quinta-feira, 5 de dezembro de 2013

[Mudança]: A Arte Antes do Desenvolvimento


Há uma acordo entre o corpo e o tempo e a essa circunstância chamou-se arte. Do conflito, surgiu a combinação. 

A arte antes do desenvolvimento: o diálogo do corpo
Existe uma Instituição num país de África, feita de jovens com as suas artes, cuja morada perdi e os nomes espero-os na memória que os devolve. Não sei para que lado do dia acontece, mas tenho a certeza de que acorda na arte do corpo e se prolonga da sua mente para o espaço. Não vejo que importe se a arte que se cria é de vanguarda ou se pertence ao passado do futuro; penso que não há livros de história de arte e deve haver poucas caixas de tintas acrílicas. Desta história tenho agora apenas o segmento que nos partilho, dito, com todos os olhos, pela fundadora: "Quando me dizem que não há recursos neste país, não posso aceitar. Há pessoas aqui a viver".
Como dialoga o corpo com a arte, antes do espaço disponível ao toque ou sem este existir? Como nos dizem as escolas modernas, é o desenvolvimento o elevador da arte? Como nos dizem as escolas modernas, é a arte o elevador do desenvolvimento? Nestas escolas - modernas - ensina-se arte e ensina-se desenvolvimento; admito. E muitas vezes não se cruzam, nestas escolas - modernas -, perdoem-me. Cronologicamente: a educação de infância utiliza a arte para estimular; nos anos intermédios, usa-se a arte como instrumento "de" e "para"; as faculdades reiteram delicadamente a arte, mas nunca as vi implantarem métodos de avaliação que cotem a criatividade. Nunca, até hoje, as escolas me surpreenderam ensinando através do que já existe em todos, sem necessidade de ser criado: a primeira arte. A que antecede o movimento e que está também antes do desenvolvimento; que não é apenas um veículo para um caminho de forma a chegar a um desenvolvimento específico e generosamente estratificado; que não necessita de complexos esquemas desenvolvidos para se captar. Hoje falo da primeira arte, da arte de dentro para fora, da arte como recurso já criado para que aconteça o próprio desenvolvimento, da arte como "recurso natural". Não acontece apenas durante o desenvolvimento / após o desenvolvimento; acontece antes, como a própria oportunidade de que aconteça. Aconteceu-nos.
Tento a clareza: todos devemos concordar que a arte no desenvolvimento funciona como motor, através da criação e utilização de diferentes mecanismos perante necessidades de adaptação que surgem e que se esperam esculpidas do interior para o exterior; concordamos também, arrisco, que o desenvolvimento coloca-nos lentes mais apuradas no olhar para a arte. Mas, nestes processos existe, transversalmente, a primeira arte: de procura, de exploração, de trabalho cognitivo e de socialização constante. Então concordemos que a arte existe já antes da adaptação, antes do próprio desenvolvimento. A arte que já está criada e que é o fio condutor que sai fora da nosso templo e que se estende mais além.
Quando não se aceitar a arte como "recurso natural", desafio um artista do MoMA a acendê-la em terras de Malangatana. Se for a sua arte e não a arte fora de si, será sempre uma aculturação constante do eu, onde a verdadeira criação é uma extensão do eu razão e do eu emoção, no tempo e no espaço que se liga.
Falo da arte que antecede, que integra a própria capacidade integrativa, criativa e exploratória. Que se usa do pensar e do descobrir para celebrar os espaços tão próximos entre imagem e conceito, os ínfimos tempos das culturas, das novas culturas, das outras culturas, das esquecidas culturas, desde que nos tornámos no Homem criador e construtor de sonhos.
E se um dia quisermos voltar à primeira arte, não nos espantemos, porque é sempre a última e a que, no meio, existe pelas mutantes.
Hoje fala-se em amnésia pública e penso que há-de haver alguém para reparar na amnésia do homem-artista, um educador antes do desenvolvimento, que quando não se pensa cria de fora para dentro e depois, para fora. E acabou.

Ana Rita Caldeira

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