicológicas como dialécticas, criando uma estrutura de 14 necessidades, distribuídas em sete pares dialécticos. Numa publicação futura, irei aprofundar o modelo.
Hoje, “apenas” vos apresento as necessidades por si postuladas no sentido de melhor se entender a forma como estas actuam na nossa vida e como estão presentes no nosso dia-a-dia.
São então:
·                    Prazer (tanto psicológico como físico, capacidade de desfrutar dos prazeres) e Dor (capacidade para tolerar dores inevitáveis e para atribuir significado à dor);
·                    Proximidade (capacidade de estabelecer e manter relações íntimas) e Diferenciação (capacidade para se diferenciar e para ser auto-determinado);
·                    Produtividade (capacidade para realizar feitos valorizados) e Lazer (capacidade para relaxar sem culpa associada, sentindo-se confortável com isso);
·                    Actualização/Exploração (capacidade para explorar, exposição à novidade) e Tranquilidade (capacidade para apreciar aquilo que se possui);
·                    Coerência do Self (congruência entre eu real e eu ideal, e entre o que se pensa, sente e faz) e Incoerência do Self (capacidade para tolerar conflitos e incongruências ocasionais);
·                    Auto-Estima (capacidade para sentir satisfação com o próprio) e Auto-Crítica (capacidade para identificar, tolerar e aprender em função de insatisfações pessoais);
·                    Controlo (capacidade para influenciar o meio) e Cooperação (capacidade para delegar).

A imagem seguinte, adaptada de Fonseca, Vasco, Calinas, Guerreiro e Rucha (2012), mostra o explicado anteriormente.

                Tiago A. G. Fonseca


Referências Consultadas:
·                     Fonseca, T.A.G., Vasco, A. B., Calinas, L., Guerreiro, D., & Rucha, S. (20 de Abril de 2012). Necessidade Psicológica de Controlo/Cedência: Relação com Bem-Estar e Distress Psicológicos. Comunicação apresentada no I Congresso Nacional da Ordem dos Psicólogos Portugueses – Afirmar os Psicólogos – Lisboa.
·                     Vasco, A. B. (2009a). Sinto, Logo Também Existo! Comunicação apresentada no III Seminário Espaço S 2009 – Emoções e Juventude – Abordagem Psicológica das Emoções – Cascais.
·                     Vasco, A. B. (2009b). Regulation of Needs Satisfaction as the Touchstone of Happiness. Comunicação apresentada na 16ª Conferência da European Association for Psychotherapy – Meanings of Happiness and Psychotherapy – Lisboa.

sexta-feira, 9 de novembro de 2012

[Educação e Orientação]: Orientação em Portugal (1ª Parte)


Estamos num período de mudança, o Processo de Bolonha tem como objectivo a constituição do Espaço Europeu de Ensino Superior, permitindo a mobilidade dos estudantes entre instituições e países, o reconhecimento das suas competências, o aumento da empregabilidade e a valorização da educação ao longo da vida.
Neste contexto, o Processo de Orientação em Portugal torna-se cada vez mais importante, numa 1ª fase, no final do 9º ano para a escolha da área no secundário, e posteriormente no 12º ano para a opção do curso no Ensino Superior.

Não querendo dar nenhuma aula de história ou assustar os leitores, mas tenho de fazer uma pequena referência sobre a evolução do conceito de orientação. Já na antiga Grécia, aquando da descrição da sociedade ateniense Platão utilizou o termo para referir a existência da divisão de funções e trabalho entre diferentes indivíduos e classes. Mais tarde, Montaigne, pensador francês (século XVI) no seu “Essais” mostra a sua preocupação pela dificuldade em conhecer as inclinações naturais dos meninos e o risco de os orientar incorrectamente na eleição da sua profissão. No entanto, o grande marco dá-se no início do século XX, nos EUA, quando Frank Parsons cria em Bóston o chamado Vocational Bureau, em que pretendia ajudar jovens desfavorecidos e emigrantes na procura de emprego. O seu objectivo era consciencializar o indivíduo para as suas aptidões e encontrar o trabalho mais adequado.

É a partir deste momento, que se dá o início da orientação vocacional das pessoas, este movimento alastrou-se pela europa e levou o conceito a evoluir passando por várias fases: vocational guidance, career guidance e career education.
Em Portugal…

João Baptista

quinta-feira, 8 de novembro de 2012

[Educação e Orientação]: Apresentação!


Olá para todos!

Tenho por hábito dizer que a minha praia é a Orientação, no entanto, gosto de passear pela Educação, por isso aceitei o desafio de dar a conhecer, um pouco mais, do que é feito nesta área da Psicologia em Portugal. Proponho, assim partilhar os conhecimentos, preocupações e desafios para o Psicólogo Educacional.

Peço-vos que participem neste debate de ideias.

Conto com vocês todos!

João Baptista

terça-feira, 6 de novembro de 2012

[Criminal-Forense]: Vítimas de Violência Doméstica: Porque é que Não Saem Porta Fora?

Vítimas de violência doméstica: Porque é que não saem porta fora?

No meio de uma conversa sobre violência doméstica ou mesmo ao ler uma notícia no jornal, esta pergunta já pode ter passado algumas vezes nas nossas cabeças: se é tão horrível – como acreditamos que realmente é - porque é que não se vai simplesmente embora? A resposta é “não é assim tão simples”. Mas porquê?
Supõe-se que todas as relações se iniciem com uma fase de encantamento, o que não será diferente nos casos de violência doméstica – a agressão física não se inicia ao mesmo tempo que a relação, mas é sim gerada por um ciclo gradual.
Desde o início será possível reparar em certas características do ofensor, como um comportamento controlador: o levar/trazer constante do local de trabalho/escola e as “esperas surpresa”; o controlo das chamadas, contacto e visitas de amigos e familiares; o “cuidado” com a forma de vestir do/a companheiro/a… Tudo em bom nome dos “ciúmes” – que parecem ser tão engraçados ao início. Passado um tempo, estes acontecimentos agravam-se e a violência psicológica sucede-se quando existem táticas de isolamento dos amigos e familiares, atitudes intimidatórias, ameaças e perseguição. Verifica-se a subvalorização das capacidades e actividades da vítima, privando-a assim da sua auto-estima e tornando-a insegura e controlável - passando também pela violência económica (impedi-lo/a de trabalhar ou controlar o ordenado). A vítima acaba assim por ser responsabilizado/a pelas tensões originadas pelo agressor e quando se começa a “rebelar”, sucede-se a agressão física, impedindo-o/a de reagir, ou agressão sexual (normalmente nos casos mais graves). Nesta etapa, o agressor manifesta arrependimento, prometendo que não vai voltar a ser violento/a e fazendo com que regressem, mais uma vez, à fase de encantamento.
Este ciclo contínuo gera confusão e medo na vítima devido à simultaneidade da imprevisibilidade da violência e crença no falso arrependimento do companheiro/a. Escusado será dizer que se complica quando existem crianças, consumos de substâncias e dificuldades económicas.

Ana Lopes

domingo, 4 de novembro de 2012

Motivações para a Psicologia


Motivações para a Psicologia

Para um psicólogo, o que move uma pessoa é algo importantíssimo. As suas razões, as suas percepções e as suas avaliações. Relações de causa-efeito entre as suas experiências de vida e o seu presente. O que faz dela o que é.

E para os psicólogos? O que nos move? Quais são as nossas motivações?

Estas são as perguntas que viso obter num conjunto de textos, publicados sempre que for possível – tendo em conta os testemunhos dos intervenientes – sobre quem escolhe psicologia como futuro, quem continua a apostar nela, quem escolhe áreas tão distintas dentro da psicologia, quem exerce e quem faz as suas actividades para exercer.

Agradecemos desde já a todos os que contribuíram com as suas opiniões para este conjunto de publicações!

Dêem as vossas opiniões. Contamos com elas.

Tiago A. G. Fonseca

sexta-feira, 2 de novembro de 2012

[Temporário]: O Trabalho Temporário

O país (e o mundo) enfrenta níveis de desemprego elevados. As empresas recusam-se a contratar pessoas para os seus quadros; é neste contexto que as empresas de trabalho temporário (ETT) podem ser uma mais-valia. Para as empresas significa terem trabalhadores sem terem todos os encargos que isso envolve. Para as pessoas, significa ter trabalho, mesmo que por pouco tempo ou por um período indeterminado.
Contudo, os contratos de trabalho temporários, devido à natureza temporária dos mesmos, tendem a despertar percepções de insegurança laboral. No entanto, a realidade é que nos tempos que correm um contrato de trabalho é tão volátil quanto um contrato de trabalho temporário. Além disso, há contratos de trabalho temporários que podem durar vários meses e até mesmo um ano. Ora, temporário torna-se então relativo.
De acordo com a International Confederation of Private Employment Agencies, a possibilidade de uma pessoa conseguir um emprego depois de ter sido trabalhador temporário aumenta 60%, ou seja, uma experiência como trabalhador temporário aumenta a empregabilidade do indivíduo. Por isso, se procura trabalho e não encontra, considere as agências de trabalho temporário como uma hipótese.

Mafalda Espada