quarta-feira, 20 de março de 2013

[The Naked Lunch]: Da Cannabis Passa-se para a Heroína


“Da cannabis passa-se para a heroína e depois acaba-se a vida!”

Depois do post anterior quase que me apetecia ter só testemunhos de pessoas que estão em ou fizeram um processo terapêutico. Espero em breve poder trazer-vos outros testemunhos. Se alguém se quiser voluntariar e enviar anonimamente o seu testemunho pode sempre fazê-lo através do e-mail do blog.

Desde já peço que não se assustem com o título do post. Andava aqui a pensar sobre o que escrever, sendo que o mês passado andámos focados nas permissões e nas proibições, e lembrei-me desta frase. Confesso que não me lembro onde a ouvi, mas lembro-me de a ouvir quando era miúda e da confusão que esta ideia ligada ao consumo de droga gerava. A ideia era que basicamente a pessoa experimentava um cigarro de haxixe e a partir daí já não conseguia parar e posteriormente passava para as drogas ditas “pesadas”. A realidade é que as coisas não se processam dessa forma e dava-se o caso de isto ser dito com o objectivo de evitar consumos, mas só gerava confusão. Porque efectivamente havia pessoas que experimentavam um cigarro de haxixe e não se sentiam “agarrados” e pensavam “ah então até posso experimentar outra droga, que isto não é nada como dizem praí”.
Penso que muito se evoluiu desde aí, tanto ao nível da prevenção, como ao nível das campanhas de redução de risco e minimização de danos. Cada vez mais é necessária uma diferenciação no que concerne aos efeitos e riscos das diferentes substâncias e não colocá-las no mesmo saco. A própria forma como se tratam/abordam os consumidores também deve ser diferenciada, tendo em consideração que o uso/abuso/dependência de drogas e os seus significados são diferentes de individuo para individuo, e mais diferentes serão em diferentes épocas e diferentes culturas. Possivelmente é isto que acaba por tornar a intervenção da psicologia tão importante neste contexto. E se isto parece algo básico, implica algum trabalho, conhecimento das próprias substâncias, não se deixar levar por preconceitos e acima de tudo estar consciente e disponível para abraçar a complexidade e riqueza que é ser humano.
Apesar da prevenção não ser apenas veiculada pelas palavras, convenhamos – as palavras e a forma como comunicamos têm um impacto gigante nos dias que correm ainda por cima numa era em que estamos todos interconectados à distância de um click.

Façam bom uso das vossas palavras!

Ana Nunes da Silva

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