segunda-feira, 16 de dezembro de 2013

Debate sobre a Lei da Co-adopção por Casais Homossexuais, por Maria Stella Aguiar


Escrevi este texto no mês de Agosto e, embora chegue atrasado, vou manter o original, que é mesmo assim.
 
Para muitos de nós, é tempo de férias. Param as rotinas do ano, para apenas se sentir a vida fluir e descobrir o prazer de “deitar conversa fora” com quem vamos encontrando nas praias, entre areia, festas e petiscos. Vamos então parar a viagem por onde nos tem levando o nosso comboio do desenvolvimento humano e conversar sobre dois temas que o Tiago Fonseca nos deixou, a adopção de crianças por casais homossexuais e a importância e os riscos do exercício crítico.
Vi e ouvi o vídeo relativo à intervenção do nosso Bastonário, Doutor Telmo Batista, sobre a adopção de crianças por casais homossexuais. Gostei. Coloca um conjunto de questões pertinentes e apresenta-nos um estudo sério sobre os resultados científicos nesta matéria.
Porém, como o próprio Telmo Batista reconhece, os resultados científicos são sempre limitados e simplesmente prováveis. São, por isso, passíveis da crítica “construtiva” que recomenda o Tiago Fonseca e para a qual vou aqui tentar contribuir.
Acredito que a orientação sexual pouco ou nada tem a ver com a qualidade pessoal, social ou moral do indivíduo, com o equilíbrio e estabilidade da relação conjugal e mesmo com as respectivas competências parentais. Contudo - perdoem-me os investigadores - permanecem componentes que, do meu ponto de vista, ainda colocam as crianças adoptadas por casais homossexuais em situação de risco para o seu desenvolvimento psicológico. Vamos conversar sobre um deles.
Diz-nos Telmo Batista que a investigação neste domínio indica que este grupo de crianças e adolescentes tendem a ser socialmente estigmatizados. Se pensarmos que uma criança só é adoptada porque antes foi abandonada pelos seus pais biológicos e, geralmente, foi posteriormente institucionalizada, para a criança ou jovem, este percurso de vida mais não é que a experiência de uma dupla exclusão afectiva, emocional e social. Assim sendo, e por muito respeito que os estudos nos mereçam, juntar a estas crianças ou jovens mais um estigma, mais experiência de exclusão, poderá constituir uma “overdose” para um desenvolvimento psicológico equilibrado.
Será esta opção de adopção eticamente legítima, quando são já sobejamente conhecidos os prejuízos do abandono precoce e da própria institucionalização?
Será esta opção de adopção mais favorável para o desenvolvimento das crianças e jovens do que a sua permanecia na instituição que as acolheu e à qual, melhor ou pior,  já tiveram que se adaptar?
Será que esta opção de adopção não impede que tais crianças e jovens venham a ser adoptadas por uma família que, na sociedade que temos, não os exponha a novas experiências de exclusão pessoal e social?
 
Em síntese, será que esta opção de adopção contribui mais para o desenvolvimento das crianças e jovens ou para o desenvolvimento pessoal e social das próprias famílias homossexuais? 
Não tenho resposta científica para tais dilemas. Tenho apenas dúvidas. Mas, acredito que, na decisão sobre a vida e desenvolvimento psicológico de uma criança ou de um jovem que já foi tão vitimizado, não é prudente que permaneçam dúvidas deste tipo.    
Mudar a sociedade, os seus estereótipos e as suas crenças, é difícil e leva muito tempo. Mas, o desenvolvimento destas crianças e jovens não pode esperar. Não seria então mais prudente, mais adaptado e mais viável começar por utilizar o saber que construímos sobre o desenvolvimento psicológico para repensar as próprias instituições que oferecemos às crianças e jovens que, por razões diversas, perderam a sua família biológica?

M Stella Aguiar

3 comentários:

Cristina Batista disse...

Boa noite,
É com grande pena minha que vejo pessoas que se intitulam psicólogos, com conhecimento da mente humana a escrever textos neste registo.
Entendo que seja uma opinião de alguém que claramente cresceu no seio de uma sociedade preconceituosa e claramente prefere acreditar na educação que recebeu em oposição a factos e dados reais.
Mas à parte de todas as opiniões que existe sobre este assunto sendo a minha apenas mais uma, tenho de expôr o óbvio. A lei da co-adoção nada têm a ver com o descrito neste texto pobre que acabei de ler, tenho pena que a autora do mesmo não se tenha informado ao ponto de vir dar uma opinião sem sequer saber ao que se referir o que comprova mais o ponto em que digo que o preconceito fala sempre mais alto.
De qualquer forma e não sendo extensa fico profundamente entristecida com comentários deste género. E termino por aconselhar a autora a informar-se do que fala em vez de tirar a credibilidade a um site que até tinha algum apreço em ler e que me parecia sempre interessante e como resposta a todo o texto descambido e fora do contexto só respondo: ainda bem que a sociedade esta a evoluir. O preconceito so existe na cabeca de cada um de nos. actualmente pessoas de cor podem adoptar sem serem considerados marginais e sem acharem que vão levar uma educação negativa por parte dos parentes.
O mesmo espera-se que aconteça a casais homosexuais que são casais como qualquer um e tão competentes para ser parentes como quaisqueres individuos. Preconceito e racismo existe e irá sempre existir por pessoas com um alto complexo de inferioridade que sentem necessidade de rebaixar e excluir classes minoritárias. Psicologia pura meus amigos.
De qualquer forma é sempre bom ver diferentes opiniões.
Cumprimentos.

Tiago A. G. Fonseca disse...

Cara Cristina, antes de mais, é com agrado que leio o seu comentário. E se opiniões divergentes são o necessário para que os comentários surjam, irei incentivá-los cada vez mais aos colaboradores do Psicologia Para Psicólogos.
Faço também aqui um ponto de situação referente ao blog: todas as opiniões são bem vindas e são elas que tornam a Psicologia uma ciência em constante movimento. Não retira, por isso, credibilidade alguma ao blog, pelo contrário, só a aumenta.
Não reserve aos outros um direito que quer para si, que é o da opinião divergente.

Quanto ao texto, penso que os pontos de reflexão são sem dúvida relevantes. É uma temático que deve, efectivamente, fazer parte do diário dos psicólogos para que rapidamente chegue à sociedade de forma coerente, clara, sem esconder intenções ou caminhos.

Centrar a conversa na criança é fulcral, e não nos devemos nunca desviar por questões de direitos humanos de quem adopta, desviando a atenção de quem é adoptado.

Obrigado a todos pela participação ;)

Tiago A. G. Fonseca disse...

Um acrescento ao que eu disse.
Cara Cristina, quando fala de "factos e dados reais", refere-se a quê? Penso que será importante para esta discussão, mais cuidada e informada, que partilhe os mesmo! Obrigado!