No
meio de uma conversa sobre violência doméstica ou mesmo ao ler uma notícia no
jornal, esta pergunta já pode ter passado algumas vezes nas nossas cabeças: se
é tão horrível – como acreditamos que realmente é - porque é que não se vai
simplesmente embora? A resposta é “não é
assim tão simples”. Mas porquê?
Supõe-se
que todas as relações se iniciem com uma fase de encantamento, o que não será
diferente nos casos de violência doméstica – a agressão física não se inicia ao
mesmo tempo que a relação, mas é sim gerada por um ciclo gradual.
Desde
o início será possível reparar em certas características do ofensor, como um
comportamento controlador: o levar/trazer constante do local de trabalho/escola
e as “esperas surpresa”; o controlo das chamadas, contacto e visitas de amigos
e familiares; o “cuidado” com a forma de vestir do/a companheiro/a… Tudo em bom
nome dos “ciúmes” – que parecem ser tão engraçados ao início. Passado um tempo,
estes acontecimentos agravam-se e a violência psicológica sucede-se quando existem
táticas de isolamento dos amigos e familiares, atitudes intimidatórias, ameaças
e perseguição. Verifica-se a subvalorização das capacidades e actividades da
vítima, privando-a assim da sua auto-estima e tornando-a insegura e controlável
- passando também pela violência económica (impedi-lo/a de trabalhar ou
controlar o ordenado). A vítima acaba assim por ser responsabilizado/a pelas tensões originadas pelo
agressor e quando se começa a “rebelar”, sucede-se a agressão física, impedindo-o/a
de reagir, ou agressão sexual (normalmente nos casos mais graves). Nesta etapa,
o agressor manifesta arrependimento, prometendo que não vai voltar a ser
violento/a e fazendo com que regressem, mais uma vez, à fase de encantamento.
Este
ciclo contínuo gera confusão e medo na vítima devido à simultaneidade da
imprevisibilidade da violência e crença no falso arrependimento do
companheiro/a. Escusado será dizer que se complica quando existem crianças,
consumos de substâncias e dificuldades económicas.
Ana
Lopes
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