sexta-feira, 31 de maio de 2013

Mais Duas Novas Autoras: Teresa Marques e Vanessa Russo!


            Numa semana cheia de novidades, fica a apresentação de mais duas nova autoras: Teresa Marques e Vanessa Russo!
Teresa Marques, Mestre em Psicologia Clínica da Saúde e da Doença, pela Faculdade de Psicologia da Universidade de Lisboa. É actualmente bolseira de investigação, na mesma instituição, no Projecto CATCh (Children  Anxiety Treatment and Change) e é, ainda, colaboradora no Serviço à Comunidade da Faculdade de Psicologia da Universidade de Lisboa, na consulta de Psicologia Pediátrica.

Vanessa Russo, Mestre em Psicologia Clínica da Saúde e da Doença, pela Faculdade de Psicologia da Universidade de Lisboa. É actualmente bolseira de investigação, na mesma instituição, no Projeto CATCh (Children  Anxiety Treatment and Change) e é, ainda, colaboradora no Serviço à Comunidade da Faculdade de Psicologia da Universidade de Lisboa, na consulta de Psicologia Pediátrica e de Avaliação Psicológica.

            Podem encontrar esta informação na página dos autores!

            A seu cargo ficará a rubrica “Psicriancices”.
            Segue a sua apresentação!
Psicologia Para Psicólogos

quinta-feira, 30 de maio de 2013

[Psicologia e Diferenças Humanas]: A Inteligência e a sua Medição


Ser inteligente ou não ser, eis a questão!”. Parafraseando W. Shakespeare, o grande escritor de Hamlet, remeto para a questão da inteligência, no sentido de um constructo que tanta investigação tem suscitado, na procura de uma melhor compreensão e de uma definição mais unificadora.

Desde cedo que a inteligência tem sido tema de investigação em Psicologia, nomeadamente no campo da Psicologia das Diferenças Individuais, pois ser considerado como “mais” inteligente ou “menos” inteligente sempre foi uma preocupação presente na sociedade, enquanto marca característica de podermos considerar o ser humano como adaptado e bem-sucedido ou pelo contrário, com dificuldades em se adequar à realidade do contexto onde vive.
O termo inteligência tem a sua origem no latim intelligentĭa, que significa “compreensão, capacidade de entender” que, por sua vez, deriva de intelligere (“entender, compreender”). Esta é uma palavra que é composta por dois outros termos: inter (“entre”) e legere (“escolher, separar o que interessa, ler”). Deste modo, a origem etimológica do conceito de inteligência faz referência a quem sabe escolher, daí que a própria noção mais global de inteligência encontrar-se ligada à possibilidade de seleccionar/escolher, de proceder à selecção de quais as melhores opções perante a necessidade de resolver determinada questão. Independentemente das diversas definições de inteligência que possamos encontrar, este constructo evolve a capacidade de entender, assimilar, elaborar informação e usá-la de forma adequada à situação, seja ela mais teórica ou mais prática. São vários os autores dentro da Psicologia que se têm debruçado sobre o estudo deste fenómeno complexo, passando por nomes como David Wechsler, Howard Gardner, Robert Sternberg, defendendo diversas ideias para incorporar na definição do que é a inteligência e como se pode avaliar um sistema tão complexo como este. Não obstante as diversas escolas paradigmáticas e as diferentes teorias que têm vindo a ser criadas através dessas mesmas correntes, a questão da medição da inteligência tem sido uma preocupação constante em Psicologia, o que levou ao desenvolvimento de diversos conceitos e diferentes formas de medir o constructo inteligência.

Os tão conhecidos testes de Inteligência, erroneamente apelidados de testes de QI, pretendem assim operacionalizar as diferentes concepções teóricas acerca da inteligência, utilizando para isso certos procedimentos psicométricos, que permitem a obtenção de índices de medida como o caso do Quociente de Inteligência ou de outros índices estatísticos como os percentis, onde iremos enquadrar os resultados dos indivíduos num padrão de resultados relativos ao seu grupo de referência. Assim, conseguimos atingir um resultado que permite situar o nível de capacidade do sujeito em relação às capacidades necessárias para conseguir responder de forma eficaz e eficiente aos diferentes problemas que são colocados pela diversidade de tarefas que preconizam os instrumentos de medida da inteligência. Deste modo, os resultados que um indivíduo tem num dado teste, dizem respeito aos resultados referentes a esse mesmo teste, a um determinado momento de desenvolvimento da sua vida e ao constructo de inteligência que está a ser avaliado, não remetendo para um valor universal, imutável e cristalizado, como por vezes se atribui aos QI’s que nada mais são do que índices de medida que expressam a comparação dos resultados de um sujeito em comparação com a população de referência, dependendo do desempenho do sujeito de acordo com o momento do seu desenvolvimento, do conteúdo do instrumento de medida e da amostra com a qual o indivíduo está a ser comparado.

A medição do constructo inteligência é possível desde que tenhamos um conceito bem delimitado e um instrumento de medida adequado e fundamentado para o mesmo fim. Medir a inteligência sim, mas com um bom instrumento alicerçado num campo teórico bem definido.
Por isso, a resposta à pergunta inicialmente colocada “Ser inteligente ou não ser?”, é uma resposta mais complexa do que inicialmente se possa crer, pois envolve toda uma investigação de conceitos e de instrumentos que possam traduzir a real dimensão da inteligência, sendo que a inteligência medida considera-se como um atributo do comportamento do sujeito.

Maria João Santos

Nova Autora: Maria João Santos!


O Psicologia Para Psicólogos dá as boas-vindas à nossa nova autora, Maria João Santos.
           
 Maria João Santos é Mestre em Psicologia Clínica Dinâmica pela Faculdade de Psicologia da Universidade de Lisboa, e Doutoranda em Psicóloga Clínica Dinâmica, na mesma instituição.

Actualmente, é Psicóloga Clínica, exercendo psicoterapia no Instituto de Psicologia das Relações Humanas e na Clínica da Educação. Exerce também funções de docência no ensino superior nas áreas de estudo da Psicologia das Diferenças Individuais e do Desenvolvimento, na Faculdade de Psicologia da Universidade de Lisboa.

A sua rúbrica será “Psicologia e Diferenças Humanas”.

Esta informação está disponível na página dos autores!

Psicologia Para Psicólogos

segunda-feira, 27 de maio de 2013

[Psi-clínica: Diálogos Soltos]: Consulta de Adolescentes


A Adolescência, em latim Adolescere foi um tema utilizado pela primeira vez na Roma Antiga, por Platão e Aristóteles, cerca do ano 193 A.C., e significando Crescer. A Adolescência representa uma etapa do ciclo de vida de transformações profundas em várias facetas – individual, familiar, social. O reconhecimento desta etapa enquanto estádio do ciclo vital contribuiu para o inundar do mundo artístico, sendo a Adolescência representada através da música e da pintura.
Esta etapa de desenvolvimento foi (é?!!) alvo de controvérsia e a própria investigação científica neste campo partiu de uma visão negativista da adolescência. Na verdade, partiu de uma visão “nula” da adolescência em que da infância havia como que um “ritual de passagem” directo à idade adulta. Só bastante tempo depois a Adolescência foi encarada como uma etapa de desenvolvimento, ainda que caracterizada segundo uma perspectiva negativa: turbulenta, instável, “difícil”, “problemática”. Com o crescente interesse pelo estudo do desenvolvimento, esta negatividade atenuou-se através do reconhecimento dos Adolescentes como seres competentes e altamente capazes de lidar com as inúmeras transformações que os desafios nesta fase de vida.
Actualmente, é aceite a ideia de que não existe Adolescência mas sim Adolescências (Sampaio, 2006), na medida em que os jovens manifestam estilos de vida muito próprios, padrões de comportamento e pensamento idiossincráticos que concorrem para a heterogeneidade desta etapa de vida e que representam, por sua vez, o fruto da influência marcada dos contextos proximais (e.g. família, escola) e distais (e.g. políticas educativas, cultura, valores e normas sociais) ao jovem.
O estudo da Adolescência em contexto permitiu aumentar os conhecimentos acerca da Adolescência e um maior enfoque nos processos de mudança e adaptação – no desafio em detrimento do problema.
Os esforços adaptativos que constituem esta etapa representam, contudo, um aumento dos níveis de stress que podem representar o perigo para as dificuldades ou a oportunidade para o crescimento. Neste ponto de viragem e dadas as características tão próprias dos Adolescentes, a consulta psicológica de adolescentes, deve ser “adaptada” a esta população, focando sempre os desafios de desenvolvimento que decorrem, as diversas formas de expressão emocional dos adolescentes. Descurar estes aspectos pode representar dificuldades acrescidas para o terapeuta que poderá sentir que o adolescente se distancia não ocorrendo uma boa adesão terapêutica e, consequentemente, vivenciar a frustração de conduzir um processo terapêutico ineficaz.
No que a isto diz respeito, enquanto técnicos de saúde mental devem considerar continuamente determinados aspectos: 1) um jovem vem habitualmente referenciado pelos pais, escola (em casos mais extremos, outras instituições como o tribunal) e não por sua livre vontade; 2) na adolescência, a pressão da identificação com os pares, em conjunto com a pressão social, concorrem para uma maior estigmatização do pedido de ajuda psicológica como algo destinado a pessoas “doentes” ou “incapacitadas”; 3) as razões que conduziram ao pedido de consulta associam-se geralmente a situações de fracasso (e.g. insucesso escolar, dificuldades na gestão emocional e de relações entre outras, as quais são difíceis, para o adolescente, de discutir com um estranho (o terapeuta!); 4) dada a etapa de vida em questão e importância do contexto no bem-estar ou nas dificuldades dos jovens, a participação da família no processo terapêutico é muito importante, o que nem sempre é bem aceite pelos jovens, que desejam criar um “espaço” de autonomia.
O estabelecimento de uma boa adesão terapêutica e, consequentemente, de uma relação de confiança entre o jovem e o terapeuta, implicam clarificar inicialmente falar dos obstáculos à participação dos pacientes e estabelecer as regras da consulta, tais como, o tempo da consulta, os da avaliação ou seguimento, o envolvimento da família e as questões da confidencialidade. O tema da confidencialidade é um ponto essencial em consulta de adolescentes. A fantasia dos jovens é a de que “tudo” será contado à família ou “nada” será contado à família. Nenhuma das versões está realmente de acordo com a realidade. A confidencialidade tem limites e aqueles que trabalham em clínica, sobretudo, com esta população, saberão o quanto esses limites e a transparência na importância que estes têm, determinam o sucesso terapêutico. O jovem deverá compreender que quando existem dilemas éticos é necessário que a confidencialidade seja equacionada e que tal não representa uma aliança com a família ou uma desconfiança face ao jovem, mas sim um “reforçar” da ajuda que pode ser necessária, sobretudo em situações mais graves como os comportamentos auto-destrutivos.
Neste ponto, enquanto terapeutas é também muito importante equacionar quando devem ser evitadas consultas a sós com a família, sem a presença dos jovens. No nosso entender, parece-nos que a consulta com a família é absolutamente essencial, e necessária (até porque estamos a falar de pacientes menores de idade), para o progresso terapêutico. Contudo, a ausência do jovem nas conversas com a família podem deixá-lo confuso quanto ao papel do terapeuta na intervenção (“afinal ele é o meu terapeuta ou o terapeuta da minha família?!”). Numa etapa de desenvolvimento marcada pelo investimento em movimentos centrífugos à família, este tipo de questões podem ser prejudiciais ao estabelecimento da relação de confiança ou vir a perturbá-la.
Reflectindo sobre o próprio terapeuta, o acompanhamento psicológico de jovens não pode permitir que sejam esquecidas as noções básicas de ética e profissionalismo. Os jovens apreciam (e exigem!) informação clara e concisa, um relacionamento adequado ao contexto de ajuda em que estamos e segurança no projecto terapêutico estabelecido. O terapeuta deve por isso, evitar uma postura paternalista e autoritária, substituindo-a uma atitude colaborativa, flexível (ainda que com regras claras!) e centrada no jovem, adequando a sua linguagem à linguagem do paciente sem personificar um “adolescente” que não é.
Os jovens, quando vão a uma consulta querem falar com um profissional e não com “um amigo”. O mesmo acontece com as famílias.
Diana Cruz


                Referências:
Guerreiro, D., Cruz, D., Narciso, I., & Sampaio, D. (2009). Aspectos Particulares da Consulta Psicológica e Psiquiátrica em Adolescentes. Saúde Mental, XI(4), 29-41.
Sampaio, D. (2006). O conceito de adolescência. In Sampaio. D. (Ed.), Lavrar o Mar (pp. 17-25). Lisboa: Caminho.

Nova Autora: Diana Cruz

O Psicologia Para Psicólogos dá as boas-vindas à Diana Cruz, a nossa mais recente autora.

            Diana Cruz é Licenciada em Psicologia Clínica Sistémica pela Faculdade de Psicologia da Universidade de Lisboa, e Doutorada em Psicóloga Clínica – Psicologia da Família, na mesma instituição. Tem ainda uma Pós-graduação em Psicologia na área de especialização de Stress e Bem-Estar.
            Tem uma vasta experiência clínica, em contexto privado e público, tendo colaborado com o Serviço de Psiquiatria do Hospital de Santa Maria, em Lisboa.
Actualmente, para além da actividade clínica privada, colabora também com o Serviço de Atendimento à Comunidade da Faculdade de Psicologia da Universidade de Lisboa - Consulta de Intervenção Familiar e Conjugal. Tem colaboração na actividade docente com o Núcleo de Psicologia Clínica Sistémica da FPUL.

A seu cargo fica a rúbrica “Psi-clínica: Diálogos Soltos” onde podemos esperar um conjunto de reflexões relevantes sobre a sua experiência na intervenção clínica.

Esta informação está disponível na página dos autores!

Psicologia Para Psicólogos

domingo, 26 de maio de 2013

Evento: À Descoberta - Seminário


O Psicologia Para Psicólogos juntou-se ao Núcleo de Psicologia Clínica Sistémica da Faculdade de Psicologia da Universidade de Lisboa que nos trás o seu Seminário: À Descoberta.

O seminário conta com um convidado especial, o Professor Doutor Eduardo Sá. Entrada gratuita!

Dia 31 de Maio, das 9h às 17:30h, no Anfiteatro I da Faculdade de Psicologia da Universidade de Lisboa.

(Carrega na imagem para a veres em tamanho real)

Vem conhecer melhor o que o Núcleo de Psicologia Clínica Sistémica da Faculdade de Psicologia da Universidade de Lisboa tem para te oferecer.
Contamos com a tua presença!

Tiago A. G. Fonseca

quinta-feira, 23 de maio de 2013

[Comboio do Desenvolvimento] O Tempo na Psicologia do Desenvolvimento

A imagem do nosso comboio – lembram-se? - levou-nos a descobrir que o tempo é uma dimensão fundamental do desenvolvimento psicológico. Porém, não é o próprio tempo que atrai os psicólogos do desenvolvimento, mas sim os processos temporais, a sucessão de mudanças de comportamento que ocorrem no tempo e que não resultam necessariamente da idade ou do tempo de vida do nosso próprio organismo.
Vejamos então, hoje, como este interesse pelos processos temporais que marcam o desenvolvimento psicológico levou alguns investigadores a questionarem e descreverem a génese do nosso próprio conhecimento do tempo.

Deixo-vos um episódio surpreendente narrado por Jean Piaget.
“Há muitos anos (em 1928), A. Einstein, que presidiu, na Suíça, um encontro sobre filosofia da ciência, interessou-se por alguns dos nossos resultados sobre a causalidade física na criança e aconselhou-nos a estudar o seguinte problema: A intuição da velocidade supõe, na sua formação, uma compreensão prévia da duração ou constitui-se independentemente dela?” (Piaget, 1974, p.63). Ou, dito de outro modo: “A intuição subjectiva do tempo é primitiva ou derivada, é solidária ou não da intuição da velocidade?” (Piaget, 1946a/2002, Prefácio) 
 
Segundo Piaget (1974), esta questão visava, de facto, saber se, na sua génese, o conhecimento ou a representação que temos do tempo corresponde à descrição da mecânica clássica (a velocidade é função da relação entre duas intuições elementares, o espaço percorrido e a duração) ou à descrição da mecânica relativista (a duração é, ela própria, função da velocidade).
Porém, o que esta questão nos mostra também é que o estudo dos processos temporais que marcam o desenvolvimento psicológico (ou, neste caso, o desenvolvimento cognitivo) faz mesmo sentido, até para Einstein.

Porquê?
Porque, ao contrário das epistemologias clássicas, só a epistemologia genética,  proposta por Piaget, poderia indagar como o pensamento humano chega ao conceito de tempo partilhado pelos adultos e largamente debatido pelos filósofos, físicos, biólogos, e outros pensadores. Dito de outro modo, só a epistemologia genética poderia questionar e descrever como o conhecimento sobre o tempo se vai organizando, transformando e construindo no próprio tempo, ao longo da ontogénese de cada um de nós.
Comecemos então, porque mais atractivo para os nossos leitores, por um estudo sobre o tempo psicológico e vejamos como Piaget conversava com as crianças e indagava a representação que tinham sobre a idade das pessoas.

“Quantos anos tens? Quatro e meio. Tens irmãos? Um irmão mais velho. Tu nasceste antes ou depois dele? Antes. Então qual é o mais velho? É o meu irmão, ele é maior…. Quando ele era pequeno, quantos anos tinha mais do que tu? Dois. E agora? Quatro. Então a diferença pode mudar? Sim. Se eu comer muito eu passo à frente dele. Como é que sabemos que uma pessoa é mais velha? Porque a gente é maior.
A mãe é mais velha do que tu? Sim. E a avó é mais velha do que a mãe? Não. São da mesma idade? Sim. Cada ano que passa, a avó fica mais velha? Ela fica a mesma coisa. E a mãe? Fica a mesma coisa. E tu? Eu fico mais velho. E a mãe envelhece? Não. Porquê? Ela já é velha.” (Piaget, 1946a, p. 229-233)

Uma enorme confusão? Estas crianças não estavam “com atenção”? Nem sequer perceberam as perguntas? Será que precisam de aprender esta matéria “como deve ser”, de ir para a escola, de mudar de educador? Ou serão crianças “problemáticas” que necessitam de apoio psicológico?
Não! Não se preocupem com as crianças. Elas estavam atentas, percebiam o que Piaget perguntava e deram respostas até muito consistentes. Preocupem-se antes convosco, pois somos nós, adultos, que estamos a pecar por egocentrismo do pensamento.
Einstein foi, de facto, um génio. Porque descobriu e propôs a teoria da relatividade. E também – perdoem-me a centração! – porque descobriu que era importante saber o que os mais pequemos sabiam do tempo.


Desafio então os meus leitores, particularmente os psicólogos, a um exercício de descentração cognitiva ainda mais exigente do que aquele que despertou a curiosidade de Einstein para a psicologia do desenvolvimento cognitivo. Se assim o fizerem, conseguirão compreender esta forma de representar o tempo, e também do mundo, que Piaget descobriu e que designou pensamento pré-operatório. 

M. Stella Aguiar

Referências
Flavell (1963). The developmental psychology of Jean Piaget. Princeton, NJ: Van Nostrand (Trad. Portuguesa, São Paulo: Pioneira Editora, 1975)
Piaget (1946a). Le développement de la notion de temps chez l’enfant. Paris: PUF. (Trad. Portuguesa, RJ: Record, 2002)
Piaget, J. (1946b). Les notions de mouvement et de vitesse chez l’enfant. Paris: PUF.

domingo, 19 de maio de 2013

Clubismo ou Identificação ao Rótulo?

            E estou eu agora aqui, pouco depois de terminar o jogo do meu SL Benfica, cabisbaixo com a conclusão da época, a ver os comentários e mensagens – nenhuma de apoio, para o caso de estarem a interrogarem-se – e surge-me um pensamento. Uns festejam mais do que outros, da mesma forma que uns ficam mais tristes do que outros. Pegando nas recções dos mais extremistas, o que as motiva? Esta é uma reflexão simples e rápida.

            Existe, em todos os rótulos que associamos a nós - sejam equipas, partidos, a identificação ao curso, seja o que for - um sentimento de pertença. Este sentimento cria várias regras de conduta, desde a sua defesa, como a sua promoção, a responsabilidade de a carregar e a partilha dos seus ganhos e perdas. Identificamo-nos com esses rótulos. Dizemos “Eu sou disto”, “Eu sou daquilo”, e a responsabilidade de pertença aumenta. Vivemos os rótulos que usamos de tal forma, que não percebemos, por vezes, outros problemas e dificuldades, bem reais, mais importantes, que estão à nossa volta. Alguns causados pelos próprios rótulos. Outros também, faça-se justiça, resolvidos por eles.
            É também, assim, um escape ao dia-a-dia. Usamo-los como forma de distracção da rotina, e acabam por ser algo que nos potencia em termos vivenciais, possibilitando experiências boas e más.

            Porque se criam tantas reacções? Porque estes rótulos contêm facilitadores de emoções, umas melhores do que outras, umas mais adaptativas do que outras. O que é certo é que estas existem e nos fazem viver o rótulo todos os dias, sejam clubes, partidos ou a identificação com o curso, de forma pessoal, idiossincrática e subjectiva.

            Tiago A. G. Fonseca

quarta-feira, 15 de maio de 2013

[The Naked Lunch]: Crise e Consumos


Numa época em que a palavra crise é a ordem do dia, palavra tão banalizada que qualquer dia nem se percebe bem o que quer dizer, gostaria de começar por esclarecer o que a mesma significa.

Na wikipédia pode ler-se: “Crise (do grego κρίσις,-εως,ἡ translit. krisis; em português, distinção, decisão, sentença, juízo, separação) é um conceito utilizado na sociologia, na política, na economia, na medicina, na psicopatologia, entre outras áreas de conhecimento.”

Não satisfeita, continuei a minha busca, de onde me deparo com a definição do dicionário Priberam da Língua Portuguesa (http://www.priberam.pt/dlpo/default.aspx?pal=crise)
“crise (latim crisis, -is, do grego krísis, -eós, acto.ato.ato de separar, decisão, julgamento, evento, momento decisivo) s. f.
1. [Medicina]   [Medicina]  Mudança súbita ou agravamento que sobrevém no curso de uma doença aguda (ex.: crise cardíaca, crise de epilepsia).
2. Manifestação súbita de um estado emocional ou nervoso (ex.: crise de choro, crise nervosa). = ACESSO, ATAQUE
3. Conjuntura ou momento perigoso, difícil ou decisivo.
4. Falta de alguma coisa considerada importante (ex.: crise de emprego, crise de valores).
5. Embaraço na marcha regular dos negócios.
6. Desacordo ou perturbação que obriga instituição ou organismo a recompor-se ou a demitir-se.”

Aqui já comecei a ter definições mais específicas em função do contexto e fiquei a pensar ”Bom, se calhar não está assim tão banalizada, porque actualmente estamos perante quase todas estas crises!”

Do ponto de vista psicológico, a crise ocorre quando há um desequilíbrio que exige um esforço adicional para manter a harmonia/estabilidade emocional. Para poder lidar com a instabilidade, o indivíduo deverá ser capaz de tolerar esse(a) sensação/estado a fim de conseguir ultrapassar a dificuldade. Daí a referência a um período de crise (social, biológico ou psicológico) como um período igualmente de potencial, na medida em que se podem desenvolver competências para novos equilíbrios, capacidade de adaptação, etc.

Apesar das ideias de oportunidade e de potencial associadas aos períodos de crise, normalmente estes não são períodos fáceis. O próprio põe em causa as suas competências para ultrapassar a situação e pode ter dificuldade em gerir os recursos à sua volta, ou sentir mesmo que não tem qualquer tipo de recursos. No contexto actual em que nos encontramos envolvidos numa crise económica e social, uma situação de crise individual pode tomar proporções mais complicadas do que noutros períodos, na medida em que se pode percepcionar o contexto como não oferecendo recursos viáveis ao equilíbrio individual interno. Por outro lado, existe também quem mais facilmente, por características pessoais, meio envolvente, ou pela experiência de outras crises vividas no passado, se sinta capaz de lidar com estas adversidades, com menos dificuldade. Por exemplo, uma pessoa que numa situação de desemprego se vê envolvida em toda uma espiral de acontecimentos sentindo-se deprimida e incapaz para fazer face à situação e outra que numa situação semelhante, opta por arriscar e criar um negócio.

Por vezes num contexto de crise – social, económica ou psicológica – o individuo pode sentir que não tem condições de auto gestão e (re)iniciar consumos abusivos, quer de álcool ou outras substâncias, quer numa perspectiva anestesiante ou estimulante. Este risco estará acrescido em pessoas que já tenham usado esta estratégia como forma de regulação emocional ou que tenham uma dependência de substâncias (ainda que em abstinência). No contexto actual de crise económica, com aumento do desemprego e crescente visão negativa do futuro (pessoal, do país, etc) parece-me que estamos perante um risco acrescido de aumento dos consumos de substâncias.

O presidente da Sociedade Portuguesa de Alcoologia acerca deste tema comentou  numa entrevista “A crise económica associada que está ao desemprego gera um aumento de consumo de bebidas alcoólicas e das suas consequências. Há evidências de que um aumento de 3% no desemprego se associa a 28% de mortes causadas pelos problemas ligados ao álcool. Esta grave crise que estamos a atravessar é propícia ao aumento dos consumos e às consequências do mesmo. Sempre que existe um mal-estar procuramos alivia-lo, e as bebidas alcoólicas acessíveis e a custos baixos são um recurso possível. Mas não fiquemos “atolados” no pessimismo, porque as crises também geram alternativas e oportunidades de mudança para melhor. Espero que esta crise propicie movimentos e medidas positivas para enfrentar este gravíssimo problema.”(http://saude.sapo.pt/saude-medicina/artigos-gerais/crise-esta-a-aumentar-o-consumo-de-alcool.html?pagina=2)

Muito mais se poderia dizer sobre este tema. Vocês o que pensam sobre isto?

Ana Nunes da Silva

terça-feira, 14 de maio de 2013

[Psicologia e Política]: Solidariedade na Comunidade


Ontem à noite o Professor Marcelo Rebelo de Sousa falou de algo que achei curioso. Referiu-se aos gestos simbólicos de homenagem aos outros, como quando as suas aulas eram interrompidas para reunião de cientifico quando era jubilado algum docente, ou como referiu no tema central desse comentário, o facto de a Queima das Fitas do Porto não ter sido interrompida com a morte do estudante.
Tirou, o Professor, como conclusão, que os pequenos gestos como estes se estavam a perder, dizendo que a solidariedade entre as pessoas está a diminuir.
O que leva a esta quebra? Será o desvalorizar do ser humano? A azáfama da sociedade que não permite quebras temporais? Ou a falta de pensamento de que alguém poderia achar qualquer um destes actos importante? Penso que será um pouco de todas, com especial incidência na última, o que me parece mais preocupante.

Mas nem tudo é assim. Assistimos nos dias de hoje a um crescente de ajuda entre as pessoas, de actos de solidariedade que ajudam várias famílias e à vontade de uma sociedade em desenvolver os esforços necessários para nunca abandonar os seus. Isto é, a solidariedade pelo ser humano, pela esperança do novo dia, e pelo poio ao outro, que presta a cada um a sua própria esperança de um mundo melhor.

Encontramos assim dois tipos de solidariedade. Um a decrescer, como são os gestos simbólicos de homenagem, apoio, auxilio a alguém, de forma indirecta; e outro a crescer, como são os gestos de contributo e ajuda, de forma directa a alguém. O primeiro ligado a uma base psicológica de importância, papel e estatuto social, e o segundo ligado ao que é a manutenção física e psicológica de alguém, no sentido da sua sustentação “sobrevivencial”.
Este segundo tipo, onde a comunidade actua na própria comunidade, representa um equilíbrio entre a generosidade da esperança e o egocentrismo do desespero, onde não faz sentido, a quem ajuda, a falta de esperança, mas que se guia, sempre de forma não consciente, por uma motivação proveniente do que é o sentimento de desespero que o impele a agir.

De qualquer forma, e concluindo, o segundo tipo de solidariedade é o que nos faz pessoas. É o que nos torna dignos de sermos comunidade e é algo que nunca deve ser perdido, pois quando a tendência motivacional a ajudar o próximo deixar de existir, aquilo que nos faz ser pessoa também desaparece.
Contudo, e indo ao encontro do que disse o Professor, o primeiro tipo é o que possibilita a identificação social, criando pequenos costumes e hábitos que criam laços entre as diferentes comunidades, nos seus costumes e formas de homenagear as suas pessoas.

Tiago A. G. Fonseca

sábado, 11 de maio de 2013

[PREVENIcaNDO]: Em Torno da Comunicação

Já vos falei, em identidade (quem sou), do corpo, de como abrigo nele diferentes partes de mim e do espaço que ocupo, com quem o troco e o que o torna o meu espaço. Hoje vou falar-vos de comunicação. Estar com alguém, comunicar, é um factor protector essencial na prevenção. Como percebemos o que o outro nos diz? Encontramos algum significado no seu dizer? E esse significado encontra alguma ressonância nas nossas vivências do passado que nos permite seleccionar uma resposta? Tenho eu vontade de responder? E tenho eu as palavras para responder? E se o fizer consigo eu perceber como é que o outro está a reagir à minha comunicação? Este é o ciclo comunicacional onde pode surgir o bloqueio. A própria atitude, postura corporal, o tom de voz, poderão ser entraves quando entram em dissonância com a mensagem. Finalmente a própria motivação ou disponibilidade emocional introduzem ruídos na comunicação que estão frequentemente na origem de mal entendidos e da construção de distâncias entre as pessoas.
O dizer algo a alguém é pôr fora de nós o que está unicamente na nossa cabeça, dando-lhe deste modo existência partilhada. Dizer é manter a ponte entre duas pessoas, protege-la da erosão do ritmo e do tempo.
Há inúmeras dinâmicas que se debruçam sobre este tema. Pedir a cada elemento do grupo que transmita uma emoção específica (apenas do seu conhecimento) ao dizer uma frase específica, permite aos jogadores consciencializar quais os elementos que permitem identificar a emoção transmitida. Frequentemente os jogadores recorrem à linguagem corporal para melhor exprimir a emoção mas o dinamizador poderá dificultar-lhes a tarefa pedindo que a mensagem seja transmitida sem a possibilidade dos receptores visualizarem o emissor. Conseguirá o jogador colocar na entoação, no ritmo dos discurso ou na dicção os sinais que permitam identificar uma emoção? Esse é sem dúvida o desafio.
Noutra perspectiva pode-se pedir para que alguém comunique uma ideia sem poder utilizar a palavra que diretamente a identifica. Pode-se pedir a diferentes jogadores que adoptem ao longo de uma conversa normal, um conjunto de posturas (estar de costas para o grupo, abanar repetidamente a perna, posicionar o corpo orientado para que comunica, bocejar constantemente, …) e pedir no final que as pessoas transmitam o que sentiram ao longo da conversa em termos de atitude ou receptividade por parte dos colegas. Pode-se pedir que uma mensagem seja transmitida à distância no meio de o maior dos ruídos, ou contar-se sucessivamente uma história passada de participante para participante e analisar-se a perda progressiva de conteúdos e quais os que conseguem ser mantidos inalterados até ao final da sequência.
São muitas as dinâmicas que podem ser usadas para trabalhar a comunicação. Mas mais do que as dinâmicas em si, é na reflexão que melhor se trabalha a comunicação. Contem-me o que se passou no jogo? Cada participante narrará uma perspectiva pessoal de uma vivência comum, Não há leituras certas e erradas, apenas leituras pessoais, feitas a partir da sensibilidade de cada um e dos filtros que a experiência impõe. O que é que sentiram no jogo? À acção alia-se a emoção em todos os seus gradientes. Haverá convergência ou divergência mas é na diferença que mais se aprende e no respeito pelo sentir dos outros. Como se organizaram para ultrapassar a tarefa? O emergir da estratégia, pessoal ou colectiva, partilhada ou imposta, passiva ou ativa, confere à acção um novo significado dentro do qual se pode avaliar a eficácia e a capacidade de adaptação. Qual era a metáfora deste jogo? A análise volta-se agora para os conteúdos, a mensagem subjacente à acção. Tem a ver com a cooperação, tem a ver com gestão de emoções, tem a ver com… E assim se estabelece uma ponte entre o lúdico e o quotidiano a meio caminho entre o agir e o pensar. E finalmente… O que aprenderam? O que fariam diferente se voltassem a jogar?
Nesta partilha todos são actores, uns porque se expressam, outros porque ouvem, outros ainda porque são a plateia do drama posto em cena. Até vocês, leitores, têm um papel nesta dinâmica. São validadores da vivência de alguém. E se alguma destas ideias dispersas der origem a uma nova acção, são perpetuadores… depositários… herdeiros...
Façam disso um bom proveito.

Raúl Melo

Resultado do Passatempo: II Congresso de Medicina Legal e Psicologia Forense


            E já temos os resultados do passatempo “II Congresso de Medicina Legal e Psicologia Forense”.

            A leitora vencedora é Ana Antunes! Parabéns!

            A resposta à questão “Nos E.U.A. existe uma lei que obriga ao registo de ofensores sexuais de menores. Como se chama essa lei?” seria “Lei de Megan”.

            Obrigado a todos os que participaram e fiquem atentos que mais novidades irão aparecer!

            Psicologia Para Psicólogos

sexta-feira, 10 de maio de 2013

Psicólogos Envolvidos em Montanha-Russa


            A “Smiler” é a nova atracção do parque de diversões britânico “The Staffordshire”, e custou mais de 21 milhões euros, conseguindo um recorde de 14 "loopings", alternados com uma velocidade de 85 Kms/hora e descidas de 30 metros.
            Como podem perceber, é algo repleto de estímulos activadores do funcionamento humano, físico e psicológico.

            E não é por acaso. Esta nova diversão foi concebida com a ajuda de vários investigadores, onde foram incluídos especialistas em psicólogos. Segundo os criadores, a tarefa destes especialistas era simples: criar efeitos psicológicos nos utilizadores, "esbatendo a linha entre a ilusão e a realidade". Acrescentam que  "Há cinco efeitos mentais distintos, todos concebidos para baralhar o cérebro".

            Fica a notícia com um vídeo, simulando uma viagem no “Smiler”.

            Que vos parece?

Tiago A. G. Fonseca

terça-feira, 7 de maio de 2013

Evento: Psicologia e Educação convidam... a SEXOLOGIA


            A Associação de Estudantes da Faculdade de Psicologia e do Instituto de Educação da Universidade de Lisboa, em parceria com o Psicologia Para Psicólogos, trás de volta o Círculo de Tertúlias à Faculdade de Psicologia e do Instituto de Educação da Universidade de Lisboa!

Para esta "Psicologia e Educação convidam... a SEXOLOGIA", os convidados são a Drª Marta Crawford e a Drª Patrícia Pascoal.

Dia 17 de Maio, pelas 15h, no Anfiteatro I da Faculdade de Psicologia e do Instituto de Educação da Universidade de Lisboa.

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Vem participar numa conversa que vai ser muito interessante.
Contamos com a tua presença!

Tiago A. G. Fonseca

1st International Meeting in Forensic Sciences and Criminal Behaviour


“Exmos.  Senhores,
Vimos por este meio convidar V. Ex.ª a participar no “1st International Meeting in Forensic Sciences and Criminal Behaviour”, que se irá realizar no Instituto Superior de Ciências da Saúde Egas Moniz (ISCSEM), nos próximos dias 24 e 25 de Maio.
 
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Este evento contará com a presença de diversas entidades de renome, quer a nível nacional, quer internacional, dentro de diversas áreas, tais como, Química e Biologia Forense, Antropologia Forense, Análise da Cena de Crime, Psicologia Forense, Avaliação de Risco de Violência e Reincidência Criminal.

Mais informamos que as inscrições para ambos os dias, até o próximo dia 17 de Maio beneficiam de um desconto do 20%:
     - Estudantes ou ex-alunos do ISCSEM (16€ já com desconto);
     - Não estudantes (20.80€ já com desconto).

Preço dos worksops:
     - Estudantes ou ex-alunos do ISCSEM: 10€ por um workshop ou 15€ por dois;
     - Não estudantes: 20€ por um workshop ou 25€ por dois.

Para consulta do programa e/ou mais informações visite:

Contamos com a vossa presença.

Atenciosamente,
A Comissão Organizadora”

Ana Lopes

[Criminal-Forense]: Adolf Hitler: Perfil Criminal


O profiling é um processo de utilização de evidências comportamentais deixadas no local de crime para inferir caraterísticas acerca do ofensor, incluindo personalidade e psicopatologia. Os primeiros perfis criados utilizavam juízo clínico e teorias vigentes da época, como a psicoanálise (Torres, Boccaccini & Miller, 2006).
Um dos perfis mais conhecidos é o de Hitler: em 1943, foi feito um perfil criminal pelo Dr. Henry A. Murray da Universidade de Harvard com o objetivo de auxiliar os aliados na sua estratégia, sendo que também outro relatório foi elaborado pelo Dr. Walter Langer. Basearam-se nos discursos e textos escritos por Hitler, pessoas próximas, relatos de eventos e filmes, registos escolares, militares e outras fontes.
Primeiramente existe uma descrição da vida de Hitler, afirmando-se que os dois lados da família não possuiriam habilitações, sendo camponeses com casamentos intrafamiliares. O pai de Hitler era filho bastardo, não existindo menção ao pai nem aos avós paternos: o nome provinha da sua sogra, um nome judeu bastante comum. O seu pai seria particularmente agressivo com Adolf, traduzindo-se num indivíduo muito submisso à autoridade mas com muita revolta. Aos seus 19 anos, a mãe morreu de cancro e vai para Viena, sabendo-se que o mesmo possuía um grande afeto pela mesma.
Verificou-se depois uma distinção na vida pessoal e na vida política. Num contexto mais íntimo, era descrito como esquisito, tímido e incapaz de se decidir, sendo que simultaneamente possuía violentas mudanças de humor e agressividade, contrapondo-se à ideia de grandeza que transmitia ao público e à missão divina sentida pelo mesmo. Pode-se relacionar também com a clivagem relativamente aos pais: a mãe representaria tudo o que seria bom e o pai tudo o que seria mau. Segundo esta interpretação, a sua divisão de personalidade dever-se-ia à identificação com a sua mãe, que amava profundamente, e com o seu pai, o qual receava e odiava. Esta identificação contraditória seria projetada num mundo em que a Alemanha viria a representar a sua mãe, e os judeus o seu pai, pretendendo assim salvar a sua mãe da infeção proveniente do pai (existindo suspeitas que o seu pai teria ascendência judia). Foi também sugerido que a agressão que Hitler estava a direcionar para a população, iria numa última instância canalizá-la para si e suicidar-se.

Ana Lopes


Referências:

Murray, A. (1943). Analysis of the personality of Adolf Hitler: With predictions of his future behavior and suggestions for dealing with him now and after Germany’s surrender. Harvard Psychological Clinic.
Torres, A., Boccaccini, M. & Miller, H. (2006). Perceptions of the validity and utility of criminal profiling among forensic psychologists and psychiatrists. Professional Psychology: Research and Practice, 37 (1), 51-58. Doi: 10.1037/0735-7028.37.1.51