segunda-feira, 23 de dezembro de 2013

[Grandes Nomes]: Baruch Espinosa (1632-1677)


Espinosa nasceu em 1632 e morreu com apenas 45 anos. Viveu toda a sua vida na Holanda, em Amesterdão, Rijnsburg, Voorburg e Haia.
Muitas vezes temos a ideia de que os filósofos são seres solitários e taciturnos, no entanto, segundo Mary Warnock, "os filósofos são por natureza faladores e epistolares; só raramente preferem sentar-se a pensar, isolados dos seus pares". Espinosa mantinha muitos contactos intelectuais e tinha muitos amigos que rapidamente publicaram, após a sua morte, Ética, uma das obras mais importantes da filosofia ocidental.
O avô de Espinosa era lisboeta e viveu alguns anos na Vidigueira, no Alentejo. Mas foi obrigado a fugir para Amesterdão quando a louca perseguição portuguesa aos judeus se tornou intolerável. Espinosa, todavia, haveria mais tarde de provocar nos próprios judeus o mesmo tipo de fervor religioso que levou a sua família a ser expulsa de Portugal o que o levou a ser expulso da comunidade judaica (o texto dessa excomunhão encontra-se publicado).
Espinosa falava português e esta era a língua que se falava em sua casa e nas ruas de Amesterdão, que acolhia uma enorme comunidade judaica proveniente de Portugal. A língua usada nos estudos bíblicos era o hebraico, e o latim era a língua da literatura, da cultura e da ciência em geral. Espinosa dominava todas estas línguas, além do holandês e do espanhol. A sua obra foi escrita em latim, e traduzida para holandês. Durante a sua vida, Espinosa só publicou duas obras:

·         Os Princípios da Filosofia de Descartes (1663) - uma exposição "geométrica" da filosofia de Descartes, e foi publicada a pedido dos seus amigos e correspondentes.
·         Tractatus Theologico-Politicus (1670) - defende exaustivamente a liberdade religiosa e política, usando o seu conhecimento profundo do Velho Testamento para, pela primeira vez, analisar de um ponto de vista histórico o Pentateuco, os cinco primeiros livros da Bíblia.

Espinosa faz parte do grande trio de racionalistas modernos, juntamente com Descartes e Leibniz. Trio este que é habitual opor ao trio de empiristas modernos: Locke, Berkeley e Hume. A filosofia contemporânea é na sua maior parte o fruto da filosofia empirista, mas as suas tremendas limitações estão a tornar-se cada vez mais evidentes e assiste-se hoje a uma reabilitação tímida da filosofia racionalista. A diferença que opõe as duas correntes é esta: enquanto para os racionalistas o conhecimento mais nobre e certo tem origem na razão apenas, os empiristas defendem que a razão nada pode descobrir que não tenha origem nos dados dos sentidos. A grande dificuldade da filosofia racionalista é explicar exactamente como conhecemos, sem recorrer à experiência, as grandes verdades sobre o mundo.
Para Espinosa, tudo o que ocorre está determinado pelas leis necessárias da natureza. E Deus mais não é do que esta natureza inexorável. O pensamento modal de Espinosa é tipicamente racionalista defendendo que só o nosso conhecimento imperfeito nos faz pensar que há coisas que acontecem mas poderiam não ter acontecido.
Depois da sua morte, Espinosa foi durante um século o bobo da corte: o filósofo mais comentado e menos lido. Lessing, em 1780, choca os seus pares declarando-se discípulo de Espinosa. Goethe apaixona-se pelas ideias do judeu. E só então se começa a fazer alguma justiça ao pensamento de Espinosa.

Margarida Rodrigues

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