Há uma acordo entre o
corpo e o tempo e a essa circunstância chamou-se arte. Do conflito, surgiu a
combinação.
A arte antes do desenvolvimento: o diálogo do corpo
Existe uma
Instituição num país de África, feita de jovens com as suas artes, cuja morada
perdi e os nomes espero-os na memória que os devolve. Não sei para que lado do
dia acontece, mas tenho a certeza de que acorda na arte do corpo e se prolonga
da sua mente para o espaço. Não vejo que importe se a arte que se cria é de
vanguarda ou se pertence ao passado do futuro; penso que não há livros de
história de arte e deve haver poucas caixas de tintas acrílicas. Desta história
tenho agora apenas o segmento que nos partilho, dito, com todos os olhos, pela
fundadora: "Quando me dizem que não
há recursos neste país, não posso aceitar. Há pessoas aqui a viver".
Como
dialoga o corpo com a arte, antes do espaço disponível ao toque ou sem este
existir? Como nos dizem as escolas modernas, é o desenvolvimento o elevador da
arte? Como nos dizem as escolas modernas, é a arte o elevador do
desenvolvimento? Nestas escolas - modernas - ensina-se arte e ensina-se
desenvolvimento; admito. E muitas vezes não se cruzam, nestas escolas -
modernas -, perdoem-me. Cronologicamente: a educação de infância utiliza a arte
para estimular; nos anos intermédios, usa-se a arte como instrumento
"de" e "para"; as faculdades reiteram delicadamente a arte,
mas nunca as vi implantarem métodos de avaliação que cotem a criatividade.
Nunca, até hoje, as escolas me surpreenderam ensinando através do que já existe
em todos, sem necessidade de ser criado: a primeira arte. A que antecede o
movimento e que está também antes do desenvolvimento; que não é apenas um
veículo para um caminho de forma a chegar a um desenvolvimento
específico e generosamente estratificado; que não necessita de complexos
esquemas desenvolvidos para se captar. Hoje falo da primeira arte,
da arte de dentro para fora, da arte como recurso já criado para que aconteça o
próprio desenvolvimento, da arte como "recurso natural". Não acontece
apenas durante o desenvolvimento / após o desenvolvimento; acontece antes, como
a própria oportunidade de que aconteça. Aconteceu-nos.
Tento a
clareza: todos devemos concordar que a arte no desenvolvimento funciona como
motor, através da criação e utilização de diferentes mecanismos perante necessidades
de adaptação que surgem e que se esperam esculpidas do interior para o
exterior; concordamos também, arrisco, que o desenvolvimento coloca-nos lentes
mais apuradas no olhar para a arte. Mas, nestes processos existe,
transversalmente, a primeira arte: de procura, de exploração, de trabalho
cognitivo e de socialização constante. Então concordemos que a arte existe já
antes da adaptação, antes do próprio desenvolvimento. A arte que já está criada
e que é o fio condutor que sai fora da nosso templo e que se estende mais além.
Quando não
se aceitar a arte como "recurso natural", desafio um artista do MoMA
a acendê-la em terras de Malangatana. Se for a sua arte e não a arte fora de
si, será sempre uma aculturação constante do eu, onde a verdadeira criação é uma
extensão do eu razão e do eu emoção, no tempo e no espaço que se liga.
Falo da
arte que antecede, que integra a própria capacidade integrativa, criativa e exploratória.
Que se usa do pensar e do descobrir para celebrar os espaços tão próximos entre
imagem e conceito, os ínfimos tempos das culturas, das novas culturas, das
outras culturas, das esquecidas culturas, desde que nos tornámos no Homem criador
e construtor de sonhos.
E se um dia
quisermos voltar à primeira arte, não nos espantemos, porque é sempre a última e
a que, no meio, existe pelas mutantes.
Hoje
fala-se em amnésia pública e penso que há-de haver alguém para reparar na
amnésia do homem-artista, um educador antes do desenvolvimento, que quando não
se pensa cria de fora para dentro e depois, para fora. E acabou.
Ana Rita Caldeira
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