domingo, 8 de dezembro de 2013

[Psicriancices]: Terapia na Ansiedade com Crianças e Adolescentes


“O Pedro está sempre preocupado. Quando vai para a escola agarra-se à mãe e é sempre muito difícil largá-la. Preocupa-se muito que os colegas gozem com ele e portanto evita estar com outros meninos. Por causa disso, o Pedro tem poucos amigos e sente-se frequentemente triste e sozinho. Em casa, precisa sempre da presença do pai ou da mãe quando vai dormir. Acorda constantemente durante a noite e vai para a cama dos pais. O Pedro também manifesta vários sintomas físicos quando está preocupado – sente vontade de vomitar, dores de cabeça, dores de barriga e por vezes tem ataques de pânico em situações sociais. Os pais, preocupados com esta situação levaram o Pedro à psicóloga Dra. Laranja. Depois da avaliação, a Dra. Laranja diagnosticou o Pedro com perturbação de ansiedade de separação em co-morbilidade com fobia social e recomendou intervenção psicológica.

Qual a terapia mais indicada para as perturbações de ansiedade?
A nossa primeira escolha seria a terapia cognitivo-comportamental. Esta decisão prende-se com o facto de numerosos estudos e investigações terem vindo a demonstrar a eficácia a curto (e.g. Kendall, 1994; Kendall et al., 1997) e a longo prazo (Kendall & Southam-Gerow, 1996; Kendall et al., 2004) das terapias cognitivo-comportamentais dirigidas às perturbações de ansiedade em crianças e adolescentes. A medicação também pode ser útil em alguns casos, especialmente quando os sintomas de ansiedade são muito severos. No entanto, tem vindo a ser demonstrado que a TCC, não só reduz os problemas actuais, como também ajuda a evitar recaídas e depressão em idades posteriores.

Em consulta, a Dra. Laranja começa por ajudar o Pedro a identificar e a expressar as suas emoções. Durante as sessões iniciais, o Pedro construiu com a Dra. Laranja um diário de emoções.

A TCC dirigida aos problemas de ansiedade em crianças e adolescente envolve sempre alguns “ingredientes”, que têm como objetivo ensinar às crianças estratégias eficazes para enfrentarem e reduzirem a ansiedade. As principais competências trabalhadas são, em geral, o reconhecimento de emoções e da relação entre emoções e cognições, o relaxamento, o desenvolvimento do discurso interno mais adaptado, a identificação e modificação de pensamentos ansiógenos, a resolução de problemas, a exposição gradual e a auto-avaliação e auto-reforço.

Nas sessões seguintes, o Pedro aprendeu técnicas de relaxamento (respiração profunda e relaxamento muscular), de desenvolvimento de um discurso interno positivo e adaptado (“As pessoas podem não estar a falar sobre mim. Eles podem estar só a contar algumas piadas. Vou ter com eles e falar-lhes”) e estratégias de resolução de problemas para o ajudar a identificar e implementar soluções para as situações que o deixavam nervoso. A maioria das sessões foram realizadas individualmente, mas os pais do Pedro também participaram nestas sessões para aprender igualmente as estratégias e estabelecer um plano de confronto para a prática das estratégias fora da sessão.

As famílias são frequentemente envolvidas na terapia. A psico-educação sobre as emoções e o papel do evitamento na ansiedade é muito útil para algumas famílias. Os membros da família podem oferecer um apoio importante para que a criança aprenda novas estratégias de coping e as pratique em situações que anteriormente evitava. O envolvimento dos pais/cuidadores na terapia tem-se mostrado especialmente importante para as crianças mais jovens.

Nas últimas sessões a Dra. Laranja, o Pedro e os seus pais elaboraram um plano de confronto para que ele tivesse a oportunidade de utilizar e treinar as estratégias aprendidas em situações que o deixavam ansioso, começando com situações com níveis baixos de ansiedade e evoluindo, gradualmente para situações com níveis mais elevados. O Pedro pediu ao professor um lápis; pediu a um empregado de mesa um guardanapo; apresentou-se a um colega novo; respondeu a perguntas na sala de aula, etc. Em conjunto, a Dra. Laranja e o Pedro fizeram um “cartão poderoso” com estratégias que ele podia usar nessas situações (pensar de forma útil, respiração profunda, relaxamento muscular, o uso de resolução de problemas, pedir ajuda). O Pedro, por vezes, levava o “cartão poderoso” com ele no bolso ou na mochila.

No tratamento das perturbações de ansiedade em crianças é também muito importante o reforço/auto-reforço e as recompensas. Sempre que a criança enfrenta uma situação que a deixa ansiosa deve ser recompensada, não só pelo sucesso, como também pelo esforço.
O tratamento das perturbações de ansiedade funciona igualmente bem se for realizado em grupo. Em grupo, as crianças sentem-se mais compreendidas e têm uma óptima oportunidade para aprender competências sociais!

Em resposta à intervenção psicológica, os sintomas de ansiedade do Pedro reduziram significativamente ao longo de 9-12 meses. O Pedro deixou de ser uma criança tão preocupada e tornou-se mais calmo e feliz. Ficou mais participativo na escola e fez várias amizades!

Teresa Marques
Vanessa Russo


Referências:
Kendall, P. C. (1994). Treating anxiety disorders in children: Results of a randomized clinical trial. Journal of Consulting and Clinical Psychology, 62(1), 100-110.
Kendall, P. C., Flannery-Schroeder, E., Panichelli-Mindel, S. M., Southam-Gerow, M., Henin, A., & Warman, M. (1997) Therapy for youths With Anxiety Disorders: A Second Randomized Clinical Trial. Journal of Consulting and Clinical Psychology, 65(3), 366-380.
Kendall, P. C., Southam-Gerow, M., (1996). Long-term follow-up of a cognitive-behavioral therapy for anxiety-disordered youth. Journal of Consulting and Clinical Psychology, 64(4), 724-30.
Kendall, P. C., Safford, S., Flannery-Schroeder, E., Webb, A. (2004). Child Anxiety Treatment: Outcomes in Adolescence and Impact on Substance Use and Depression at 7.4-Year Follow-Up. Journal of Consulting and Clinical Psychology, 72(2), 276-287-

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