Pedagogia
Aplicada ao Desenvolvimento Social
Fala-se em pedagogia: a que vive nas correntes, no design, nas políticas
da educação, nos projectos financiados, nas metacriações, nos dilúvios
estatais, no altruísmo dos que vão pela causa. Omnipresente.
Foco a lente na pedagogia aproximada às práticas de intervenção. Foco a
pedagogia no desenvolvimento social e comunitário.
Não raras vezes, nascem projectos elaborados sobre refinados dogmas,
destinados a uma população, com um how-to
fabricado nas nossas ideias. Muitas vezes, dedicados a grupos de jovens. Adequemo-nos,
nós, profissionais. Sejamos parte do processo e do seu nascimento; não as
figuras distantes que escolhem os parágrafos certos dos livros. Adequemos as
práticas, sejamos as práticas, conheçamos as pessoas, contemplemos as fases de
vida, estudemos a pedagogia.
Vamos mergulhar num setting:
sistemas – contexto de risco – relações intergeracionais conflituosas –
desemprego – pirâmide de Maslow asfixiada (passo a causalidade tão linear). Depois,
pensamos num projecto de intervenção, desenvolvimento e formação para os
desafios. Aplaudimos os conteúdos: emoções – pensamentos - comportamentos –
vínculos – papéis – resolução de conflitos – partilha. Clap – clap.
Talvez tenhamos que ser também outras práticas. Naturalmente, aqui
estamos nós a existir e junto a nós, os nossos desafios intelectuais e tácitos,
no caminho que nos cativa para o que há além. Assim, no trabalho com práticas
pedagógicas e formativas em contexto de risco, com preâmbulos comunitários,
podemos nós ser a corda que dá o sopro ao salto.
Peguemos de novo nas emoções, pensamentos, comportamentos, vínculos, papéis,
resolução de conflitos, partilha (clap-clap) e construamos uma pirâmide de
prioridades pedagógicas. Não só com os conteúdos: com as pessoas do sistema que
são o início dos modelos sociais. A pedagogia, em pirâmide, com a colaboração
dos elementos que transmitem o modelo geracional, usando o que já fazem, o que
já conhecem, o que já funciona.
Acções começam na prática com a valorização do que já existe, no fermento
de ser maior. Não regar a corrosão; ser justamente a película que protege as
competências que já respiram e que polvilha a motivação no seu desenvolvimento.
Quero ser mais organizadora: há uma população; há diferentes sistemas; há
diferentes selves. Histórias de vida,
de relações, de desafios, de pontos fortes, de mudanças. Qualquer acção
pedagógica e formativa será o novo embrião, nascido top-down. A realidade que veste as práticas e que reforça a importância
prioritária de também formar adultos, que são modelos para outras gerações.
Adultos que têm práticas e que em contexto de risco, nem sempre são o target escolhido. Estes, também interrompem
os seus estádios com desafios temporalmente muito próximos e negligenciam a sua
formação e a consolidação de competências funcionais. Estes, são o modelo dos
filhos, dos netos. Dos que estão perto.
Neste sentido (que é semanticamente um, no humanismo de muitos) somos
nós, profissionais, também responsáveis pela Modulagem das pessoas com as quais
trabalhamos. E se Maslow tem uma Hierarquia de Necessidades, vejo Bandura com
uma Hierarquia de Modulagem: usar a pedagogia como veículo para formar modelos
para as gerações. Também esta prática é piramidal e todos, enquanto crianças,
do topo da pirâmide viajamos até à base. À base enquantos adultos, que também
formam, que educam, que são pedagogos nos seus sistemas.
Pensemos, quando escolhermos mudanças, que a prática é o primeiro espelho
onde o desenvolvimento se consegue reflectir.
Ana Rita
Caldeira
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