Escrevi este texto no
mês de Agosto e, embora chegue atrasado, vou manter o original, que é mesmo
assim.
Para muitos de nós, é
tempo de férias. Param as rotinas do ano, para apenas se sentir a vida fluir e
descobrir o prazer de “deitar conversa fora” com quem vamos encontrando nas praias,
entre areia, festas e petiscos. Vamos então parar a viagem por onde nos tem levando
o nosso comboio do desenvolvimento humano e conversar sobre dois temas que o
Tiago Fonseca nos deixou, a adopção de crianças por casais homossexuais e a
importância e os riscos do exercício crítico.
Vi e ouvi o vídeo
relativo à intervenção do nosso Bastonário, Doutor Telmo Batista, sobre a adopção
de crianças por casais homossexuais. Gostei. Coloca um conjunto de questões
pertinentes e apresenta-nos um estudo sério sobre os resultados científicos nesta
matéria.
Porém, como o próprio
Telmo Batista reconhece, os resultados científicos são sempre limitados e
simplesmente prováveis. São, por isso, passíveis da crítica “construtiva” que
recomenda o Tiago Fonseca e para a qual vou aqui tentar contribuir.
Acredito que a
orientação sexual pouco ou nada tem a ver com a qualidade pessoal, social ou
moral do indivíduo, com o equilíbrio e estabilidade da relação conjugal e mesmo
com as respectivas competências parentais. Contudo - perdoem-me os
investigadores - permanecem componentes que, do meu ponto de vista, ainda colocam
as crianças adoptadas por casais homossexuais em situação de risco para o seu desenvolvimento
psicológico. Vamos conversar sobre um deles.
Diz-nos Telmo Batista
que a investigação neste domínio indica que este grupo de crianças e
adolescentes tendem a ser socialmente estigmatizados. Se pensarmos que uma
criança só é adoptada porque antes foi abandonada pelos seus pais biológicos e,
geralmente, foi posteriormente institucionalizada, para a criança ou jovem, este
percurso de vida mais não é que a experiência de uma dupla exclusão afectiva,
emocional e social. Assim sendo, e por muito respeito que os estudos nos
mereçam, juntar a estas crianças ou jovens mais um estigma, mais experiência de
exclusão, poderá constituir uma “overdose”
para um desenvolvimento psicológico equilibrado.
Será esta opção de adopção
eticamente legítima, quando são já sobejamente conhecidos os prejuízos do
abandono precoce e da própria institucionalização?
Será esta opção de
adopção mais favorável para o desenvolvimento das crianças e jovens do que a
sua permanecia na instituição que as acolheu e à qual, melhor ou pior, já tiveram que se adaptar?
Será que esta opção de
adopção não impede que tais crianças e jovens venham a ser adoptadas por uma família
que, na sociedade que temos, não os exponha a novas experiências de exclusão pessoal
e social?
Em síntese, será que
esta opção de adopção contribui mais para o desenvolvimento das crianças e
jovens ou para o desenvolvimento pessoal e social das próprias famílias
homossexuais?
Não tenho resposta científica
para tais dilemas. Tenho apenas dúvidas. Mas, acredito que, na decisão sobre a
vida e desenvolvimento psicológico de uma criança ou de um jovem que já foi tão
vitimizado, não é prudente que permaneçam dúvidas deste tipo.
Mudar a sociedade, os
seus estereótipos e as suas crenças, é difícil e leva muito tempo. Mas, o
desenvolvimento destas crianças e jovens não pode esperar. Não seria então mais
prudente, mais adaptado e mais viável começar por utilizar o saber que
construímos sobre o desenvolvimento psicológico para repensar as próprias instituições
que oferecemos às crianças e jovens que, por razões diversas, perderam a sua
família biológica?
M Stella Aguiar
3 comentários:
Boa noite,
É com grande pena minha que vejo pessoas que se intitulam psicólogos, com conhecimento da mente humana a escrever textos neste registo.
Entendo que seja uma opinião de alguém que claramente cresceu no seio de uma sociedade preconceituosa e claramente prefere acreditar na educação que recebeu em oposição a factos e dados reais.
Mas à parte de todas as opiniões que existe sobre este assunto sendo a minha apenas mais uma, tenho de expôr o óbvio. A lei da co-adoção nada têm a ver com o descrito neste texto pobre que acabei de ler, tenho pena que a autora do mesmo não se tenha informado ao ponto de vir dar uma opinião sem sequer saber ao que se referir o que comprova mais o ponto em que digo que o preconceito fala sempre mais alto.
De qualquer forma e não sendo extensa fico profundamente entristecida com comentários deste género. E termino por aconselhar a autora a informar-se do que fala em vez de tirar a credibilidade a um site que até tinha algum apreço em ler e que me parecia sempre interessante e como resposta a todo o texto descambido e fora do contexto só respondo: ainda bem que a sociedade esta a evoluir. O preconceito so existe na cabeca de cada um de nos. actualmente pessoas de cor podem adoptar sem serem considerados marginais e sem acharem que vão levar uma educação negativa por parte dos parentes.
O mesmo espera-se que aconteça a casais homosexuais que são casais como qualquer um e tão competentes para ser parentes como quaisqueres individuos. Preconceito e racismo existe e irá sempre existir por pessoas com um alto complexo de inferioridade que sentem necessidade de rebaixar e excluir classes minoritárias. Psicologia pura meus amigos.
De qualquer forma é sempre bom ver diferentes opiniões.
Cumprimentos.
Cara Cristina, antes de mais, é com agrado que leio o seu comentário. E se opiniões divergentes são o necessário para que os comentários surjam, irei incentivá-los cada vez mais aos colaboradores do Psicologia Para Psicólogos.
Faço também aqui um ponto de situação referente ao blog: todas as opiniões são bem vindas e são elas que tornam a Psicologia uma ciência em constante movimento. Não retira, por isso, credibilidade alguma ao blog, pelo contrário, só a aumenta.
Não reserve aos outros um direito que quer para si, que é o da opinião divergente.
Quanto ao texto, penso que os pontos de reflexão são sem dúvida relevantes. É uma temático que deve, efectivamente, fazer parte do diário dos psicólogos para que rapidamente chegue à sociedade de forma coerente, clara, sem esconder intenções ou caminhos.
Centrar a conversa na criança é fulcral, e não nos devemos nunca desviar por questões de direitos humanos de quem adopta, desviando a atenção de quem é adoptado.
Obrigado a todos pela participação ;)
Um acrescento ao que eu disse.
Cara Cristina, quando fala de "factos e dados reais", refere-se a quê? Penso que será importante para esta discussão, mais cuidada e informada, que partilhe os mesmo! Obrigado!
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