O
corpo é a nossa morada.
Quando
pensamos no processo preventivo, necessariamente em algum momento damos
connosco a pensar o corpo que ocupamos, como ele nos preenche e nos limita,
como o vemos e como nos vemos através dele.
A
comunicação que estabelecemos connosco próprio através do corpo é incrivelmente
importante para uma plena consciência de nós e é tão frequente não estarmos
atentos, não valorizarmos a insónia, a dor de estômago, o maior ou menor
apetite, a dor no peito, na cabeça… na alma.
Não é obrigatoriamente um tema
adolescente, porque a nossa relação com o corpo é transversal ao longo de toda
a nossa vida. Numa primeira fase é
porque não é suficientemente grande, depois é porque tem borbulhas, ou porque
não é suficientemente largo, é demasiado volumoso ou pouco atraente. Depois é
porque nem sempre aguenta o que queremos que aguente, dá sinais de fragilidade
que antecipa a aproximação do envelhecer. Aí entram as rugas, o maior cansaço,
o esquecimento e coisas que tais.
Mas ao mesmo tempo o nosso corpo é
a nossa morada. É onde
recebemos os amigos, onde nos refugiamos quando estamos tristes, onde fazemos
experiências e onde trabalhamos. Por
vezes pode ser um espaço abandonado, a precisar de obras ou reparações. Mas o
mais fascinante é que é também um espaço onde guardamos segredos com mais ou
menos mistérios, com interditos e recantos sombrios a que não damos acesso a
ninguém.
Onde
localizaríamos esses espaços no nosso corpo. Esta é a pergunta de uma dinâmica
simples onde cada um pensa em partes do seu corpo e lhe atribui uma função como
se de uma casa se tratasse. Qual é a sala de visitas? Onde trabalho? Onde me
escondo? Onde descanso? Onde escondo os meus segredos? Com recurso ao desenho
ou com base simplesmente na reflexão, exploram-se significados no nosso corpo.
“Eu recebo os meus amigos nos olhos”. “Eu não. Eu acho que é nas mãos, por
causa do toque”. “O meu segredo está na barriga”. “O meu é a boca quando a
fecho”. Há algum espaço da casa a precisar de reparações? “Sim os meus olhos.
Ando a ver mal” “Sima a barriga. Estou gordo”, “Sim a minha cabeça. Ando a
bater mal”.
Simbolizar
o corpo é reduzir a relação automatizada que frequentemente temos com ele, ver
para além da máquina que não pode falhar, descobrir outras funções para além do
veículo que nos leva aonde queremos ir. Como
cuidas da casa que habitas?
Raúl
Melo
1 comentário:
Adorei! :-)
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