Lembram-se de Einstein
e do desafio de descentração cognitiva
que, há uns meses, deixei aos nossos leitores, particularmente aos
psicólogos?
Vejamos então se
conseguiram captar a forma de pensar o tempo que vos mostrei há uns dias e que
Piaget situou num nível intermédio entre o pensamento pré-operatório e o pensamento
operatório concreto de representação da idade das pessoas!
Nesta segunda forma de
representação, a criança associa a idade
das pessoas, ou à data de nascimento, ou
ao crescimento físico. Vejamos!
As crianças que Piaget
designa de tipo 2.1 já sabem
ordenar corretamente as datas de nascimento e associam a idade das pessoas a
essa ordem, mas nem por isso concluem que a idade permanece necessariamente no
tempo. Assim, já não é a própria criança que nasce sempre primeiro, pois os
avós nasceram antes dos pais, os pais antes dos irmãos mais velhos e assim
sucessivamente…Porém, o que parece é ainda demasiado sedutor e, um dia mais
tarde, quando forem crescidos, os que eram mais novos podem ficar os mais
velhos ou podem até ficar todos da mesma idade.
Pelo contrário, as
crianças que Piaget designa de tipo 2.2 já sabem que as diferenças de idade se conservam no tempo, mas nem por
isso concluem que elas indicam a ordem de nascimento das pessoas. Assim, os
avós são sempre mais velhos do que os pais, os pais mais velhos do que os
filhos…Porém, isso não quer dizer que os filhos e, particularmente a própria
criança, não possam ter nascido antes dos avós ou dos pais, pois isso a criança
não pode saber, porque não viu, já não se lembra e ainda não perguntou a
ninguém.
Em síntese, este nível
intermédio entre o pensamento pré-operatório e o pensamento operatório concreto
é alternadamente regulado, ou pela permanência dos critérios perceptivos
e egocêntricos
primitivos, ou pela emergência de critérios lógicos ou operatórios
(seriação dos nascimentos e coordenação com as diferenças de idade das pessoas;
ou seriação das idades e conservação dessas diferenças etárias) associados à
capacidade de descentração cognitiva
e, por isso, o que parece já pode ou não
ser assim.
Oiçam agora o que
diziam outras crianças, da mesma idade ou um pouco mais velhas, cuja representação
da idade das pessoas já não nos surpreende!
Tens irmãos? Um irmão mais pequeno e
outro ainda mais pequeno, Charles e Jean. Quem nasceu primeiro? Eu, depois Charles, depois Jean. Quando
vocês forem grandes, quais serão as idades de cada um? Eu mais velho, depois Charles, depois Jean. Tu serás muito mais
velho? A mesma coisa que agora. Por
quê? É sempre a mesma diferença. Isso
depende de quando nós nascemos. (Piaget, 1946a/2002, p. 240-241)
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Para as crianças,
adolescentes ou adultos que Piaget situa no nível operatório concreto, a
noção de idade torna-se independente da percepção, do crescimento físico das
pessoas e, agora, o que parece não é
necessariamente assim. Porquê? Porque, uns e outros, já conseguimos coordenar, de forma reversível,
a seriação dos nascimentos e das idades das pessoas, compreendemos que
a ordem de nascimentos indica diferenças de idade e vice-versa e, por isso,
concluímos que essas diferenças de idade se conservam, permanecem,
necessariamente, imutáveis no tempo.
M. Stella Aguiar
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