terça-feira, 31 de dezembro de 2013

Feliz Ano 2014!!


O Psicologia Para Psicólogos deseja a todos os que o acompanham, e a todos os que acompanham estes, um Feliz 2014.
Mas mais do que isso, que este novo ano que agora inicia seja um ano adaptativo!
Não se esqueçam: temos de agir sobre as nossas acções para que estas sejam adaptativas!

Feliz Ano Novo de 2014!

Psicologia Para Psicólogos

segunda-feira, 30 de dezembro de 2013

Reflexão sobre o Ano Novo


Inerente à nossa condição Humana, o nosso relógio biológico não funciona apenas para nos dizer quando devemos ir dormir – porque temos sono – ou quando devemos acordar – por estarem as células a fazer o mesmo (fica prometido uma publicação sobre isto para breve). Este relógio funciona também para que o Homem seja um animal de hábitos, nos pensamentos e nos seus comportamentos, adoptando padrões de acção ao longo do tempo.
Posta esta introdução - chegámos à época do ano onde colocamos em causa quem somos, o que fizemos, o que dissemos, o que pensámos, onde estamos, de onde vimos e para onde queremos ir.
É uma reflexão quase que obrigatória. Deveríamos realizá-la todos os dias do ano. Mas escolhemos marcos do calendário para a fazer. E o que deveríamos pensar aqui? No dia de aniversário, é “um ano mais velho… e agora?”. No Natal, é “será que os outros me vêem como eu quero ser?”. E no Ano Novo, é “mais um ano que passa… o que faço agora?”. Pois bem, medem-se expectativas, trabalham-se prioridades, melhoram-se práticas e planeiam-se objectivos.
Mas não será esta uma reflexão que se deve ter diariamente?
Não seremos melhores pessoas e melhores seres humanos se pensarmos nisto diariamente?
Chegar ao fim do ano e pensar no que fiz durante o ano, parece-me redutor. Lembra-me até a história que se conta da avaliação do Pai Natal sobre quem se portou bem ou mal.
Não será mais importante chegar ao fim de cada dia e dormir descansado por sermos coerentes connosco próprios?
Se podia fazer diferente? Claro que sim. Mas se fizesse diferente, continuava a ser eu? Tenho dúvidas.
Até porque, no fundo, o dia 31 de Dezembro e o 1 de Janeiro, são apenas dois dias do ano.

Tiago A. G. Fonseca

terça-feira, 24 de dezembro de 2013

Feliz Natal 2013!!


Sem dúvida que estamos num período difícil da nossa história.
Onde são exigidos esforços, físicos e psicológicos, para lá do que fomos levados a nos adaptar.
No entanto, há uma coisa que não duvidamos! Será um tempo de grande aprendizagem e desenvolvimento, adaptação e libertação psicológica, onde a motivação e esperança terão um papel fundamental neste processo e na sua adequada conclusão!
Que esta época seja sinónimo disso: de uma libertação e revitalização das energias psicológicas necessárias ao presente e ao futuro!
 


Tiago A. G. Fonseca
Administrador do Psicologia Para Psicólogos

segunda-feira, 23 de dezembro de 2013

[Grandes Nomes]: Baruch Espinosa (1632-1677)


Espinosa nasceu em 1632 e morreu com apenas 45 anos. Viveu toda a sua vida na Holanda, em Amesterdão, Rijnsburg, Voorburg e Haia.
Muitas vezes temos a ideia de que os filósofos são seres solitários e taciturnos, no entanto, segundo Mary Warnock, "os filósofos são por natureza faladores e epistolares; só raramente preferem sentar-se a pensar, isolados dos seus pares". Espinosa mantinha muitos contactos intelectuais e tinha muitos amigos que rapidamente publicaram, após a sua morte, Ética, uma das obras mais importantes da filosofia ocidental.
O avô de Espinosa era lisboeta e viveu alguns anos na Vidigueira, no Alentejo. Mas foi obrigado a fugir para Amesterdão quando a louca perseguição portuguesa aos judeus se tornou intolerável. Espinosa, todavia, haveria mais tarde de provocar nos próprios judeus o mesmo tipo de fervor religioso que levou a sua família a ser expulsa de Portugal o que o levou a ser expulso da comunidade judaica (o texto dessa excomunhão encontra-se publicado).
Espinosa falava português e esta era a língua que se falava em sua casa e nas ruas de Amesterdão, que acolhia uma enorme comunidade judaica proveniente de Portugal. A língua usada nos estudos bíblicos era o hebraico, e o latim era a língua da literatura, da cultura e da ciência em geral. Espinosa dominava todas estas línguas, além do holandês e do espanhol. A sua obra foi escrita em latim, e traduzida para holandês. Durante a sua vida, Espinosa só publicou duas obras:

·         Os Princípios da Filosofia de Descartes (1663) - uma exposição "geométrica" da filosofia de Descartes, e foi publicada a pedido dos seus amigos e correspondentes.
·         Tractatus Theologico-Politicus (1670) - defende exaustivamente a liberdade religiosa e política, usando o seu conhecimento profundo do Velho Testamento para, pela primeira vez, analisar de um ponto de vista histórico o Pentateuco, os cinco primeiros livros da Bíblia.

Espinosa faz parte do grande trio de racionalistas modernos, juntamente com Descartes e Leibniz. Trio este que é habitual opor ao trio de empiristas modernos: Locke, Berkeley e Hume. A filosofia contemporânea é na sua maior parte o fruto da filosofia empirista, mas as suas tremendas limitações estão a tornar-se cada vez mais evidentes e assiste-se hoje a uma reabilitação tímida da filosofia racionalista. A diferença que opõe as duas correntes é esta: enquanto para os racionalistas o conhecimento mais nobre e certo tem origem na razão apenas, os empiristas defendem que a razão nada pode descobrir que não tenha origem nos dados dos sentidos. A grande dificuldade da filosofia racionalista é explicar exactamente como conhecemos, sem recorrer à experiência, as grandes verdades sobre o mundo.
Para Espinosa, tudo o que ocorre está determinado pelas leis necessárias da natureza. E Deus mais não é do que esta natureza inexorável. O pensamento modal de Espinosa é tipicamente racionalista defendendo que só o nosso conhecimento imperfeito nos faz pensar que há coisas que acontecem mas poderiam não ter acontecido.
Depois da sua morte, Espinosa foi durante um século o bobo da corte: o filósofo mais comentado e menos lido. Lessing, em 1780, choca os seus pares declarando-se discípulo de Espinosa. Goethe apaixona-se pelas ideias do judeu. E só então se começa a fazer alguma justiça ao pensamento de Espinosa.

Margarida Rodrigues

quinta-feira, 19 de dezembro de 2013

[Criminal-Forense]: Declarações para memória futura: O que são?


As declarações para memória futura são uma forma de prova testemunhal, em que se possibilita a testemunhas ou vítimas que se faça depoimento na fase de inquérito (primeira fase do processo penal, em que se reúnem as provas para se ir a julgamento).
Ao recolher-se o testemunho mais cedo, permite que se evite o esquecimento dos factos ou a sugestionabilidade, mas não só. Por norma, realizam-se este tipo de declarações em situações específicas, a “testemunhas especialmente vulneráveis”: como menores, em casos de doença ou de partida para o estrangeiro. Este último poderá entender-se, como por exemplo, uma vítima de tráfico humano que ao necessitar de proteção, torna-se imperativa a sua saída do país.
Pretende-se que a vítima não tenha de repetir o depoimento no futuro - sendo este gravado na audiência - evitando-se a revitimização e minimizando-se também repercussões emocionais. No entanto, se no julgamento o juiz considerar que o testemunho gravado é insuficiente, poderá voltar a convocar a testemunha (o juíz da fase de inquérito não é o mesmo da fase de julgamento).
Procura-se garantir a veracidade e espontaneidade das respostas, sendo que o arguido não pode comparecer à audiência, verificando-se por exemplo essencial em casos de abuso sexual de menores, maus-tratos, em que o menor terá de depor contra um familiar.
O psicólogo forense deverá acompanhar o menor à audiência, explicando-lhe o que se irá suceder e como se deve comportar em tribunal: transmitir para dizer sempre a verdade, traduzir conceitos jurídicos e explicar onde e porque estarão presentes os vários intervenientes. É também averiguada a capacidade do menor em testemunhar e em diferenciar a verdade da mentira. Durante a inquirição, o psicólogo deverá assegurar que a forma de questionamento empregue é a correta e procurar indícios de ansiedade, podendo interromper a audiência para intervir junto da testemunha.
Ana Isabel Lopes

Caridade, S., Ferreira, C. & Carmo, R. (2011). Declarações para memória futura de menores vítimas de crimes sexuais: Orientações para técnicos habilitados. In M. Matos, R. A. Gonçalves & C. Machado (Coords.), Manual de psicologia forense: Contextos práticas e desafios (pp. 57-64). Braga: Psiquilíbrios Edições.

segunda-feira, 16 de dezembro de 2013

Debate sobre a Lei da Co-adopção por Casais Homossexuais, por Maria Stella Aguiar


Escrevi este texto no mês de Agosto e, embora chegue atrasado, vou manter o original, que é mesmo assim.
 
Para muitos de nós, é tempo de férias. Param as rotinas do ano, para apenas se sentir a vida fluir e descobrir o prazer de “deitar conversa fora” com quem vamos encontrando nas praias, entre areia, festas e petiscos. Vamos então parar a viagem por onde nos tem levando o nosso comboio do desenvolvimento humano e conversar sobre dois temas que o Tiago Fonseca nos deixou, a adopção de crianças por casais homossexuais e a importância e os riscos do exercício crítico.
Vi e ouvi o vídeo relativo à intervenção do nosso Bastonário, Doutor Telmo Batista, sobre a adopção de crianças por casais homossexuais. Gostei. Coloca um conjunto de questões pertinentes e apresenta-nos um estudo sério sobre os resultados científicos nesta matéria.
Porém, como o próprio Telmo Batista reconhece, os resultados científicos são sempre limitados e simplesmente prováveis. São, por isso, passíveis da crítica “construtiva” que recomenda o Tiago Fonseca e para a qual vou aqui tentar contribuir.
Acredito que a orientação sexual pouco ou nada tem a ver com a qualidade pessoal, social ou moral do indivíduo, com o equilíbrio e estabilidade da relação conjugal e mesmo com as respectivas competências parentais. Contudo - perdoem-me os investigadores - permanecem componentes que, do meu ponto de vista, ainda colocam as crianças adoptadas por casais homossexuais em situação de risco para o seu desenvolvimento psicológico. Vamos conversar sobre um deles.
Diz-nos Telmo Batista que a investigação neste domínio indica que este grupo de crianças e adolescentes tendem a ser socialmente estigmatizados. Se pensarmos que uma criança só é adoptada porque antes foi abandonada pelos seus pais biológicos e, geralmente, foi posteriormente institucionalizada, para a criança ou jovem, este percurso de vida mais não é que a experiência de uma dupla exclusão afectiva, emocional e social. Assim sendo, e por muito respeito que os estudos nos mereçam, juntar a estas crianças ou jovens mais um estigma, mais experiência de exclusão, poderá constituir uma “overdose” para um desenvolvimento psicológico equilibrado.
Será esta opção de adopção eticamente legítima, quando são já sobejamente conhecidos os prejuízos do abandono precoce e da própria institucionalização?
Será esta opção de adopção mais favorável para o desenvolvimento das crianças e jovens do que a sua permanecia na instituição que as acolheu e à qual, melhor ou pior,  já tiveram que se adaptar?
Será que esta opção de adopção não impede que tais crianças e jovens venham a ser adoptadas por uma família que, na sociedade que temos, não os exponha a novas experiências de exclusão pessoal e social?
 
Em síntese, será que esta opção de adopção contribui mais para o desenvolvimento das crianças e jovens ou para o desenvolvimento pessoal e social das próprias famílias homossexuais? 
Não tenho resposta científica para tais dilemas. Tenho apenas dúvidas. Mas, acredito que, na decisão sobre a vida e desenvolvimento psicológico de uma criança ou de um jovem que já foi tão vitimizado, não é prudente que permaneçam dúvidas deste tipo.    
Mudar a sociedade, os seus estereótipos e as suas crenças, é difícil e leva muito tempo. Mas, o desenvolvimento destas crianças e jovens não pode esperar. Não seria então mais prudente, mais adaptado e mais viável começar por utilizar o saber que construímos sobre o desenvolvimento psicológico para repensar as próprias instituições que oferecemos às crianças e jovens que, por razões diversas, perderam a sua família biológica?

M Stella Aguiar

segunda-feira, 9 de dezembro de 2013

[Psicologia e Política]: Moldar a Sociedade, de 1910 para 2000


Dando continuidade ao tema do “Moldar a Sociedade”, trago-vos um site curioso.
Em 1910, o pintor francês Villemard criou vários retractos que reflectem a ideia do autor e da sociedade da época sobre como seria o mundo no ano de 2000. Estão presentes na Biblioteca Nacional da França.

Aqui fica o site.

Olhando a estes retractos, temos mais um (vários) exemplo de como a sociedade evolui no sentido de confirmar o que necessita, o que lhe é coerente, o que tende a achar que precisa, no seu imaginar de dificuldades que tendem a ser solucionadas de forma mais pomposa possível, de modo a obter o que lhes parece ser a ideia de uma convivência em comunidade sem atritos ou barreiras. No entanto, podemos confirmar que vários destes retractos assentam na imaginação, não tendo sido confirmados, pelo menos, daquela forma, enquanto outros foram mais do que confirmados, tendo o ser humano conseguido alcançar o objectivo.
A retirar daqui o facto da perspectiva de evolução da sociedade ser uma constante. Nunca uma comunidade está contente com o que tem. Não sei até que ponto seria bom não imaginar mais além do que se tem, querer mais e ambicionar mais. Mas claramente não é bom quando as consequências dessa evolução tornam a sociedade tão diferente face à sua base de começo, tirando significado às alterações alcançadas.
A evolução deve sempre representar a sociedade, e não um grupo de pessoas que querem levar a evolução para determinado ramo. Nenhuma das questões retratadas mostra alterações do fundo de pensamento da sociedade, mas alteram a sua forma de funcionar com o mundo. É necessário pensar-se na evolução, antes de tender a caminhar, sem se saber se se está a avançar.

Tiago A. G. Fonseca

domingo, 8 de dezembro de 2013

[Psicriancices]: Terapia na Ansiedade com Crianças e Adolescentes


“O Pedro está sempre preocupado. Quando vai para a escola agarra-se à mãe e é sempre muito difícil largá-la. Preocupa-se muito que os colegas gozem com ele e portanto evita estar com outros meninos. Por causa disso, o Pedro tem poucos amigos e sente-se frequentemente triste e sozinho. Em casa, precisa sempre da presença do pai ou da mãe quando vai dormir. Acorda constantemente durante a noite e vai para a cama dos pais. O Pedro também manifesta vários sintomas físicos quando está preocupado – sente vontade de vomitar, dores de cabeça, dores de barriga e por vezes tem ataques de pânico em situações sociais. Os pais, preocupados com esta situação levaram o Pedro à psicóloga Dra. Laranja. Depois da avaliação, a Dra. Laranja diagnosticou o Pedro com perturbação de ansiedade de separação em co-morbilidade com fobia social e recomendou intervenção psicológica.

Qual a terapia mais indicada para as perturbações de ansiedade?
A nossa primeira escolha seria a terapia cognitivo-comportamental. Esta decisão prende-se com o facto de numerosos estudos e investigações terem vindo a demonstrar a eficácia a curto (e.g. Kendall, 1994; Kendall et al., 1997) e a longo prazo (Kendall & Southam-Gerow, 1996; Kendall et al., 2004) das terapias cognitivo-comportamentais dirigidas às perturbações de ansiedade em crianças e adolescentes. A medicação também pode ser útil em alguns casos, especialmente quando os sintomas de ansiedade são muito severos. No entanto, tem vindo a ser demonstrado que a TCC, não só reduz os problemas actuais, como também ajuda a evitar recaídas e depressão em idades posteriores.

Em consulta, a Dra. Laranja começa por ajudar o Pedro a identificar e a expressar as suas emoções. Durante as sessões iniciais, o Pedro construiu com a Dra. Laranja um diário de emoções.

A TCC dirigida aos problemas de ansiedade em crianças e adolescente envolve sempre alguns “ingredientes”, que têm como objetivo ensinar às crianças estratégias eficazes para enfrentarem e reduzirem a ansiedade. As principais competências trabalhadas são, em geral, o reconhecimento de emoções e da relação entre emoções e cognições, o relaxamento, o desenvolvimento do discurso interno mais adaptado, a identificação e modificação de pensamentos ansiógenos, a resolução de problemas, a exposição gradual e a auto-avaliação e auto-reforço.

Nas sessões seguintes, o Pedro aprendeu técnicas de relaxamento (respiração profunda e relaxamento muscular), de desenvolvimento de um discurso interno positivo e adaptado (“As pessoas podem não estar a falar sobre mim. Eles podem estar só a contar algumas piadas. Vou ter com eles e falar-lhes”) e estratégias de resolução de problemas para o ajudar a identificar e implementar soluções para as situações que o deixavam nervoso. A maioria das sessões foram realizadas individualmente, mas os pais do Pedro também participaram nestas sessões para aprender igualmente as estratégias e estabelecer um plano de confronto para a prática das estratégias fora da sessão.

As famílias são frequentemente envolvidas na terapia. A psico-educação sobre as emoções e o papel do evitamento na ansiedade é muito útil para algumas famílias. Os membros da família podem oferecer um apoio importante para que a criança aprenda novas estratégias de coping e as pratique em situações que anteriormente evitava. O envolvimento dos pais/cuidadores na terapia tem-se mostrado especialmente importante para as crianças mais jovens.

Nas últimas sessões a Dra. Laranja, o Pedro e os seus pais elaboraram um plano de confronto para que ele tivesse a oportunidade de utilizar e treinar as estratégias aprendidas em situações que o deixavam ansioso, começando com situações com níveis baixos de ansiedade e evoluindo, gradualmente para situações com níveis mais elevados. O Pedro pediu ao professor um lápis; pediu a um empregado de mesa um guardanapo; apresentou-se a um colega novo; respondeu a perguntas na sala de aula, etc. Em conjunto, a Dra. Laranja e o Pedro fizeram um “cartão poderoso” com estratégias que ele podia usar nessas situações (pensar de forma útil, respiração profunda, relaxamento muscular, o uso de resolução de problemas, pedir ajuda). O Pedro, por vezes, levava o “cartão poderoso” com ele no bolso ou na mochila.

No tratamento das perturbações de ansiedade em crianças é também muito importante o reforço/auto-reforço e as recompensas. Sempre que a criança enfrenta uma situação que a deixa ansiosa deve ser recompensada, não só pelo sucesso, como também pelo esforço.
O tratamento das perturbações de ansiedade funciona igualmente bem se for realizado em grupo. Em grupo, as crianças sentem-se mais compreendidas e têm uma óptima oportunidade para aprender competências sociais!

Em resposta à intervenção psicológica, os sintomas de ansiedade do Pedro reduziram significativamente ao longo de 9-12 meses. O Pedro deixou de ser uma criança tão preocupada e tornou-se mais calmo e feliz. Ficou mais participativo na escola e fez várias amizades!

Teresa Marques
Vanessa Russo


Referências:
Kendall, P. C. (1994). Treating anxiety disorders in children: Results of a randomized clinical trial. Journal of Consulting and Clinical Psychology, 62(1), 100-110.
Kendall, P. C., Flannery-Schroeder, E., Panichelli-Mindel, S. M., Southam-Gerow, M., Henin, A., & Warman, M. (1997) Therapy for youths With Anxiety Disorders: A Second Randomized Clinical Trial. Journal of Consulting and Clinical Psychology, 65(3), 366-380.
Kendall, P. C., Southam-Gerow, M., (1996). Long-term follow-up of a cognitive-behavioral therapy for anxiety-disordered youth. Journal of Consulting and Clinical Psychology, 64(4), 724-30.
Kendall, P. C., Safford, S., Flannery-Schroeder, E., Webb, A. (2004). Child Anxiety Treatment: Outcomes in Adolescence and Impact on Substance Use and Depression at 7.4-Year Follow-Up. Journal of Consulting and Clinical Psychology, 72(2), 276-287-

quinta-feira, 5 de dezembro de 2013

[Mudança]: A Arte Antes do Desenvolvimento


Há uma acordo entre o corpo e o tempo e a essa circunstância chamou-se arte. Do conflito, surgiu a combinação. 

A arte antes do desenvolvimento: o diálogo do corpo
Existe uma Instituição num país de África, feita de jovens com as suas artes, cuja morada perdi e os nomes espero-os na memória que os devolve. Não sei para que lado do dia acontece, mas tenho a certeza de que acorda na arte do corpo e se prolonga da sua mente para o espaço. Não vejo que importe se a arte que se cria é de vanguarda ou se pertence ao passado do futuro; penso que não há livros de história de arte e deve haver poucas caixas de tintas acrílicas. Desta história tenho agora apenas o segmento que nos partilho, dito, com todos os olhos, pela fundadora: "Quando me dizem que não há recursos neste país, não posso aceitar. Há pessoas aqui a viver".
Como dialoga o corpo com a arte, antes do espaço disponível ao toque ou sem este existir? Como nos dizem as escolas modernas, é o desenvolvimento o elevador da arte? Como nos dizem as escolas modernas, é a arte o elevador do desenvolvimento? Nestas escolas - modernas - ensina-se arte e ensina-se desenvolvimento; admito. E muitas vezes não se cruzam, nestas escolas - modernas -, perdoem-me. Cronologicamente: a educação de infância utiliza a arte para estimular; nos anos intermédios, usa-se a arte como instrumento "de" e "para"; as faculdades reiteram delicadamente a arte, mas nunca as vi implantarem métodos de avaliação que cotem a criatividade. Nunca, até hoje, as escolas me surpreenderam ensinando através do que já existe em todos, sem necessidade de ser criado: a primeira arte. A que antecede o movimento e que está também antes do desenvolvimento; que não é apenas um veículo para um caminho de forma a chegar a um desenvolvimento específico e generosamente estratificado; que não necessita de complexos esquemas desenvolvidos para se captar. Hoje falo da primeira arte, da arte de dentro para fora, da arte como recurso já criado para que aconteça o próprio desenvolvimento, da arte como "recurso natural". Não acontece apenas durante o desenvolvimento / após o desenvolvimento; acontece antes, como a própria oportunidade de que aconteça. Aconteceu-nos.
Tento a clareza: todos devemos concordar que a arte no desenvolvimento funciona como motor, através da criação e utilização de diferentes mecanismos perante necessidades de adaptação que surgem e que se esperam esculpidas do interior para o exterior; concordamos também, arrisco, que o desenvolvimento coloca-nos lentes mais apuradas no olhar para a arte. Mas, nestes processos existe, transversalmente, a primeira arte: de procura, de exploração, de trabalho cognitivo e de socialização constante. Então concordemos que a arte existe já antes da adaptação, antes do próprio desenvolvimento. A arte que já está criada e que é o fio condutor que sai fora da nosso templo e que se estende mais além.
Quando não se aceitar a arte como "recurso natural", desafio um artista do MoMA a acendê-la em terras de Malangatana. Se for a sua arte e não a arte fora de si, será sempre uma aculturação constante do eu, onde a verdadeira criação é uma extensão do eu razão e do eu emoção, no tempo e no espaço que se liga.
Falo da arte que antecede, que integra a própria capacidade integrativa, criativa e exploratória. Que se usa do pensar e do descobrir para celebrar os espaços tão próximos entre imagem e conceito, os ínfimos tempos das culturas, das novas culturas, das outras culturas, das esquecidas culturas, desde que nos tornámos no Homem criador e construtor de sonhos.
E se um dia quisermos voltar à primeira arte, não nos espantemos, porque é sempre a última e a que, no meio, existe pelas mutantes.
Hoje fala-se em amnésia pública e penso que há-de haver alguém para reparar na amnésia do homem-artista, um educador antes do desenvolvimento, que quando não se pensa cria de fora para dentro e depois, para fora. E acabou.

Ana Rita Caldeira

terça-feira, 3 de dezembro de 2013

[Grandes Nomes]: René Descartes (1596-1650)


René Descartes nasceu em La Haie, França, em 1596, e é considerado o inaugurador da época moderna da história da filosofia e primeiro representante da corrente racionalista, tendo colocado como núcleo da pesquisa filosófica o problema do conhecimento. Opondo-se veementemente à tradição escolástica de influência aristotélica, Descartes foi movido pela preocupação de encontrar um fundamento absoluto e irrefutável para as ciências numa tentativa de criar um sistema universal do saber.
Com esse objectivo, procede à articulação das regras a que deve obedecer o método «para bem encaminhar a razão e procurar a verdade nas ciências»:
- regra da evidência: «recusar todos os preconceitos, não tomando como verdadeira nenhuma coisa sem que a conheça evidentemente como tal e se apresente ao meu espírito tão clara e distintamente que dela não possa duvidar».
- regra da análise: «dividir cada um dos problemas que se me apresente no maior número de parcelas possível».
- regra da síntese: «conduzir os raciocínios ordenadamente, partindo dos mais simples para os mais complexos».
- regra da enumeração: «proceder a enumerações tão completas e revisões tão gerais que possa estar certo de nada haver omitido».

Procurando, no entanto, um suporte metafísico para o seu sistema, parte de uma posição de ceticismo em que põe em causa a fiabilidade dos sentidos e considera como ilusório o mundo sensível; chega mesmo a considerar a possibilidade da inexistência de Deus, substituindo-o por um «génio maligno» cuja astúcia o poderia induzir em erro até nas verdades mais seguras das ciências dedutivas (dúvida hiperbólica). No entanto, é este mesmo processo que o conduz à verificação de uma evidência que admite incontestável - até ao duvidar, a consciência tem de existir -, formulada na célebre asserção «Penso, logo existo». O vigor com que tal constatação se apresenta na consciência serve-lhe como primeiro critério de verdade, levando-o a propor que, «regra geral, todas as coisas que sejam concebidas de forma tão clara e tão distinta serão igualmente verdadeiras».
Encontrada na afirmação da substancialidade do eu pensante («res cogitans») uma base suficientemente firme para o seu sistema, falta a Descartes, no entanto, ultrapassar o puro solipsismo que dela advém. Para o realizar, apoia-se na análise dos conteúdos da consciência pensante e, em particular, na constatação da presença nesta da ideia de um ser perfeito. Admitindo que as ideias podem ter três origens - os sentidos, a própria consciência ou uma instância superior -, conclui que a ideia de um ser perfeito não pode surgir dos sentidos, pois estes não podem dar origem a nada com maior realidade objectiva (i. é, das representações acidentais dos sentidos não pode provir a ideia de uma substância). Do mesmo modo, não pode ter origem na própria consciência, visto que a ideia de um ser perfeito não pode provir de uma substância imperfeita (o efeito não pode ser superior à causa). Portanto, a ideia de ser perfeito só pode estar presente na consciência enquanto ideia inata, por acção directa de Deus que, consequentemente, tem de existir e, devido à sua perfeição, não deverá ser fonte de qualquer malícia, pelo que se pode, finalmente, afastar a hipótese do «génio maligno» e pôr de parte o cepticismo inicial. A prova da existência de Deus reveste-se, portanto, de uma dupla função: como garantia da realidade do mundo sensível e da validade objectiva do conhecimento.
Do encontro da substancialidade do eu pensante deriva o dualismo ontológico de Descartes, que separa radicalmente a «res cogitans» (substância espiritual e livre) da «res extensa» (substância material, mecanicamente determinada por Deus). Esta última, caracterizada pela extensão e pelo movimento, torna-se passível de conhecimento quantitativo, i.e, de uma abordagem matemática, relegando para o domínio da pura fantasia a física de tradição aristotélica, centrada em conceitos de ordem quantitativa e num esquema explicativo baseado na causalidade final.
Personagem de interesses diversos, Descartes notabilizou-se também nas ciências, tendo sido o criador da geometria analítica. Pretendendo colocar-se em ruptura com todo o pensamento anterior, esconde importantes influências, em especial as de Santo Agostinho (que segue uma via próxima na afirmação da irredutibilidade do eu pensante) e Santo Anselmo (no qual inspirou a prova para a existência de Deus).
Morre em Estocolmo em 1650 - ficou para a filosofia como o grande impulsionador da autonomização do sujeito-razão.

Margarida Rodrigues

segunda-feira, 2 de dezembro de 2013

[Psicologia e Política]: Moldar a Sociedade


            Vivemos numa sociedade pouco ligada à política. Não quero aqui desdenhar se a galinha nasceu primeiro, ou se foi o ovo, se as pessoas se desligaram da política ou se os políticos se desligaram das suas pessoas – no entanto, esta última parece-me claramente a mais correcta. O que é certo é que todos os dias, os actos políticos moldam a forma como a sociedade se constrói, evolui, e sobretudo, se vê enquanto sociedade e comunidade.
            Tentarei, numa introspecção teórica sobre a nossa – a do Homem - evolução enquanto sociedade, colocar questões sobre a direcção dessa mesma evolução.
            As decisões que são tomadas, não só a nível concelhio, nacional, europeu e mundial, têm um impacto directo na vida de cada ser humano. Cada limitação da existência humana, ou falta dela, trará, quando a longo prazo, consequências no pensamento e consequente modo de agir das pessoas que deste espaço partilham.
            Uma sociedade adquire a cultura que escolhe, de forma mais ou menos directa, para evoluir. É por isso que os chamados direitos fundamentais são diferentes em cada país, e no geral, cada país vive décadas de paz com eles. No entanto, é de salientar as alterações que vão existindo. Estas, podemos atribuí-las a um sentido de evolução, seja em que direcção for, permitindo a que determinadas sociedades possam acompanhar a cultura de outra.
Em Portugal, recentemente, uma mais do que outra, existiram duas alterações a esses ditos direitos fundamentais do ser humano, que toldam a visão da vida e da existência na sociedade, que altera definições e molda a evolução. Mas destas duas questões em particular, falaremos em próximas publicações sobre este tema.
            Quero concluir chamando a atenção que, em termos psicológicos, o impacto da existência de regras ou ausência delas, são na mesma limitações ao pensamento e à acção, ou sejam, são linhas directrizes do que podemos, devemos e saberemos realizar.

            Tiago A. G. Fonseca

domingo, 1 de dezembro de 2013

[Comboio do Desenvolvimento]: O Tempo na Psicologia do Desenvolvimento - Parte 2


 Lembram-se de Einstein e do desafio de descentração cognitiva que, há uns meses, deixei aos nossos leitores, particularmente aos psicólogos? 
Vejamos então se conseguiram captar a forma de pensar o tempo que vos mostrei há uns dias e que Piaget situou num nível intermédio entre o pensamento pré-operatório e o pensamento operatório concreto de representação da idade das pessoas!

Nesta segunda forma de representação, a criança associa a idade das pessoas, ou à data de nascimento, ou ao crescimento físico. Vejamos!
As crianças que Piaget designa de tipo 2.1 já sabem ordenar corretamente as datas de nascimento e associam a idade das pessoas a essa ordem, mas nem por isso concluem que a idade permanece necessariamente no tempo. Assim, já não é a própria criança que nasce sempre primeiro, pois os avós nasceram antes dos pais, os pais antes dos irmãos mais velhos e assim sucessivamente…Porém, o que parece é ainda demasiado sedutor e, um dia mais tarde, quando forem crescidos, os que eram mais novos podem ficar os mais velhos ou podem até ficar todos da mesma idade.
Pelo contrário, as crianças que Piaget designa de tipo 2.2 já sabem que as diferenças de idade se conservam no tempo, mas nem por isso concluem que elas indicam a ordem de nascimento das pessoas. Assim, os avós são sempre mais velhos do que os pais, os pais mais velhos do que os filhos…Porém, isso não quer dizer que os filhos e, particularmente a própria criança, não possam ter nascido antes dos avós ou dos pais, pois isso a criança não pode saber, porque não viu, já não se lembra e ainda não perguntou a ninguém.

Em síntese, este nível intermédio entre o pensamento pré-operatório e o pensamento operatório concreto é alternadamente regulado, ou pela permanência dos critérios perceptivos e egocêntricos primitivos, ou pela emergência de critérios lógicos ou operatórios (seriação dos nascimentos e coordenação com as diferenças de idade das pessoas; ou seriação das idades e conservação dessas diferenças etárias) associados à capacidade de descentração cognitiva e, por isso, o que parece já pode ou não ser assim.
Oiçam agora o que diziam outras crianças, da mesma idade ou um pouco mais velhas, cuja representação da idade das pessoas já não nos surpreende!

Tens irmãos? Um irmão mais pequeno e outro ainda mais pequeno, Charles e Jean. Quem nasceu primeiro? Eu, depois Charles, depois Jean. Quando vocês forem grandes, quais serão as idades de cada um? Eu mais velho, depois Charles, depois Jean. Tu serás muito mais velho? A mesma coisa que agora. Por quê? É sempre a mesma diferença. Isso depende de quando nós nascemos. (Piaget, 1946a/2002, p. 240-241) 

Para as crianças, adolescentes ou adultos que Piaget situa no nível operatório concreto, a noção de idade torna-se independente da percepção, do crescimento físico das pessoas e, agora, o que parece não é necessariamente assim. Porquê? Porque, uns e outros, já conseguimos coordenar, de forma reversível, a seriação dos nascimentos e das idades das pessoas, compreendemos que a ordem de nascimentos indica diferenças de idade e vice-versa e, por isso, concluímos que essas diferenças de idade se conservam, permanecem, necessariamente, imutáveis no tempo.

M. Stella Aguiar