Normalmente, os modelos
das perturbações dos adultos são adoptados como base inicial para a compreensão
das mesmas perturbações em crianças. Da mesma forma, as intervenções
psicológicas dirigidas a perturbações na infância têm sido desenvolvidas a
partir de modelos cognitivo-comportamentais dirigidos às perturbações dos
adultos. Contudo, as crianças não são de forma alguma “pequenos adultos” e
quando trabalhamos com elas percebemos rapidamente que estes acompanhamentos têm
algumas particularidades e especificidades que os tornam bastante diferentes. Assim,
gostávamos de vos falar de dois aspectos que consideramos muito importantes:
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Por último, mas não menos importante, gostávamos de
vos falar do facto de as crianças não
serem clientes individuais. Normalmente, não são as crianças que recorrem à
ajuda de um psicólogo, mas sim os seus pais/cuidadores. Procurar ajuda para si
mesmo é muito diferente de ser enviado pelos pais para o psicólogo! Inicialmente
as crianças podem não se sentir motivadas para a terapia e inclusivamente podem
opor-se à mesma. Este facto é importante e tem implicações directas na
intervenção com crianças. Um dos maiores desafios iniciais do psicólogo é fazer
com que a criança goste de estar na terapia e que queira voltar na próxima
sessão! Assim, os esforços para criar um ambiente divertido, afectivo e
agradável são essenciais para uma maior motivação da criança e dos pais. Outro
dos desafios enfrentados pelo psicólogo tem a ver com o facto das crianças e o
seu comportamento depender em grande parte do mundo que as rodeia. Consequentemente,
o papel da família é fundamental. É
importante identificar a visão dos pais sobre os problemas da criança, perceber
o papel das suas cognições e dos seus comportamentos no desenvolvimento e
manutenção do problema e avaliar a capacidade que eles têm para apoiar a
intervenção. A escola e outras influências contextuais também devem ser
consideradas. Deste modo quando trabalhamos com crianças, embora o objectivo
seja a mudança individual, múltiplas influências devem ser consideradas e
incorporadas.
Sabia
que?
Um estudo de Kendall e
Southam-Gerow (1996) observou que, passado um ano após a TCC dirigida às
perturbações de ansiedade, o que crianças relembraram como o mais importante
foi a “relação terapêutica” (nome do terapeuta, simpatia do terapeuta…) e o que
consideraram menos importante foi o preenchimento de questionários. Por outro
lado, 39% das crianças relataram ter usado pelo menos uma vez as estratégias aprendidas
e 27% relataram um uso activo actual. Em resposta a uma pergunta sobre
auto-confiança, 94% das crianças afirmaram que sua auto-confiança aumentou.
Teresa Marques
Vanessa Russo
Referências:
Barrett, P.M.
(2000). Treatment of childhood anxiety: developmental aspects. Clinical
Psychology Review, 20, 479-494.
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