Espinosa nasceu em 1632 e morreu com
apenas 45 anos. Viveu toda a sua vida na Holanda, em Amesterdão,
Rijnsburg, Voorburg e Haia.
Muitas vezes temos a ideia de que os
filósofos são seres solitários e taciturnos, no entanto, segundo Mary Warnock,
"os filósofos são por natureza faladores e epistolares; só raramente
preferem sentar-se a pensar, isolados dos seus pares". Espinosa mantinha
muitos contactos intelectuais e tinha muitos amigos que rapidamente publicaram,
após a sua morte, Ética, uma das obras mais importantes da filosofia
ocidental.
O avô de Espinosa era lisboeta e
viveu alguns anos na Vidigueira, no Alentejo. Mas foi obrigado a fugir para
Amesterdão quando a louca perseguição portuguesa aos judeus se tornou
intolerável. Espinosa, todavia, haveria mais tarde de provocar nos próprios
judeus o mesmo tipo de fervor religioso que levou a sua família a ser expulsa
de Portugal o que o levou a ser expulso da comunidade judaica (o texto dessa
excomunhão encontra-se publicado).
Espinosa falava português e esta era
a língua que se falava em sua casa e nas ruas de Amesterdão, que acolhia uma
enorme comunidade judaica proveniente de Portugal. A língua usada nos estudos
bíblicos era o hebraico, e o latim era a língua da literatura, da cultura e da
ciência em geral. Espinosa dominava todas estas línguas, além do holandês e do
espanhol. A sua obra foi escrita em latim, e traduzida para holandês. Durante a
sua vida, Espinosa só publicou duas obras:
·
Os Princípios da Filosofia de Descartes (1663) - uma
exposição "geométrica" da filosofia de Descartes, e foi publicada a
pedido dos seus amigos e correspondentes.
·
Tractatus Theologico-Politicus (1670) - defende
exaustivamente a liberdade religiosa e política, usando o seu conhecimento
profundo do Velho Testamento para, pela primeira vez, analisar de um ponto de
vista histórico o Pentateuco, os cinco primeiros livros da Bíblia.
Espinosa faz parte do grande trio de
racionalistas modernos, juntamente com Descartes e Leibniz. Trio este que é
habitual opor ao trio de empiristas modernos: Locke, Berkeley e Hume. A
filosofia contemporânea é na sua maior parte o fruto da filosofia empirista,
mas as suas tremendas limitações estão a tornar-se cada vez mais evidentes e
assiste-se hoje a uma reabilitação tímida da filosofia racionalista. A
diferença que opõe as duas correntes é esta: enquanto para os racionalistas o
conhecimento mais nobre e certo tem origem na razão apenas, os empiristas
defendem que a razão nada pode descobrir que não tenha origem nos dados dos sentidos.
A grande dificuldade da filosofia racionalista é explicar exactamente como
conhecemos, sem recorrer à experiência, as grandes verdades sobre o mundo.
Para Espinosa, tudo o que ocorre
está determinado pelas leis necessárias da natureza. E Deus mais não é do que
esta natureza inexorável. O pensamento modal de Espinosa é tipicamente
racionalista defendendo que só o nosso conhecimento imperfeito nos faz pensar
que há coisas que acontecem mas poderiam não ter acontecido.
Depois da sua morte, Espinosa foi
durante um século o bobo da corte: o filósofo mais comentado e menos lido.
Lessing, em 1780, choca os seus pares declarando-se discípulo de Espinosa.
Goethe apaixona-se pelas ideias do judeu. E só então se começa a fazer alguma
justiça ao pensamento de Espinosa.
Margarida Rodrigues
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