quinta-feira, 19 de dezembro de 2013

[Criminal-Forense]: Declarações para memória futura: O que são?


As declarações para memória futura são uma forma de prova testemunhal, em que se possibilita a testemunhas ou vítimas que se faça depoimento na fase de inquérito (primeira fase do processo penal, em que se reúnem as provas para se ir a julgamento).
Ao recolher-se o testemunho mais cedo, permite que se evite o esquecimento dos factos ou a sugestionabilidade, mas não só. Por norma, realizam-se este tipo de declarações em situações específicas, a “testemunhas especialmente vulneráveis”: como menores, em casos de doença ou de partida para o estrangeiro. Este último poderá entender-se, como por exemplo, uma vítima de tráfico humano que ao necessitar de proteção, torna-se imperativa a sua saída do país.
Pretende-se que a vítima não tenha de repetir o depoimento no futuro - sendo este gravado na audiência - evitando-se a revitimização e minimizando-se também repercussões emocionais. No entanto, se no julgamento o juiz considerar que o testemunho gravado é insuficiente, poderá voltar a convocar a testemunha (o juíz da fase de inquérito não é o mesmo da fase de julgamento).
Procura-se garantir a veracidade e espontaneidade das respostas, sendo que o arguido não pode comparecer à audiência, verificando-se por exemplo essencial em casos de abuso sexual de menores, maus-tratos, em que o menor terá de depor contra um familiar.
O psicólogo forense deverá acompanhar o menor à audiência, explicando-lhe o que se irá suceder e como se deve comportar em tribunal: transmitir para dizer sempre a verdade, traduzir conceitos jurídicos e explicar onde e porque estarão presentes os vários intervenientes. É também averiguada a capacidade do menor em testemunhar e em diferenciar a verdade da mentira. Durante a inquirição, o psicólogo deverá assegurar que a forma de questionamento empregue é a correta e procurar indícios de ansiedade, podendo interromper a audiência para intervir junto da testemunha.
Ana Isabel Lopes

Caridade, S., Ferreira, C. & Carmo, R. (2011). Declarações para memória futura de menores vítimas de crimes sexuais: Orientações para técnicos habilitados. In M. Matos, R. A. Gonçalves & C. Machado (Coords.), Manual de psicologia forense: Contextos práticas e desafios (pp. 57-64). Braga: Psiquilíbrios Edições.

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