A Maria, de 9 anos, não gosta de
dormir sozinha no seu quarto: “Ficas ao pé de mim mãe?”, diz ela. A mãe
conta-lhe outra história, dá-lhe um beijinho e sai. Poucos minutos depois, a Maria
aparece novamente à porta do quarto da mãe: “Acho que ouvi qualquer coisa no
quintal! Tenho medo que alguém entre cá em casa!” Mãe: “Não está ninguém no
quintal, não vai acontecer nada”. Maria: “Mas eu vi no telejornal mãe, pode
entrar alguém cá em casa!” A Maria nunca se tinha preocupado com as notícias
que davam na televisão. Só recentemente é que os seus pais se aperceberam que
ela fica muito preocupada quando vê notícias.
Será que a Maria tem uma
perturbação de ansiedade?
É
possível, mas para termos a certeza precisaríamos de bastante mais informação.
As
crianças com ansiedade veem o mundo como um lugar perigoso. Têm medo de se
magoar, física ou socialmente e sentem-se ansiosas mesmo quando não existe um
perigo real. A forma como as crianças lidam com a sua ansiedade pode torná-la
pior. Se continuarem a evitar as coisas que as deixam ansiosas, nunca irão aprender
estratégias eficazes para lidar com a ansiedade e esta continuará a aumentar.
O Medo e a Ansiedade
Ao longo da infância e adolescência
surgem determinados medos, que são transitórios
e normativos e que protegem a criança face a estímulos que são
incompreendidos e incontroláveis para ela. Na sua maioria, os medos aparecem
numa determinada fase de desenvolvimento de forma a facilitar a resolução de
determinadas tarefas. São, por isso, adaptativos e tendem a desaparecer ou a
diminuir quando deixam de o ser. As crianças em idade pré-escolar têm normalmente
medo de coisas imaginárias (por exemplo, monstros escondidos debaixo da cama),
enquanto que em idade escolar receiam sobretudo coisas reais que podem acontecer
(por exemplo, serem assaltadas). Mais tarde, os medos têm tipicamente a ver com
o possível fracasso escolar ou social.
Em algumas situações, os medos persistem
depois de terem comprido a sua função adaptativa e interferem
significativamente nas rotinas diárias da criança, podendo tornar-se
patológicos.
As perturbações de ansiedade são
consideradas uma das perturbações
psiquiátricas mais prevalentes em crianças e adolescentes. Costello e
colaboradores (2003), num estudo epidemiológico,
verificaram que aproximadamente 10% das crianças sofrem de um problema de
ansiedade clinicamente significativo antes dos 16 anos de idade.
Tem
sido demonstrado que as perturbações de ansiedade interferem de forma
significativa no funcionamento adaptativo da criança em diferentes domínios,
como o escolar, o familiar e o das interações interpessoais. A presença destas
perturbações na infância coloca em risco as aprendizagens escolares, as
interações sociais e dificulta a resolução de tarefas de desenvolvimento, como
por exemplo, a independência financeira, a separação da família de origem e a
obtenção de um emprego. São ainda consideradas um fator de risco para o
desenvolvimento posterior de outras perturbações de ansiedade, depressão e
abuso de substâncias.
Sabia que?
Apesar
da sua elevada prevalência, frequentemente as perturbações de ansiedade não são
detetadas nem são alvo de intervenção. No estudo de Lyneham e Rapee (2007), os
autores verificaram que apenas 32% das crianças identificadas como tendo uma
perturbação de ansiedade já haviam recorrido a ajuda profissional. Segundo os
autores, os sintomas de ansiedade podem ser vistos pelos pais como um traço de
personalidade da criança que, por sua vez, não é modificável. Segundo os
resultados do estudo, 81% das mães reconheceram problemas de externalização nos
seus filhos, mas apenas 54% reconheceram sintomatologia de ansiedade. As
crianças com ansiedade são normalmente calmas e obedientes e isto pode fazer
com que os seus problemas passem despercebidos, por serem menos visíveis e
menos perturbadores para os outros.
SINAIS DE ALERTA
As crianças com uma perturbação
de ansiedade podem:
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O que os outros podem
notar:
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• Pedir tranquilizações
frequentemente
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• Dependem demasiado do
adulto
• Pedem de ajuda em relação
a coisas que já conseguem fazer sozinhos
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• Evitar situações que as
preocupam ou as deixam assustadas
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• Não querem preparar-se
para ir para a escola
• Não querem dormir
sozinhos no seu quarto
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• Tentar que sejam os
outros a fazer as coisas que os deixam preocupados/com medo
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• Perguntam frequentemente:
“Podes ir lá tu?”
• Perguntam frequentemente:
“Diz tu por mim?”; “Pede tu?”
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• Apresentar queixas somáticas
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• Queixam-se
frequentemente de dores de cabeça ou de barriga,
vómitos, náuseas, dores musculares
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• Evitar situações novas e
correr riscos
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• Preocupam-se em fazer as
coisas sempre bem
• Preferem ficar a ver do
que participar
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• Apresentar muitos medos
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• Têm medo do escuro, de testes,
de injeções, de cães, de germes e de ficar sozinho…
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• Frustrar-se facilmente
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• Choram facilmente
• Queixam-se
frequentemente que gozam com eles
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• Apresentar muitas
preocupações
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• Veem sempre um lado
perigoso em tudo
|
Teresa Marques
Vanessa Russo
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