quinta-feira, 28 de novembro de 2013

I Encontro do Psicologia Para Psicólogos


Caros e caras leitores do Psicologia Para Psicólogos,

Muitas foram as etapas pelas quais o nosso Psicologia Para Psicólogos passou, de plataforma de partilha de informação e material, para um fórum de discussão, sendo mais recentemente um espaço de publicação de artigos sobre diferentes áreas da psicologia. Mas todas estas etapas tinham algo em comum: levar a psicologia para mais próximo da comunidade, quebrar as barreiras do conhecimento psicológico e associa-lo à sociedade e suas vivências.
Assim, dando um passo enorme, é com enorme orgulho que apresento o nosso I Encontro do Psicologia Para Psicólogos! Este terá como tema “Pela Psicologia do Desenvolvimento: Criatividade e Arte”, e será constituído por um painel de profissionais e académicos das áreas do Desenvolvimento Humano, Criatividade, Arte e Intervenção Comunitária. Vejam o cartaz!
 
 
O nosso I Encontro irá ocorrer dia 13 de Dezembro de 2013, das 17h às 20h, no Anfiteatro Professor Doutor Ferreira Marques, da Faculdade de Psicologia e do Instituto de Educação da Universidade de Lisboa.
No site PsicologiaParaPsicologos.pt poderão encontrar todas as informações sobre este evento. Pedimos que realizem uma pré-inscrição, que poderão encontrar no site.
Este evento surge de uma nova dinâmica dentro do grupo do Psicologia Para Psicólogos, associado a uma nova imagem, num projecto mais sério, mais sólido, e de continuidade!
A ambas as instituições que nos acolhem neste evento, bem como à Associação de Estudantes da Faculdade de Psicologia e do Instituto de Educação da Universidade de Lisboa, o nosso muito obrigado.
Agradecer aqui também, em especial, à Ana Carla Nunes e à Ana Rita Caldeira da Silva, que me acompanham nesta organização!
Obrigado a todos os que nos acompanham, participam e divulgam este projecto!

Tiago A. G. Fonseca
Administrador do Psicologia Para Psicólogos

[Psi-clínica: Diálogos Soltos]: Filhos e seus Pais


Muitas vezes deparamo-nos com jovens em dificuldades e, a acrescentar, com famílias, especialmente mães, que se sentem tremendamente culpabilizamos por isso.
A culpabilidade sentida e verbalizada pelas mães é ela própria contextual e como tal de natureza ecológica. As mães são desde os primórdios as figuras principais e aceites socialmente como as figuras que mais investem na protecção, educação e cuidado da descendência, ficando por isso também numa posição de maior responsabilidade pelas dificuldades que podem eventualmente ocorrer, ao longo do desenvolvimento dos filhos. Esta culpabilidade tornou-se mais relevante, e alvo de estudo, com as alterações culturais e sociais que levaram à integração da mulher no mercado de trabalho e à progressiva maior igualdade de sexos, a partir da qual as mães passaram a ter menos tempo dedicado à educação da sua descendência. Estas alterações são reportadas por muitas mulheres, como um elemento de perturbação pois frequentemente se sentem "divididas" entre responsabilidades e em "falta" para com a família.
Na adolescência, em que a rapidez e a complexidade das mudanças protagonizadas pelos filhos, se torna mais difícil de acompanhar e compreender, a emergência de pertubações nos jovens activa intensamente este sentimento de impotência e culpabilidade relativamente à falência da saúde mental destes, com uma associação clara entre estas dificuldades e as ausências, ou erros, que as mães nestas circunstâncias identificam em si mesmas (com ou até mesmo sem fundamento).
Esta é uma etapa de profundas transformações individuais, em vários vectores – cognitivo, físico, moral – e sociais, sobretudo no que respeita à relação com os pais e os pares. Nesta fase, os jovens têm como grande desafio, o desenvolvimento da sua autonomia e a construção de uma identidade estável, que contribua para a entrada na idade adulta de modo saudável e adaptado. Não podemos entender as problemáticas dos adolescentes (e, por vezes, das próprias famílias a lidar com estas transformações), sem ter em consideração as características gerais desta fase de vida.

Numa perspectiva ecológica, consideramos que as dificuldades ou problemas psicológicos não são exclusivamente individuais. Eles acontecem num contexto que inclui desde as características do indivíduo até às relações estabelecidas com outros sistemas proximais – a família, os pares, a escola – ou com sistemas mais distais – as normas sociais, os valores culturais e morais, etc. Assim, estes comportamentos de risco ou manifestações de dificuldade, não têm uma causa, ou um culpado, eles são o resultado de diversas variáveis que, em conjunto, concorrem para a perturbação. A educação é muito importante, o contexto em que se vive é muito importante, as características de personalidade são muito importantes. Mas, o mais importante é a forma como estas variáveis interagem no indivíduo e, também muito importante, num determinado momento do desenvolvimento.
Aqui, já estamos a considerar a perspectiva de desenvolvimento, que é em si mesma, ecológica. Nesta perspectiva, os comportamentos de risco ou psicopatologia, não são apenas considerados no seu contexto, eles são também analisados tem em conta a etapa do ciclo vital (individual e familiar) em que o paciente se encontra. Cada etapa de desenvolvimento sugere e impõe desafios diferenciais, transformações específicas e até alterações nas relações estabelecidas com os sistemas de interacção (como por exemplo, os já referidos: família, pares, escola). Se ter em consideração a etapa de desenvolvimento em que o paciente se encontra, é determinante, este aspecto é ainda mais crucial quando estamos a intervir com adolescentes (e suas famílias), pelas especificidades já referidas.
Alguns comportamentos de risco são, por exemplo, o abuso de álcool ou substâncias psicoactivas, já referidos, ou em jovens que revelam padrões comportamentais marcados por agressividade, revolta e incumprimento de regras e normais sociais. Nestes casos, como em outros que encontramos, julgo que o essencial é desmistificar esta questão da culpabilidade familiar. Obviamente o pai também sente culpa. Apenas sente-a de outra maneira, pelas diferenças sociais e culturais associadas ao papel da mãe e do pai, já brevemente mencionadas e sobejamente conhecidas.
O terapeuta deve ajudar a compreender as origens do sentimento de culpa, dando acesso a reflexões sobre o papel parental, as pressões sociais e familiares, as expectativas acerca dos filhos, que concorrem para este sentimento intenso e negativo. Por outro lado, e este aspecto tem-me parecido essencial quer em terapias familiares, quer em terapias individuais, importa sobretudo ajudar a reconhecer que encontrar culpados não só não faz sentido - pois existe uma multicausalidade e não uma causa linear - como não tem qualquer utilidade para a resolução do prolema, a recuperação da dificuldade ou o tratamento do distúrbio.
Ao enfatizar as competências e o papel positivo e activo da família na vida destes jovens, estamos não apenas a torná-la importante para a solução, em detrimento do seu papel no problema. Para os pais, perceberem e sentirem que fazem parte do tratamento dos seus filhos, que podem ajudá-lo de várias formas e contribuir para a sua recuperação, reforça a sua auto-imagem de figuras parentais cuidadoras, protectoras da sua descendência, tão importante para a auto-estima e bem-estar das mães e também dos pais. Mais ainda, "trazer" a família para a busca da solução pode contribuir para um reforço positivo das relações pais-filhos e devolver aos primeiros a capacidade de exercerem a parentalidade com afecto mas também com regras e autoridade, algo que nestes casos, frequentemente já não estava a acontecer, ou estava a decorrer de uma forma pouco eficaz para a educação e desenvolvimento dos jovens.

            Diana Cruz

domingo, 24 de novembro de 2013

[The Naked Lunch]: Nova lei do álcool


Entrou em vigor no passado dia 1 de Maio a nova lei do álcool. Esta lei proíbe o consumo e a venda de bebidas alcoólicas em postos de combustíveis e, depois da meia-noite, em qualquer estabelecimento que não seja de restauração e bebidas. Relativamente à idade de consumo prevê o aumento para os 18 anos a idade limite para consumo de álcool, mas apenas para as bebidas de elevado teor de álcool, as chamadas bebidas espirituosas (e.g . whisky, vodka…). O consumo de vinho e cerveja continua a não ser proibido a jovens a partir dos 16 anos! Confesso, como profissional de saúde a trabalhar com problemas ligados ao álcool, ter ficado em choque com esta nova lei. Do ponto de vista prático coloca imensas dificuldades: como controlar em simultâneo a idade e o que a pessoa consome? Se no nosso país já é várias vezes referida a dificuldade na fiscalização referente à idade, como irão as autoridades fiscalizar também o tipo de bebida? Pedem para provar!?

Esta nova lei para além de ser um recuo ao nível da prevenção acaba por se tornar ridícula e passar uma mensagem dúbia aos jovens face ao consumo de álcool: Então existirá um “álcool bom” e um “álcool mau”? Do ponto de vista científico não faz sentido esta distinção entre bebidas espirituosas e outras bebidas alcoólicas. A composição molecular da substância (etanol) é a mesma. A diferença concerne à concentração de álcool em cada uma delas, mas bebendo diferentes quantidades de diferentes bebidas estaremos a ingerir a mesma quantidade de álcool ¼ L aguardante = 1L Vinho= 2L Cerveja. Assim, não fica claro o objectivo deste diploma. Até porque o objectivo da alteração da lei pretendia a defesa da saúde pública e não a perseguição fundamentalista ao consumo de álcool.
Contudo, um dos aspectos desta lei que parece ter sido “acarinhado” pelas autoridades de segurança é a obrigatoriedade das autoridades notificarem os pais quando os seus filhos são encontrados embriagados.
E vocês, o que acham?

Poderão consultar a informação referente a esta lei no diretório do álcool:  http://www.diretorioalcool.pt/Paginas/LeiDoAlcool.aspx
 
Ana Nunes da Silva

quarta-feira, 20 de novembro de 2013

[PREVENIcaNDO]: Um Outro Eu


Retomar a escrita depois de tanto tempo passado, é como reencontrar o sentido de uma frase deixada em suspenso… Por vezes as interrupções quebram a ligação entre os membros de um grupo. Porque é que eu estou aqui? O que é que me apetece dizer de novo? Este é um drama frequente no início de uma sessão de grupo quando se pede ao participante para se ligar aos outros. Dê de si, mas use o seu direito a proteger o que quer manter privado. Apresente-se sem se revelar, ou revele-se sem se apresentar
Como se faz isto? Simples… crie um outro eu… Esta dinâmica de apresentação requer que cada participante, através de uma mentira se apresente ao grupo e dê uma justificação para se encontrar naquele lugar àquela hora. “Estou perdido e segui o pessoal que vinha para esta reunião”. “Sou um holograma e de facto não estou ali”. “Estou aqui porque não tinha outro sítio para estar”. “Sou um extraterrestre e venho aqui tomar notas sobre os terráqueos”…  A dinâmica solta o riso e revela a criatividade de cada um, dá indícios sobre a motivação e diz um pouco sobre os níveis de defesa com que se encara os outros que ali o rodeiam. O outro eu é uma construção colorida, é uma funcionalidade cumprida ou apenas o negativo do que se é.
Pelo caminho o dinamizador pode ensaiar pequenos diálogos testando a consistência da criação, alargando o falso eu em terrenos adjacentes à motivação para estar ali. De onde veio? Onde vive? O que faz? Quais os interesses? Os sonhos? Os segredos?
O eu assim criado pode ir para além da simples tarefa de apresentação e desenvolver-se numa construção progressiva de enredos que partem dos eus de cada um e os conduz a encontros impensáveis em contextos definidos pelo dinamizador. “Eu sou o Tarzan e acabei de regressar da selva”. “Eu sou um Deus que desceu do Olimpo”. Encontraram-se num elevador que ficou preso entre dois andares. De que falam? Como interagem? Os enredos podem ser previamente seleccionados pelo dinamizador e tirados à sorte por cada par. A dinâmica pode-desmultiplicar-se por diferentes sessões funcionando como um aquecimento em continuidade. Novos emparelhamentos permitem a continuidade da construção do novo eu testando a sua coerência e dos encontros entre pares pode passar-se a convívios mais alargados onde cada personagem pode apresentar aos outros personagens que conheceu antes e trocarem pequenas histórias caricatas de encontros prévios…
A partir da oportunidade para se defender não dizendo nada de si, diz-se tanto através do que não se diz.
Afinal qual é mesmo a razão que o/a trouxe até este texto?

Raúl Melo

terça-feira, 19 de novembro de 2013

Aprendizagens e Experiência


Uma das maiores provas da aprendizagem é a reprodução de conhecimentos.
É muito curiosa a forma como conseguimos explicar de forma diferente algo que aprendemos há poucos anos. É um exercício curioso. Melhor do que isso, e mais desafiante, é tentar reproduzir esses conhecimentos pelas palavras que originaram essa aprendizagem e não com as actuais, após sucessivas integrações de informação e construções de significado.
Lembro-me que, há 2 anos, assim que entreguei a Dissertação de Mestrado, ao reler, já havia frases que escreveria de forma diferente. Passado apenas 1 mês, a forma como expliquei certos temas na defesa da mesma já eram diferentes.
As nossas experiências modificam, solidificam e definem as nossas aprendizagens, desde as que começaram na nossa infância, às que resultaram da leitura dos primeiros parágrafos deste mesmo texto. Tudo se vai moldando à medida que o desenvolvimento pessoal prossegue, num caminho de encaixe sucessivo entre as informações que temos disponíveis no meio com as informações que já faziam parte do nosso leque de opções cognitivas, fundadas nas nossas experiências pessoais.

Tiago A. G. Fonseca

quinta-feira, 14 de novembro de 2013

Nova Autora: Margarida Rodrigues!


Hoje apresentamos uma nova autora. A Margarida Rodrigues junta-se à equipa do Psicologia Para Psicólogos, ficando encarregue da rubrica “Grandes Nomes”.

A Margarida é Mestranda em Psicologia Clínica da Saúde e da Doença, pela Faculdade de Psicologia da Universidade de Lisboa, e é actualmente Psicóloga Estagiária (Curricular) no IPO de Lisboa.

Que sejas muito bem-vinda!

Psicologia Para Psicólogos

quarta-feira, 13 de novembro de 2013

Controlo e Cooperação à luz do MCP


Trabalhei a fundo na minha dissertação de mestrado (Fonseca & Vasco, 2011) os conceitos de Controlo e de Cedência deste. A esta última, devido a questões gramaticais do nosso português, demos, mais tarde, o nome de Cooperação.
            Definimos estes conceitos como necessidades psicológicas, sendo estas as nossas conceptualizações das mesmas:
            A necessidade psicológica de controlo de um indivíduo é assim definida “como a procura de controlo de forma adaptativa, permitindo realizar uma avaliação realista do que pode e deve controlar, seja no próprio, nos outros ou no meio. Permite também estabelecer objectivos e definir como os atingir, capacitando a acção adequada às situações, escolhendo os comportamentos indicados para promover a adaptação. Contribui para a sensação de bem-estar, consigo e com os outros, mediante a percepção de controlo sobre a sua capacidade para influenciar o meio.
A necessidade psicológica de cedência de um indivíduo é assim definida “pela capacidade de ceder o seu controlo pessoal ou do meio, na aceitação da cooperação e colaboração com os outros para a obtenção de objectivos comuns a um colectivo, também importantes para o próprio. Assim, existe partilha de controlo com outros indivíduos, colaborando em tarefas específicas e acordadas. Contribui para a sensação de bem-estar, consigo e com os outros, num sentimento partilhado de pertença a um colectivo cooperante.

Recentemente encontrei duas imagens que demonstram a combinação e equilíbrio necessário entre Controlo e Cooperação, que passo a partilhar convosco.

Nesta primeira podemos ver o exercício do controlo pessoal, onde cada sujeito funciona para si, para os seus objectivos. No entanto, as situações do meio obrigam a funcionar com outros sujeitos, o que obriga à necessidade do equilíbrio do controlo com a cooperação, onde ambos funcionam cooperativamente, partilhando controlo pessoal, cedendo algum do mesmo.


Nesta segunda imagem, partindo dos pressupostos já explanados anteriormente, podemos observar o equilíbrio inverso. Numa situação que obriga à cooperação como é a navegação marítima, quando o meio assim o define, é necessário que se cedam limites pessoais para o alcançar de objectivos comuns. Partilhando o espaço, os sujeitos encontram uma forma comum de se adaptar.

Com estas duas imagens, e a visão deste necessário equilíbrio entre o Controlo e a Cooperação, é percebida a importância destes constructos enquanto necessidades psicológicas vitais do Self. Estas mostram ser centrais para o bom funcionamento e adaptação dos indivíduos, pois são transversais à grande maioria das situações do dia-a-dia.

Tiago A. G. Fonseca

segunda-feira, 11 de novembro de 2013

NEPC: Violência e Agressividade: que diferenças?


Etimologicamente, a palavra VIOLÊNCIA deriva do latim – vis – tendo como significado força. A OMS (s/data, citado por Magalhães, 2010) menciona violência referindo-se à violência intencional ou não intencional.
A primeira remete-nos para um comportamento voluntário, direto ou indireto, surgindo num contexto interativo ou existindo uma relação de duas ou mais pessoas, com desigualdade de poderes. Por sua vez a violência não intencional poderá ser utilizada associada a acidentes (Magalhães, 2010).
Hart e Dempster (1997, citados por Tapscott, Hancock, & Hoaken, 2012) diferenciam estes dois tipos de violência, caracterizando a violência instrumental como um meio para um fim (i.e., que visa a obtenção de um objetivo externo que não o infligir da injúria), e a violência reativa como um fim em si mesmo. O objetivo último da violência reativa é ameaçar a vítima, posteriormente à perceção de provocação (e.g. insultos verbais, ameaça de agressão) (Bushman & Anderson, 2001, citados por Tapscott, Hancock, & Hoaken, 2012).
Desta forma, e de acordo com alguns teóricos (e.g. Bandura, 1973; Baron & Richardson, 1994; Berkowitz, 1993; Bushman & Anderson, 2001; Geen, 2001; Kingsbury, Lambert, & Hendrickse, 1997, citados por Tapscott, Hancock, & Hoaken, 2012), a violência (entendida nesta perspetiva como violência instrumental) traduz-se no comportamento, por parte de uma pessoa contra outra, que intencionalmente é de ameaça.
Por outro lado, a AGRESSÃO (entendida âmbito como violência reativa) é então entendida como qualquer comportamento que é executado com o intuito de causar ameaça física ou psicológico a outro indivíduo. (Reiss & Roth, 1993, citados por Tapscott, Hancock, & Hoaken, 2012).
Ferguson e Rule (1983, citados por Eysenck, 2000) acrescem ainda que um comportamento agressivo representa um ato real com intuito de magoar e que configura uma violação das normas quando percecionado como ilegítimo.
Todavia, os conceitos de prejudicar e magoar dependem dos valores e contexto social das diferentes culturas e sociedades (Blackburn, 1993). De salientar assim que um comportamento agressivo não tem que necessariamente envolver ataques físicos, como é o exemplo da agressividade verbal e/ou emocional.
No entanto, a terminologia permanece pouco clarificadora e pode causar problemas práticos na distinção destes dois conceitos, pelo que a literatura distingue-os através das consequências legais implícitas ao comportamento. Quer isto dizer que os comportamentos que são punidos por lei tendem a ser referidos como violência, enquanto que os comportamentos de ameaça, que não são contemplados pela lei (ou cuja «moldura» penal não implica cumprimento de pena de prisão efetiva) tendem a ser tidos como agressão (Megargee, 1982; Patrick & Zempolich, 1998, citados por Tapscott, Hancock, & Hoaken, 2012).
Em suma, podemos afirmar que violência é a expressão comportamental (física e verbal) da agressividade e está associada ao dano. A violência é uma variável associada à agressão, que a define, mediante as características do comportamento expresso, i.e., trata-se da consideração da dimensão contextual na qual se pode produzir as agressões.
 
Sandra Matias
 
Referências:
Blackburn, R. (1993). The psychology of criminal conduct. West Sussex: John Wiley & Sons Ltd.
Eysenck, W. (2000). Psychology – a student’s handbook. West Sussex: Psychology Press.
Magalhães, T. (2010). Violência e abuso. Coimbra: Imprensa da Universidade de Coimbra.
Tapscott, J., Hancok, M., & Hoaken, P. (2012). Severity and frequency of reactive and instrumental violent offending: Divergent validity of subtypes in an adult forensic sample. Criminal Justice and Behavior, 39 (2), 202-219.

sexta-feira, 8 de novembro de 2013

[Grandes Nomes]: Hermann Rorschach (1884-1922)


Hermann Rorschach nasceu em Zurique, a 8 de Novembro de 1884.
Ficou conhecido na Psicologia Clínica – apesar de ter sido Psiquiatra – pelos seus estudos com manchas de tinta e as interpretações e significados psicológicos que os indivíduos lhes atribuíam. Assim, desenvolveu o seu teste: Teste de Rorschach.
Inicialmente, o Teste de Rorschach tinha a intenção de desvendar as fantasias escondidas do inconsciente do indivíduo, mas Hermann, aprofundando a sua investigação, almejava atingir um teste de diagnóstico da personalidade, função que atribuiu ao seu teste.
O Teste de Rorschach, como todos os Testes Projectivos, baseia-se na hipótese projectiva que refere que na tentativa de organização da informação incoerente por parte do indivíduo, este tende a projectar partes latentes da sua personalidade. O intérprete tem, assim, possibilidade de alcançar partes da personalidade apenas dispostas no inconsciente do indivíduo, que formam as bases da sua resposta.

Rorschach, como bom Psiquiatra, encontra as suas influências da Escola Psicanalítica, e funda, com outros colegas, a Sociedade de Psicanálise de Zurique.
O ponto alto da sua carreira ocorre em 1921, onde publica o livro Psicodiagnóstico, onde explana as suas conclusões sobre o estudo das pranchas de manchas de tinta, por ele elaboradas.
O Teste de Rorschach permaneceu restrito a um pequeno círculo de amigos e seguidores, na Suíça. Só 10 anos após a sua morte foi conhecido de forma internacional, tendo o seu livro chegado ao resto da Europa e Estados Unidos da América.
Ainda hoje, para a utilização do Teste de Rorschach, é necessária uma formação específica certificada.

Veio a falecer de peritonite aguda a 2 de Abril de 1922.
Hoje faria 129 anos, razão pela qual o Google o homenageia com uma aplicação interactiva onde podemos realizar e partilhar o resultado, do seu teste.
Deixo-vos também, de Olivier Valsecchi, a sua colecção “Klecksography”, de Dezembro de 2010, onde pela fotografia de corpos humanos em diversas posições, tenta recriar muitas das pranchas de Hermann Rorschach.



Tiago A. G. Fonseca

quinta-feira, 7 de novembro de 2013

[Mudança]: Qual é o sétimo continente?


"Qual é o sétimo continente?"
- Algumas considerações sobre o processo de mudança -

Sentou-se o ciclo, cruzou a perna:
"Sou um mutante, não me concluam".

Qualquer ciclo muda, entendam. Muda antes do seguinte, muda durante a sua rotação, muda cruelmente antes de se iniciar. A viagem é longa: comecemos por pensar, sem tolerância à primazia, que nós mudamos os ciclos e os ciclos pedem para mudar. Passo as correlações.
É possível pensar, ateoricamente, que estes movimentos genuínos se fazem a preparar o meio, aceitando a preparação na qual também este nos acolhe. É uma relação difícil, acena um sim a cabeça. É uma relação de partilha, de cedência, de controlo, de tomada de decisão, de atribuição de significados.
Todos vivemos em dois continentes: na geografia que nos acultura e na roda da imensurável coincidência circunstância-escolha chamada mudança.
Uma rua sem saída não está preparada para o atleta. Um rio sem vento não recebe o veleiro. Uma cidade sem mistérios não desafia o explorador. Tudo muda antes de mudar, diz-nos a Psicologia do Ambiente, mas também a Psicologia Cognitiva.
Ainda com esta cor de olhos, escolhemos o intervalo tempo-espaço para sermos mudados. Praticar a mudança dá-nos o papel de observador e depois, de escultor; depois, de observador do escultor numa relação criativa e exigente, neste compromisso da vida com a janela de Kafka.
Falo-vos de um globo onde existem sete continentes e onde o sétimo está presente nele mesmo e nos outros seis. Tem a circunstância, o espaço e as mãos incolores que sabem dar a volta ao mundo. O sétimo continente não tem nome mas por agora podemos chamar-lhe mudança, que é, como sabemos, o lugar onde acabamos sempre por nos encontrar.

Ana Rita Caldeira da Silva