segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

[Psicologia e Política]: De Onde Vem a Corrupção?


            Será impossível, de forma universal, prever o porquê de alguns indivíduos sucumbirem à corrupção. As motivações são muitas e diversificadas, idiossincráticas e com origens diferentes. Oportunidade, necessidade, vício ou apenas porque se sente em bem-estar realizando-a. Tudo opções, e com certeza, cada um terá a sua.
            Deixo aqui, de forma geral, aquela que pode ser uma justificação para o início desse tipo de comportamento.

            O Modelo de Complementaridade Paradigmática (MCP; Vasco, 2009) prevê o atingir do bem-estar psicológico aquando da regulação da satisfação das necessidades psicológicas do indivíduo. Estas necessidades representam os instrumentos, promovidos pelo seu Self, que o orientam no sentido da realização de comportamentos de promoção do seu equilíbrio interno, satisfazendo as suas necessidades.
Importante será perceber que estes comportamentos podem ser adaptativos ou não-adaptativos para o indivíduo mas, quando foram realizados, tinham um papel adaptativo para a situação. Este carácter dos comportamentos varia com as motivações e expectativas do indivíduo, e é este que faz determinado comportamento ocorrer ou não.

Duas das catorze necessidades psicológicas postuladas pelo MCP são o Controlo e a Cooperação/Cedência (Fonseca & Vasco, 2011). A necessidade de controlo refere-se à capacidade de influenciar o meio, de forma adequada, realizando avaliações correctas sobre as situações, bem como seleccionar os comportamentos de controlo correcto a realizar, para si, para os outros e para o meio. A necessidade de cooperação/cedência refere-se à capacidade de tolerar partilhar o controlo pessoal e do meio com os outros, de forma a atingir objectivos comuns, cooperando com uma comunidade. Ambas as necessidades, como explicado anteriormente, possuem comportamentos não-adaptativos a elas associadas. Aqui, insiro a variável corrupção, admitindo que este tipo de actividade se baseia em comportamentos não-adaptativos de controlo e de cooperação/cedência.

A percepção de controlo de um indivíduo é uma ferramenta do próprio, para o seu bem-estar e real acção sobre o seu meio. Mas torna-se num instrumento perigoso quando ao mesmo são associadas variáveis motivacionais – cujos resultados não são adaptativos para uma comunidade – e expectativas de resultados – quando os mesmos são previstos em objectivos próprios, inversos à vontade de uma comunidade. Aqui, a percepção de controlo torna-se exacerbada, sendo irreal, mas potenciada pelos ditos factores. Com esta percepção, a tendência para a cooperação estará debilitada, sendo que os objectivos não são comuns nem identificáveis na comunidade a que pertence. A percepção de controlo é passada para essa comunidade, onde são realizados os comportamentos de corrupção, num controlo sobre a mesma.
Grave – e estamos a falar de política – é quando quem pratica este tipo de actividade está a representar uma comunidade. Isto significa que deve existir uma obrigatoriedade de cooperação e uma capacidade para a percepção de um controlo real. Isto levaria à boa acção, para si e para os outros, no sentido da acção ponderada entre o que pode e deve realmente controlar, exercendo comportamentos de acção comunitária, prestando trabalho público a favor da comunidade.

De forma não-adaptativa, estes comportamentos estimulam o bem-estar de quem os pratica. Para o próprio, estes comportamentos são adaptativos enquanto as motivações e as expectativas assim o disserem. É necessária a acção legal sobre as actividades de corrupção, no sentido de fazer ponderar motivações e anular expectativas dos praticantes.


Tiago A. G. Fonseca


Fonseca, T., & Vasco, A. B. (2011). Necessidade psicológica de controlo/cedência: Relação com bem-estar e distress psicológicos (Dissertação de mestrado). Retirado de http://hdl.handle.net/10451/4868
Vasco, A. B. (Julho, 2009). Regulation of needs satisfaction as the touchstone of hapiness. Comunicação apresentada na “16th Conference: European Association for Psychotherapy”. Lisboa, Portugal.

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