“O Pedro está sempre preocupado. Quando vai
para a escola agarra-se à mãe e é sempre muito difícil largá-la. Preocupa-se
muito que os colegas gozem com ele e portanto evita estar com outros meninos.
Por causa disso, o Pedro tem poucos amigos e sente-se frequentemente triste e
sozinho. Em casa, precisa sempre da presença do pai ou da mãe quando vai
dormir. Acorda constantemente durante a noite e vai para a cama dos pais. O
Pedro também manifesta vários sintomas físicos quando está preocupado – sente
vontade de vomitar, dores de cabeça, dores de barriga e por vezes tem ataques
de pânico em situações sociais. Os pais, preocupados com esta situação levaram
o Pedro à psicóloga Dra. Laranja. Depois da avaliação, a Dra. Laranja
diagnosticou o Pedro com perturbação de ansiedade de separação em
co-morbilidade com fobia social e recomendou intervenção psicológica.
Qual
a terapia mais indicada para as perturbações de ansiedade?
A
nossa primeira escolha seria a terapia cognitivo-comportamental. Esta decisão
prende-se com o facto de numerosos estudos e investigações terem vindo a
demonstrar a eficácia a curto (e.g. Kendall, 1994; Kendall et al., 1997) e a
longo prazo (Kendall & Southam-Gerow, 1996; Kendall et al., 2004) das
terapias cognitivo-comportamentais dirigidas às perturbações de ansiedade em
crianças e adolescentes. A medicação também pode ser útil em alguns casos,
especialmente quando os sintomas de ansiedade são muito severos. No entanto, tem
vindo a ser demonstrado que a TCC, não só reduz os problemas actuais, como
também ajuda a evitar recaídas e depressão em idades posteriores.
Em consulta, a Dra.
Laranja começa por ajudar o Pedro a identificar e a expressar as suas emoções. Durante
as sessões iniciais, o Pedro construiu com a Dra. Laranja um diário de emoções.
A TCC dirigida aos problemas de
ansiedade em crianças e adolescente envolve sempre alguns “ingredientes”, que
têm como objetivo ensinar às crianças estratégias eficazes para enfrentarem e
reduzirem a ansiedade. As principais competências trabalhadas são, em geral, o reconhecimento
de emoções e da relação entre emoções e cognições, o relaxamento, o
desenvolvimento do discurso interno mais adaptado, a identificação e
modificação de pensamentos ansiógenos, a resolução de problemas, a exposição
gradual e a auto-avaliação e auto-reforço.
Nas
sessões seguintes, o Pedro aprendeu técnicas de relaxamento (respiração
profunda e relaxamento muscular), de desenvolvimento de um discurso interno
positivo e adaptado (“As pessoas podem não estar a falar sobre mim. Eles podem
estar só a contar algumas piadas. Vou ter com eles e falar-lhes”) e estratégias
de resolução de problemas para o ajudar a identificar e implementar soluções
para as situações que o deixavam nervoso. A maioria das sessões foram
realizadas individualmente, mas os pais do Pedro também participaram nestas
sessões para aprender igualmente as estratégias e estabelecer um plano de confronto
para a prática das estratégias fora da sessão.
As famílias são frequentemente
envolvidas na terapia. A psico-educação sobre as emoções e o papel do
evitamento na ansiedade é muito útil para algumas famílias. Os membros da
família podem oferecer um apoio importante para que a criança aprenda novas
estratégias de coping e as pratique em situações que anteriormente evitava. O
envolvimento dos pais/cuidadores na terapia tem-se mostrado especialmente
importante para as crianças mais jovens.
Nas últimas sessões a
Dra. Laranja, o Pedro e os seus pais elaboraram um plano de confronto para que ele
tivesse a oportunidade de utilizar e treinar as estratégias aprendidas em
situações que o deixavam ansioso, começando com situações com níveis baixos de
ansiedade e evoluindo, gradualmente para situações com níveis mais elevados. O
Pedro pediu ao professor um lápis; pediu a um empregado de mesa um guardanapo;
apresentou-se a um colega novo; respondeu a perguntas na sala de aula, etc. Em
conjunto, a Dra. Laranja e o Pedro fizeram um “cartão poderoso” com estratégias
que ele podia usar nessas situações (pensar de forma útil, respiração profunda,
relaxamento muscular, o uso de resolução de problemas, pedir ajuda). O Pedro,
por vezes, levava o “cartão poderoso” com ele no bolso ou na mochila.
No tratamento das perturbações de
ansiedade em crianças é também muito importante o reforço/auto-reforço e as
recompensas. Sempre que a criança enfrenta uma situação que a deixa ansiosa
deve ser recompensada, não só pelo sucesso, como também pelo esforço.
O tratamento das perturbações de
ansiedade funciona igualmente bem se for realizado em grupo. Em grupo, as
crianças sentem-se mais compreendidas e têm uma óptima oportunidade para
aprender competências sociais!
Em resposta à
intervenção psicológica, os sintomas de ansiedade do Pedro reduziram
significativamente ao longo de 9-12 meses. O Pedro deixou de ser uma criança
tão preocupada e tornou-se mais calmo e feliz. Ficou mais participativo na
escola e fez várias amizades!
Teresa Marques
Vanessa Russo
Referências:
Kendall,
P. C. (1994). Treating anxiety disorders in children: Results of a randomized
clinical trial. Journal of Consulting and
Clinical Psychology, 62(1), 100-110.
Kendall, P. C., Flannery-Schroeder,
E., Panichelli-Mindel, S. M., Southam-Gerow, M., Henin, A., & Warman, M.
(1997) Therapy for youths With Anxiety Disorders: A Second Randomized Clinical
Trial. Journal of Consulting and Clinical
Psychology, 65(3), 366-380.
Kendall, P. C., Southam-Gerow, M., (1996). Long-term
follow-up of a cognitive-behavioral therapy for anxiety-disordered youth. Journal of Consulting and Clinical
Psychology, 64(4), 724-30.
Kendall, P. C.,
Safford, S., Flannery-Schroeder, E., Webb, A. (2004). Child Anxiety Treatment:
Outcomes in Adolescence and Impact on Substance Use and Depression at 7.4-Year
Follow-Up. Journal of Consulting and
Clinical Psychology, 72(2), 276-287-