quinta-feira, 31 de janeiro de 2013

[Mudança]: "Ceci n´est pas un Neurone"

O Desenvolvimento Social através da Arte: Co-construção e Complementariedade

Esta arte - a que vemos, - não é a mesma. Não é a que eu vejo e você, aqui perto, consegue ver. Mas é a mesma estrutura, o mesmo espaço e o mesmo tempo. Então porque é que esta arte não é também una na forma como a integramos?

Pois bem, porque sozinha não tem sentido, nem interpretação. Porque precisa de cada um, e cada um dela, para ter de facto existência e semântica. Parece pretensioso?

Lembra-se quando Magritte afirmou, perante a imagem convencional de um cachimbo, "ceci n´est pas une pipe" (1928-29)? Pode ter sido um pedido ao Homem-Artista para parar de ambicionar representar a vida tal como ela é e as coisas tal como são, num realismo absurdo e inatingível.
Foi um pedido ao Homem-Artista para admitir que é um Zé-Ninguém quando fala, quando se move, quando executa; que só em conjunto com a obra terá algum significado, significado esse que nunca será o mesmo aqui, ali ou além; nunca será exactamente o mesmo para mim, para si e para o Homem-Artista. É disso que vive a magnitude do significado de arte: tê-lo de todas as formas, quantas aquelas em que existimos.
Isto levanta uma celeuma assustadora, bem sei. Então não é possível perceber a arte da mesma forma? Ficaremos destinados ao sulco inevitável, ainda que por vezes ténue, que existe entre a minha interpretação e a sua interpretação? Sim. Lamento. Mas não é isto que buscamos? Diga-me uma peça de arte que tenha esgotado os seus significados e que tenha, num momento impávido, tido o mesmo para Fulano e Beltrano? Nenhuma, pelo menos a intemporal. Porque essa, vive preparada para rearranjos e ajustamentos ao contexto e aos novos olhos; os que nascem. Tal como nós - pensamentos e movimentos em sociedade.
Porque "Guernica" (Picasso, 1937) do séc. XX não é a mesma do séc. XXI e é precisamente isso que a torna sempre nova e emocionante. Porque nós, as nossas emoções e as nossas narrativas não são as mesmas hoje, amanhã e depois; a interacção é sempre diferente, entre obra-pessoa e pessoa-obra. Restamos assim, subjugados a este jogo de interacções que permite, aos mais audazes, tentar perceber o que o outro vê e acomodar-se à aventura de nunca o perceber.
Parece confuso, obtuso, cruelmente epistemológico. Não creio. É tão simples como pintar uma rua e percebê-la como rua. É tão simples como ler a palavra cachimbo e daí, imageticamente, termos um. Dentro dessa simplicidade -mágica- deve ser percebido que o significado que uma rua tem para mim, não terá para si, nem para os nossos filhos, daqui a quantos anos forem vida. Se percebermos isto, podemos perceber tudo sem limites e sem barreiras interpretativas. E mais então, teremos paladar para construir, com os outros, que também somos nós.
Falo agora na obra "A Culpa não é Minha" (João Pedro Vale, 2003). Também irónica, retrata a forma como podemos ficar encalhados, amarrados, petrificados, se atracarmos a criação e o "mais-além" que é Nosso, de Todos e de Ninguém. Não vou explicar a minha confusão, deixo-a assim, para a sua interpretação cuidada e objectiva. Se a arte for para o autor, não haverá arte. Se a arte for para o público, não haverá arte. Se a arte for um momento, não haverá arte. Se a arte for intocável, não haverá arte. Se a arte tiver uma data, não haverá arte. A arte não quer ser um Eu. Não quer ser um Ninguém, um Alguém; não quer ser Dela própria.
Só assim haverá arte.
Se personificarmos a arte vemo-la como uma túlipa leve, crua, devastadora. Vemo-la como Pipilotti Rist a quis, em Ever is All Over (1997), cheia de liberdade e impacto, livre de tudo e de ela própria.
Deixo-nos um conselho: não queiramos perceber nada do que digo. É apenas a minha forma de ver arte, muito diferente da sua, certamente. Deixemo-nos ver; assim. Deixemo-nos ser olhos de Pessoas, tacto que quer perceber, areia que se move unida, livro que se reescreve em todas as horas. Se for assim, será não só arte para nós, como de ninguém.

Ana Rita Caldeira da Silva
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(Imagens retiradas do google)

Nova Autora, Maria Stella Aguiar

 
É uma enorme alegria receber como nova autora, aqui do Psicologia Para Psicólogos, Maria Stella Aguiar!
Maria Stella Aguiar é Psicóloga do Desenvolvimento e da Educação, é Doutorada em Psicologia, pela Universidade Paris V–René Descartes. Foi Professora da Universidade de Lisboa, da Universidade Católica de Lisboa e da Escola Superior de Educadoras M. Ulrich. Coordenou os Gabinetes de Orientação Psicopedagógica do Colégio do Amor de Deus (Cascais) e da Escola de Educação Popular (Lisboa). Trabalha actualmente na Escola de Psicologia e de Ciências da Vida da Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias.
Poderão consultar esta informação no separador “Autores” da página do blog.
A sua rubrica terá o nome “Comboio do Desenvolvimento”, que será apresentada brevemente! Como podem deduzir, o tema central desta rubrica será o desenvolvimento humano, pessoal, cognitivo e moral.
Que seja muito bem-vinda!

Psicologia Para Psicólogos

quarta-feira, 30 de janeiro de 2013

Pilha e Maia, 2012


A dissertação de mestrado da Liliana Pilha, leitora do Psicologia Para Psicólogos, orientada pelo Doutor Luís Maia, foi publicada. Seguem as informações sobre a publicação. 

Artigo: Estudo epidemiológico sobre a saúde mental da população normativa do concelho de Elvas;
Autores: Liliana Pilha e Luís Maia;
Revista: Revista Internacional de Cultura e Ciência - Elvas Caia, nº8 – 2012;
Capa e Resumo:
(Carrega na imagem para a veres em tamanho real)
Para mais informações contactar Liliana.Pilha@Gmail.com

terça-feira, 29 de janeiro de 2013

Filmes, Livros e Psicologia


            É encontrado em livros, filmes e séries, de forma recorrente, temas relacionados com a Psicologia, suas teorias e práticas. Integram as situações onde os personagens se enquadram, moldam as suas interacções e integram o plano de fundo da sua personalidade.
            Estando estas temáticas inseridas em várias formas de lazer e entretenimento, estes temas abrangem a generalidade da população, contribuindo para o seu conhecimento e, principalmente, para a sua construção de significados em torno da Psicologia.
            Assim, no Psicologia Para Psicólogos, irão ser publicados artigos com filmes, séries ou livros, vários exemplos onde podemos encontrar Psicologia, teoria e prática, onde serão realizadas reflexões críticas sobre os mesmos no sentido de ajudar na sua interpretação, real ou não, completa ou não.
            Qualquer sugestão de que tenham sobre livros, filmes ou séries, onde seja possível encontrar elementos da Psicologia, enviem um email para nós!

            Tiago A. G. Fonseca

sexta-feira, 25 de janeiro de 2013

Motivações para a Psicologia #03


Agora, avançando no estudo dentro da Psicologia, é importante perceber o que leva as pessoas a escolherem determinadas áreas específicas. A pergunta foi:
 
Dentro da Psicologia, porquê essa área?

- Sara Frade, 4ºAno, Mestrado em Psicologia Clínica e da Saúde de Psicoterapia Cognitivo-Comportamental e Integrativa, Faculdade de Psicologia da Universidade de Lisboa:

Antes de mais, tudo partiu do desejo de ajudar as pessoas através da palavra, através da comunicação com e focada no outro.
A ponderação e posterior escolha neste núcleo de Psicologia Clínica, especificamente, advém não só do peso que a palavra “integrativo” comporta, como igualmente doutros factores. Nomeadamente, do facto de ser um ramo da psicologia clínica com vastos resultados empiricamente comprovados face a perturbações específicas, como o caso da ansiedade ou depressão. Adicionalmente, é uma área que prima pela objectividade, eficácia e foco no “aqui e no agora” referidos pelo cliente, sendo que pessoalmente, esta componente fortemente objectiva foi uma das componentes que mais me levou a tomar esta decisão. Não devemos, no entanto, nos deixar levar pelas críticas mais ou menos actuais de que esta área padece de um marcado mecanicismo, de um manual de aplicação que guia todo o processo consoante a perturbação, uma vez que na realidade tal não se verifica. Actualmente, esta área é tida como das mais modernas e eficazes na clínica, devendo tal ser tomado fortemente em consideração pelos profissionais ou aspirantes ao mesmo.
A componente integrativa, tal como já referido, tem a sua importância aquando da tomada de decisão uma vez que tanto para pessoas mais ou menos indecisas, esta pode minimizar o sentido de especificação e, principalmente, de estagnação apenas numa determinada corrente teórica e consequentemente prática. Ao termos em consideração uma componente integrativa de ensino, estamos claramente a ter noção de vários modos de actuação, de diferentes perspectivas e de consequentemente maior liberdade no sentido prático.
Mais do que uma decisão com base nos conhecimentos adquiridos ao longo dos anos de licenciatura, é uma decisão que deve ser tomada com base no que desejamos futuramente e com o que pessoalmente nos identificamos.”


Tiago A. G. Fonseca

quinta-feira, 24 de janeiro de 2013

[The Naked Lunch]: Permissões e Proibições

Que implicações têm as permissões vs proibições do ponto de vista psicológico?

Na sequência do último post sobre o eventual fim das smart shops, ou pelo menos legislação adequada, surgiu a questão de “que implicações têm as permissões vs proibições do ponto de vista psicológico?”
Inevitavelmente esta questão leva-nos a aspectos da auto-regulação, controlo e o saber fazer escolhas. Quando falamos destes aspectos podemos estar-nos a referir ao consumo de substâncias, mas também a outros aspectos da vida quotidiana, como por exemplo fazer uma dieta.
Como o tema é bastante vasto, para começar queria propor-vos algo mais experiencial focado na proibição:
Todos nós podemos fazer a experiência de deixar de comer um dos nossos alimentos favoritos e perceber o impacto que isso tem na nossa mente! Experimentem pelo menos durante uma semana não comer algo que adoram (por exemplo, chocolate!) e vão ver se o fruto proibido não é o mais apetecido! Esta pode ser uma experiência importante no sentido de se conseguir empatizar mais com pacientes com dependência de substâncias, ou até mesmo pacientes com dificuldade em deixar de fumar, ou a fazer determinado tipo de dieta.
Porque todos temos efectivamente formas diferentes de viver as situações, durante essa semana reflitam e tentem compreender o que foi mais difícil, ou fácil, e porquê. Vão com certeza perceber que nem tudo se resume a “força de vontade”…
Façam a experiência, enviem-nos os vossos comentários e daqui a 15 dias falaremos sobre isso, ok?

Ana Nunes da Silva

segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

[Psicologia e Política]: De Onde Vem a Corrupção?


            Será impossível, de forma universal, prever o porquê de alguns indivíduos sucumbirem à corrupção. As motivações são muitas e diversificadas, idiossincráticas e com origens diferentes. Oportunidade, necessidade, vício ou apenas porque se sente em bem-estar realizando-a. Tudo opções, e com certeza, cada um terá a sua.
            Deixo aqui, de forma geral, aquela que pode ser uma justificação para o início desse tipo de comportamento.

            O Modelo de Complementaridade Paradigmática (MCP; Vasco, 2009) prevê o atingir do bem-estar psicológico aquando da regulação da satisfação das necessidades psicológicas do indivíduo. Estas necessidades representam os instrumentos, promovidos pelo seu Self, que o orientam no sentido da realização de comportamentos de promoção do seu equilíbrio interno, satisfazendo as suas necessidades.
Importante será perceber que estes comportamentos podem ser adaptativos ou não-adaptativos para o indivíduo mas, quando foram realizados, tinham um papel adaptativo para a situação. Este carácter dos comportamentos varia com as motivações e expectativas do indivíduo, e é este que faz determinado comportamento ocorrer ou não.

Duas das catorze necessidades psicológicas postuladas pelo MCP são o Controlo e a Cooperação/Cedência (Fonseca & Vasco, 2011). A necessidade de controlo refere-se à capacidade de influenciar o meio, de forma adequada, realizando avaliações correctas sobre as situações, bem como seleccionar os comportamentos de controlo correcto a realizar, para si, para os outros e para o meio. A necessidade de cooperação/cedência refere-se à capacidade de tolerar partilhar o controlo pessoal e do meio com os outros, de forma a atingir objectivos comuns, cooperando com uma comunidade. Ambas as necessidades, como explicado anteriormente, possuem comportamentos não-adaptativos a elas associadas. Aqui, insiro a variável corrupção, admitindo que este tipo de actividade se baseia em comportamentos não-adaptativos de controlo e de cooperação/cedência.

A percepção de controlo de um indivíduo é uma ferramenta do próprio, para o seu bem-estar e real acção sobre o seu meio. Mas torna-se num instrumento perigoso quando ao mesmo são associadas variáveis motivacionais – cujos resultados não são adaptativos para uma comunidade – e expectativas de resultados – quando os mesmos são previstos em objectivos próprios, inversos à vontade de uma comunidade. Aqui, a percepção de controlo torna-se exacerbada, sendo irreal, mas potenciada pelos ditos factores. Com esta percepção, a tendência para a cooperação estará debilitada, sendo que os objectivos não são comuns nem identificáveis na comunidade a que pertence. A percepção de controlo é passada para essa comunidade, onde são realizados os comportamentos de corrupção, num controlo sobre a mesma.
Grave – e estamos a falar de política – é quando quem pratica este tipo de actividade está a representar uma comunidade. Isto significa que deve existir uma obrigatoriedade de cooperação e uma capacidade para a percepção de um controlo real. Isto levaria à boa acção, para si e para os outros, no sentido da acção ponderada entre o que pode e deve realmente controlar, exercendo comportamentos de acção comunitária, prestando trabalho público a favor da comunidade.

De forma não-adaptativa, estes comportamentos estimulam o bem-estar de quem os pratica. Para o próprio, estes comportamentos são adaptativos enquanto as motivações e as expectativas assim o disserem. É necessária a acção legal sobre as actividades de corrupção, no sentido de fazer ponderar motivações e anular expectativas dos praticantes.


Tiago A. G. Fonseca


Fonseca, T., & Vasco, A. B. (2011). Necessidade psicológica de controlo/cedência: Relação com bem-estar e distress psicológicos (Dissertação de mestrado). Retirado de http://hdl.handle.net/10451/4868
Vasco, A. B. (Julho, 2009). Regulation of needs satisfaction as the touchstone of hapiness. Comunicação apresentada na “16th Conference: European Association for Psychotherapy”. Lisboa, Portugal.

sábado, 19 de janeiro de 2013

[PREVENIcaNDO]: PREVENIcaNDO


As primeiras linhas que incluirei nesta rubrica vou dedica-las ao nome. O nome é o que normalmente usamos para nos apresentarmos. Carrega histórias familiares, heranças que se passam de geração em geração, curiosidades na forma como são escolhidos. Os nomes são pequenos rótulos que escondem mil e uma histórias, chamam à atenção para quem os usa, ou ao contrário, são discretos e contidos, são afectuosos ou funcionais.
Ouvi mil histórias de outros tantos nomes nas múltiplas vezes que perguntei aos elementos dos grupos que dinamizei o que sabiam do seu nome. É um exercício simples que se enquadra nos jogos de apresentação. Para além de passarmos a saber o nome dos elementos que nos envolvem descobrimos o seu sentido de humor, diferentes abordagens à exposição pessoal, o moldar do que é herdado em algo com o qual nos sentimos confortáveis, e sobretudo como diferentes partes da nossa identificação revelam – entre múltiplas combinações de nomes e diminutivos – os contextos relacionais das pessoas que os usam para nos chamar.

Escolhi para a rubrica o nome PREVENIcaNDO e é com ele que me apresento. Recebi o meu nome de um jogo de palavras entre o prevenir, o brincar e o prevaricar. Resultou da influência de uma crença de que foi através do brincar que aprendemos tudo o que nos preparou para a vida e que é através desse brincar (sério) que deveremos continuar a aprender independentemente da nossa idade. Resultou também da procura de equilíbrios entre ser certinho e o procurar rupturas, entre ser o que é visível e o ser metáfora, entre o bem colectivo e a protecção do indivíduo.
Acredito numa atitude de prevenção, não enquanto o evitamento do que pode ser um problema mas enquanto o que promove o crescimento e protege, não garantir a estabilidade mas tirar proveito do risco para ensaiar a mudança e reinventar a comunidade. Acredito numa prática psicológica que procura estancar a dor e o sofrimento no seu ponto de origem. Acredito numa abordagem integrada do mal-estar onde os sintomas são apenas diferentes formas de comunicação, onde o pensamento clinico é uma base de construção do que poderia ter servido de protecção no evitar de uma patologia, onde a educação é uma fonte de inspiração estratégica não para a formatação ou influência mas para a descoberta do desejo de aprender e descobrir, onde o social é um jogo de cenários onde o crescimento se dá num compromissos entre contextos com regras e códigos próprios que moldam aqueles que por lá passam.
Acredito no papel de todos e cada um na promoção da mudança. E não podendo garantir que todos se envolvam, pelo menos partilho convosco um pouco do meu envolvimento, na esperança que o contágio se revele não apenas na doença mas também na saúde…  e sobretudo na atitude colectiva que a promova.

Raul Melo

sexta-feira, 18 de janeiro de 2013

Raul Melo, novo autor


            É com muito agrado que comunico a participação de Raul Melo como novo autor no Psicologia Para Psicólogos!
            Raul Melo, sócio fundador da ARISCO, é Psicólogo Clínico. Trabalha actualmente no Serviço de Intervenção nos Comportamentos Aditivos e nas Dependências do Ministério da Saúde, onde desempenha também funções no Conselho de Coordenação dos Estágios da Carreira. Além disto, é Secretário Permanente do Fórum Nacional do Álcool e Saúde. Poderão consultar esta informação no separador “Autores” da página do blog.
O Raul ira estar a cargo da rubrica “PREVENIcaNDO”, que será apresentada já amanha com a sua primeira publicação!
Desde já, as boas vindas!
Psicologia Para Psicólogos

quinta-feira, 17 de janeiro de 2013

[ConsultoriaRH]: Stress nas Empresas


A OPP lançou uma notícia no seu sítio sobre o Stress nas Empresas, onde Samuel Antunes, Vice-Presidente da OPP, comenta o problema no programa "Marca Pessoal" da TVI24.
Esta publicação é feita em parceria, com um comentário meu, com foco na Psicologia Organizacional, e outro do autor Tiago A. G. Fonseca, com foco na Psicologia Clínica.
 

Do ponto de vista organizacional, o stress nas empresas é sem dúvida um fenómeno com tendência para se acentuar, nomeadamente na sequência da crise económica actual. O facto de 79% dos Gestores Europeus estarem preocupados com o stress no trabalho é um dado interessante, porém, não acredito que seja através de certificações que vamos encontrar a chave que abre a porta das organizações à psicologia clínica. Deste modo, é necessário investir não só na divulgação, mas acima de tudo na afirmação sustentada dos benefícios que o psicólogo clínico poderá aportar a uma organização. É necessário trabalhar no sentido de conseguirmos apresentar resultados que demonstrem de forma inequívoca que se trata de um investimento com retorno para a organização. Deste modo, se conseguirmos identificar indicadores de resultados, como por exemplo, absentismo ou a satisfação dos colaboradores, e demonstrarmos a incidência da acção do psicólogo sobre as mesmas, conseguiremos ganhar espaço neste novo nicho de mercado, através das nossas valências. Para tal será ainda necessário romper com os conceitos tradicionais das consultas psicológicas e estarmos disponíveis para encarar novos desafios e conquistar novos territórios.

Para o Tiago, “este é um problema onde é clara a necessária intervenção dos Psicólogos. 85% dos gestores mostram estar preocupados, o que indica a importância que dão a esta questão, o que se torna importante para a identificação e intervenção no problema. De qualquer forma, apenas 15% afirma ter formas de intervir neste problema. E é aqui que, como diz Samuel Antunes, a OPP pode ter uma palavra, apoiando as organizações e incentivando à rápida adesão aos serviços de intervenção psicológica. Para isto, têm os próprios psicólogos clínicos ser receptivos a esta intervenção.
De forma muito rápida, 50 a 60% do absentismo nas empresas é causado pelo stress, segundo Samuel Antunes. É grave do ponto de vista pessoal, social e económico. A acrescentar a isto, a empresa é apenas um dos factores de stress diário a que um indivíduo está sujeito, e assim sendo, o stress deve ser encarado como um factor comum na acção humana, com causas e consequências diferentes em todos os indivíduos, mas que deve sofrer intervenção de destaque nos seus diversos contextos.
É um exemplo claro da necessária intervenção Organizacional e Clínica, e um exemplo claro de urgência na intervenção no problema, tendo em conta que estamos a falar de organizações e seus trabalhadores, base da produtividade nacional.

Inês Lemos

terça-feira, 15 de janeiro de 2013

Terrorismo: Será só por causa das 70 e tal virgens?


Não é meramente uma adversidade que torna uma pessoa num terrorista. É tentador perspetivar este comportamento como maluco, pois diluiria assim a intencionalidade e não se trataria somente de “pura maldade”. Se também determinássemos as causas destas patologias, podíamos eliminar o perigo, dando-nos maior controlo sobre a situação.
Apesar dos ofensores mais comuns serem descritos pela impulsividade, baixo nível de inteligência, baixo nível de planeamento e autocontrolo, e tendo relacionamentos interpessoais para fim de exploração e consumo frequente de álcool e drogas, os criminosos “políticos” são percecionados como tendo um nível de inteligência médio e sem consumo de substâncias ou perturbações mentais.
Quando confrontados com as consequências dos seus atos, demonstram reserva (ao contrário da ausência de remorsos dos psicopatas), sendo capazes de racionalizar e compartimentalizar as suas actividades violentas, crendo ser ações necessárias para lutar por uma causa maior (Horgan, 2003, citado por Miller, 2006). A personalidade de um indivíduo influencia a direção da escolha de cometer atos prejudiciais, quer por auto-gratificação ou por um propósito mais elevado. Apesar de 40% das caraterísticas de personalidade serem hereditárias, esta também é moldada pelos contextos familiar, social, económico e político em que a pessoa se desenvolve. Quando as caraterísticas se tornam mais que variações menores, percepcionamo-las não só como traços, mas como perturbações da personalidade.
O terrorismo religioso acredita assim que só prestam contas a Deus, podendo matar em Seu nome (June, 1999, citado por Miller, 2006), podendo dividir-se em indivíduos que são os mais ideologicamente motivados, servindo como ponto focal do grupo; os criminosos, que aparecem como indivíduos que procuram uma desculpa para expressar os seus impulsos antissociais através de uma causa nobre e aceitável e ainda os sujeitos com psicopatologia, que são normalmente atraídos pela extremismo que o grupo representa, podendo desempenhar papéis úteis para os objetivos da estrutura (Hacker, 1976, citado por Miller, 2006).


            Ana Lopes

Miller, L. (2006). The terrorist mind: II. Typologies, psychopathologies and practical guidelines for investigation. International Journal of Offender Therapy and Comparative Criminology, 50 (3), 255-268. Doi: 10.1177/0306624X05281406

domingo, 13 de janeiro de 2013

Da Psicologia: O Que São Afinal as Atitudes?


            Muito se têm falado de atitudes. As nossas, as dos outros, mas sobretudo a sua influência no dia-a-dia. Mas o que são afinal Atitudes?
Para o senso comum, encontrei que Atitudes são “os nossos comportamentos” e “o que fazemos em relação a algo”.
As Atitudes são assim vistas como comportamentos. A forma como nos comportamos e agimos perante uma situação. Mas não.

Afinal, o que são Atitudes? Segundo Gleitman, Fridlund e Reisberg (2007), Atitudes são uma “disposição relativamente estável, avaliativa, que faz uma pessoa pensar, sentir ou comportar-se, positiva ou negativamente em relação a determinada pessoa, grupo ou problema social” (pp. 1225).

Percebendo a definição, podemos dizer que Atitudes são a vertente psicológica de um Comportamento. São as nossas percepções, expectativas e conhecimentos, que juntos influenciam a nossa avaliação de algo ou alguém. Esta avaliação conduz a um comportamento ou a pensamentos e sentimentos. Pelos pensamentos e sentimentos, podemos concretizar comportamentos, e pelos comportamentos podemos deduzir atitudes.
Para dar um exemplo, falemos de estereótipos. Estes aspectos podem aqui ser distinguidos. Uma atitude agressiva para com um indivíduo de outra raça será um comportamento, que poderá ter base em sentimentos de inferioridade e pensamentos de perigosidade, todos assentes numa atitude estereotipada e pré concebida, que envolve as expectativas, percepções e conhecimentos passados do sujeito.
Quando se diz “não interessam palavras, interessam atitudes” (exemplo também dado quando recolhi o que eram Atitudes), o sentido que se quer fazer transmitir é o inverso. As palavras provêm de atitudes. Há que construir boas atitudes para que as palavras sejam as pretendidas. Atitudes não-adaptativas levarão a consequências não-adaptativas, enquanto atitudes adaptativas levarão a consequências adaptativas. Estas consequências são os seus resultados, ou seja, sentimentos, pensamentos e comportamentos.

Tiago A. G. Fonseca

 
Gleitman, H., Fridlund, A. J., & Reisberg, D. (2007). Psicologia (7ª ed). Lisboa. Fundação Calouste Gulbenkian.

sexta-feira, 11 de janeiro de 2013

O Homem do Violino


Dos constructos cognitivos condicionantes da percepção à que destacar os estereótipos. Estas estruturas cognitivas são compostas, segundo Hamilton e Trolier (1986), pelos nossos conhecimentos e expectativas, ou seja, pelos resultados psicológicos das nossas experiências. Ainda segundo os autores, os estereótipos determinam os nossos julgamentos e avaliações, acerca de grupos e/ou dos seus membros. Acrescento aqui, também, além do apontado pelos autores, o contexto e os seus estímulos.
Deixo-vos um exemplo, ocorrido no ano passado numa estação de metro, nos Estados Unidos da América. Segue o relato escrito e o clip com o ocorrido.

Um homem sentou-se numa estação de metro de Washington DC e começou a tocar violino, era uma fria manhã de Janeiro; Ele tocou seis peças de Bach durante aproximadamente 45 minutos. Durante esse tempo, já que era hora de ponta, calcula-se que cerca de 1,100 pessoas atravessaram a estação, a sua maioria, a caminho do trabalho.
Três minutos passaram quando um homem de meia idade notou que o músico estava a tocar, abrandou o passo e parou por alguns segundos, mas continuou depois o seu percurso para não chegar atrasado.
Um minuto depois, o violinista recebeu o seu primeiro dólar: uma senhora atirou o dinheiro sem sequer parar e continuou o seu caminho.
Alguns minutos depois, alguém se encostou à parede para o ouvir, mas olhando para o relógio retomou a marcha. Estava claramente atrasado para o trabalho.
Quem prestou maior atenção foi um menino de 3 anos. A mãe trazia-o pela mão, apressada, mas a criança parou para olhar para o violinista. Finalmente, a mãe puxou-o com mais força e o miúdo continuou a andar, virando a cabeça várias vezes para ver o violinista. Esta acção foi repetida por várias outras crianças. Todos os pais, sem excepção, obrigaram as crianças a prosseguir.
Nos 45 minutos em que o músico tocou, somente 6 pessoas pararam por algum tempo. Cerca de 20 deram-lhe dinheiro mas continuaram no seu passo normal. Ele recolheu cerca de 32 dólares. Quando ele parou de tocar e o silêncio tomou conta do lugar, ninguém se deu conta. Ninguém aplaudiu, nem houve qualquer tipo de reconhecimento.
Ninguém sabia que este violinista era Joshua Bell, um dos mais talentosos músicos do mundo. Ele tocou algumas das peças mais elaboradas alguma vez escritas num violino de 3,5 milhões de dólares. Dois dias antes de tocar no metro, Joshua Bell esgotou um teatro em Boston, onde cada lugar custou em média 100 dólares.
Esta é uma história real, Joshua Bell tocou incógnito na estação de metro num evento organizado pelo Washington Post que fazia parte de uma experiência social sobre percepção, gostos e prioridades.

Acrescento que a mulher que surge na segunda parte do clip mostrando todo o interesse durante grande parte da actuação, justifica a mesma com o conhecimento que tem de quem é Joshua Bell.

Não existiu, claramente, uma percepção clara do que estava a ocorrer. Podemos deduzir várias hipóteses: não existem expectativas para aquele acontecimento naquele contexto; as prioridades individuais não permitiam a percepção da actuação de forma adequada; variáveis idiossincráticas que justificam a não atenção; Tendo em conta tudo o que já foi dito neste espaço sobre percepção, estas hipóteses podem ter base em estereótipos.
A realidade de cada um é uma construção realizada pelas suas percepções. As nossas percepções são resultado de estereótipos, expectativas, motivações e resultados anteriores que são projectados para as situações actuais.
Devido a razões idiossincráticas, centenas de pessoas perderam uma actuação espantosa, e de forma gratuita. Outra variável da percepção, que aqui faria, com certeza, diferença, é a informação disponível no contexto, que, se disponível sobre esta actuação, várias pessoas teriam parado para ouvir.
A mulher do final do clip que fala com o músico não padece do estereótipo de todos os outros. A informação que tem do contexto é oposta a todas as outras pessoas: sabe quem realiza a actuação e pára para ouvir, prestando uma atenção que apenas uma motivação intrínseca poderia provir. Existe também um homem que ouve durante algum tempo, mas como não se manifesta verbalmente, não é possível aferir a sua percepção da situação. Mas claramente, foi diferente. Não usou estereótipos e permitiu-se ser surpreendido por informação nova. Não valerá esta permissão a pena, mesmo que de vez em quando?


Tiago A. G. Fonseca

Hamilton, D.L., & Trolier, T.K. (1986). Stereotypes and stereotyping: An overview of the cognitive approach. In J. Dovidio & S. Gaertner (Eds.), Prejudice, discrimination, and racism (pp. 127-163). Orlando, FL: Academic Press.

quarta-feira, 9 de janeiro de 2013

[The Naked Lunch]: Fim das Smartshops?


Antes de mais bom ano a todos!

Para fechar o ciclo das smartshops nada melhor do que a notícia “Governo aguarda parecer para pôr fim às smartshops”. Já não era sem tempo! Apesar do título falar em “pôr fim” quando lemos a notícias percebe-se que o objectivo é “limitar venda de drogas legais e exigir período de teste antes de serem colocadas no mercado.
Segundo a notícia do jornal Sol online de dia 6 de Janeiro “O parecer em causa irá determinar a forma como será realizada a quarentena dos produtos: um mecanismo que obriga as novas substância que surgem no mercado a ficar em teste durante algum tempo para se verificar se são perigosas para a saúde.
Contudo depois de ler todo o conteúdo fiquei um pouco confusa. Algures no final da notícia vem a referência à posição das smartshops: O certo é que esta nova legislação está a preocupar os responsáveis das smartshops. A Stepet – que detém as lojas Magic Mushroom – prepara-se para apresentar na próxima semana ao Ministério da Saúde e aos deputados uma proposta onde defende ser «mais prejudicial para a população proibir este tipo de substâncias do que regular o sector».
Então mas não é mesmo isso que está a ser feito? A regulação destas substâncias? Permitir só por permitir já se viu que não é muito positivo, ainda por cima quando são disfarçadas de adubos, sem qualquer responsabilidade para as ditas lojas. Claro que podemos sempre entrar pela já habitual controvérsia do legal versus ilegal e quem ganha com isso.
A análise destas substâncias fará com que seja mais fácil a sua regulação. Eventualmente poderia ser também o passo para a regulação de outras substâncias…? O que é que acham? Que implicações têm as permissões vs proibições do ponto de vista psicológico?

Segue abaixo o link da notícia


            Ana Nunes da Silva

segunda-feira, 7 de janeiro de 2013

[Psicologia e Política]: O Povo (Não) Satisfeito


A imagem de hoje explica, de forma simples, o que aqui vos pretendo deixar.
            O chamado “bom português” é aquele que, embora educado e paciente, nunca está satisfeito.
            Mas a sociedade vive disto. Pessoas que, não estando satisfeitas, se mexem no sentido da mudança do que pensam estar mal, do que pensam ser injusto e do que pensam estar incompleto. E sendo assim, ainda bem que a sociedade assim funciona.


            Mas será sempre assim? Será que a sociedade se mexe por não estar a favor? Por estar em desagrado? Existe sempre produtividade na não concordância? Tudo isto é discutível.
            O que parece não ser discutível é a produtividade oriunda de quem se movimenta no sentido da mudança! Essa é indiscutível. Uma sociedade pensante e activa em prol de todos, no sentido cooperante e colaborante, para e por todos. Mas para isto, é preciso que essa produtividade se dê. É preciso que exista uma transformação do “estar contra” em “a favor de”. E não tem de ser a favor do que está. Tem é de ser a favor de algo, e não, contra algo. Assim, estar a favor implica mudança, enquanto que estar contra, só por si, trás inércia. Ser a favor é criar, é agira, é mexer.
            É este o português que eu acredito existir!

            Numa fase mais à frente, voltaremos a falar desta imagem. Por agora, queria deixá-la para reflexão.

            Tiago A. G. Fonseca
(actualizado às 19:22h)

sábado, 5 de janeiro de 2013

Perception


            Resumindo o que temos falado sobre Percepção e Realidade, deixo-vos esta imagem com uma frase retirada da recente série norte-americana “Perception”.


Reality is a Figment of Your Imagination”.

Como podemos dizer que não? O oposto também pode ser perguntado.
Como podemos dizer que sim?
          Certo é que somos nós que construímos a realidade, baseada no que percepcionamos. Isto é, por outras palavras, apenas acontece o que nosso cérebro permitir que aconteça, tendo em conta que só vemos o que acreditamos poder existir. Isto dá um papel maior à nossa criatividade e imaginação, sendo estas parte da percepção. E assim, a realidade fica limitada a essa imaginação, a essa percepção.

            Tiago A. G. Fonseca

quarta-feira, 2 de janeiro de 2013

New Year's Resolutions


O Ano Novo é uma barreira temporal, quer o festejemos com mais ou menos vivacidade. E as barreiras temporais têm a vantagem psicológica de puderem ser utilizadas como marco simbólico para algo. Um exemplo é a realização das chamadas Resoluções de Ano Novo. O que são as Resoluções de Ano Novo?
As Resoluções de Ano Novo são um documento pensado e realizado por alguém com o intuito de nele expor a vontade de realizar determinados objectivos pessoais ou em mudar um comportamento. É este documento importante?
Esta resposta, embora subjectiva, é positiva. A realização deste documento leva o indivíduo expressar as suas motivações de acção, traduzindo-as no compromisso impresso no documento. Esta realização induz no indivíduo uma sensação de auto-eficácia ao concretizar que os objectivos passam de possíveis a realizáveis, como se de uma lista tipo “to do” se tratasse.
Segundo Bandura (1991), quanto mais elevado for o grau de auto-eficácia percebida, mais elevados são os objectivos estabelecidos e mais fortes serão os comportamentos que conduzem ao alcance dos mesmos, pois a motivação para o seu sucesso é maior.
Assim, pensar e reflectir sobre o que queremos alcançar para este ano, o que queremos concretizar e atingir e/ou mesmo o que queremos mudar, traduzido num documento escrito por cada um, pode tornar-se importante no caminho para o sucesso desses mesmos comportamentos.
 


Tiago A. G. Fonseca