Lembram-se de Einstein?
Desafiei, particularmente os psicólogos, a um exercício de descentração cognitiva, pelo menos tão “genial” como aquele que
levou Einstein a descobrir a importância da psicologia do desenvolvimento
cognitivo!
Vejamos
então se conseguiram captar a pré-lógica
que caracteriza a forma de representar o tempo que vos mostrei há uns dias e que
Piaget designou pensamento pré-operatório.
Nesta primeira forma de
representação, a criança associa a idade
das pessoas ao crescimento físico (particularmente à altura), a dimensão perceptivamente saliente. Por isso, quem
é fisicamente maior é sempre mais velho e, se os adultos pararam de crescer,
então já não podem envelhecer mais. Também por isso, a idade não depende da
data do nascimento, pois quem nasceu primeiro é geralmente a própria criança,
mesmo que seja a mais nova da família (egocentrismo
do pensamento), mas os mais novos podem sempre, um dia mais tarde, passarem
a ser os mais velhos, se crescerem muito e ficaram fisicamente maiores. Em
síntese, o pensamento pré-operatório é regulado por critérios perceptivos
e egocêntricos que são inquestionáveis para o próprio sujeito,
pois o que parece é e não pode deixar de
ser assim.
Oiçam agora o que
diziam outras crianças, da mesma idade ou um pouco mais velhas (4-7 anos), cujo
pensamento Piaget situa num nível intermédio (entre o pensamento
pré-operatório e o pensamento operatório concreto) de representação da
idade das pessoas!
Tens irmãos? Uma irmã e um irmão, Florian,
de 9 meses. Vocês são da mesma idade? Não.
Primeiro o meu irmão, depois a minha irmã, depois eu, depois a mãe, depois o
pai. Mas quem nasceu primeiro? Eu,
depois a minha irmã, depois o meu irmão. Então quando tu ficares velho, o
Florian vai continuar mais novo do que tu? Sempre
não. A gente vai ficar com a mesma idade. (Piaget, 1946a/2002, p. 235-237, Tipo 2.1)
Tens irmãos? Uma irmã
mais nova, de 6 anos. Quantos anos menos do que tu? Dois anos. Quando tu fores uma senhora, ela terá a mesma idade que
tu? Não, ela será menor do que eu.
Quantos anos menos. Dois. Tens a
certeza? Sim. Porquê? Porque é sempre a mesma coisa que agora.
E quando forem muito velhas? Sempre a
mesma coisa. Então qual das duas
nasceu antes da outra? Não sei. Quem
nasceu primeiro? Não sei. Ela não me
disse quando nasceu. (Piaget, 1946a/2002, p. 235-237, Tipo 2.2)
Será que estas duas
formas de pensar a idade das pessoas são, de facto, mais inteligentes do que a
representação que tinham as crianças pré-operatórias? Porquê? O que é novo,
diferente, mais realista, na representação da idade por estas crianças? E o que
permanece primitivo, perceptivo e egocêntrico? Ou será que Piaget não tem razão,
o pensamento das crianças continua apenas regulado por critérios pré-lógicos,
pré-operatórios, e isso a que chamou desenvolvimento cognitivo permanece, por
agora, uma pura ilusão?
Desafio então os meus
leitores, particularmente os psicólogos, a um novo exercício de descentração cognitiva, tão exigente
como aquele que já experimentaram. Espero!...
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