Numa
época em que a palavra crise é a ordem do dia, palavra tão banalizada que
qualquer dia nem se percebe bem o que quer dizer, gostaria de começar por
esclarecer o que a mesma significa.
Na
wikipédia pode ler-se: “Crise (do grego κρίσις,-εως,ἡ translit. krisis;
em português, distinção, decisão, sentença, juízo, separação) é um conceito
utilizado na sociologia, na política, na economia, na medicina, na psicopatologia, entre outras áreas de conhecimento.”
Não
satisfeita, continuei a minha busca, de onde me deparo com a definição do
dicionário Priberam da Língua Portuguesa (http://www.priberam.pt/dlpo/default.aspx?pal=crise)
“crise (latim crisis, -is, do
grego krísis, -eós, acto. . de separar, decisão, julgamento, evento, momento
decisivo) s. f.
1. [Medicina] crise cardíaca, crise de
epilepsia). Mudança súbita ou agravamento que sobrevém no curso de uma doença
aguda (ex.:
2. Manifestação súbita de um estado emocional ou nervoso (ex.: crise de choro, crise nervosa). = ACESSO, ATAQUE
3. Conjuntura ou momento perigoso, difícil ou decisivo.
4. Falta de alguma coisa considerada importante (ex.: crise de emprego, crise de valores).
5. Embaraço na marcha regular dos negócios.
6. Desacordo ou perturbação que obriga instituição ou organismo a
recompor-se ou a demitir-se.”
Aqui já
comecei a ter definições mais específicas em função do contexto e fiquei a
pensar ”Bom, se calhar não está assim tão banalizada, porque actualmente
estamos perante quase todas estas crises!”
Do ponto de
vista psicológico, a crise ocorre quando há
um desequilíbrio que exige um esforço adicional para manter a harmonia/estabilidade
emocional. Para poder lidar com a instabilidade, o indivíduo deverá ser capaz
de tolerar esse(a) sensação/estado a fim de conseguir ultrapassar a
dificuldade. Daí a referência a um período de crise (social, biológico ou
psicológico) como um período igualmente de potencial, na medida em que se podem
desenvolver competências para novos equilíbrios, capacidade de adaptação, etc.
Apesar
das ideias de oportunidade e de potencial associadas aos períodos de crise, normalmente
estes não são períodos fáceis. O próprio põe em causa as suas competências para
ultrapassar a situação e pode ter dificuldade em gerir os recursos à sua volta,
ou sentir mesmo que não tem qualquer tipo de recursos. No contexto actual em
que nos encontramos envolvidos numa crise económica e social, uma situação de
crise individual pode tomar proporções mais complicadas do que noutros períodos,
na medida em que se pode percepcionar o contexto como não oferecendo recursos
viáveis ao equilíbrio individual interno. Por outro lado, existe também quem
mais facilmente, por características pessoais, meio envolvente, ou pela
experiência de outras crises vividas no passado, se sinta capaz de lidar com estas
adversidades, com menos dificuldade. Por exemplo, uma pessoa que numa situação
de desemprego se vê envolvida em toda uma espiral de acontecimentos sentindo-se
deprimida e incapaz para fazer face à situação e outra que numa situação
semelhante, opta por arriscar e criar um negócio.
Por
vezes num contexto de crise – social, económica ou psicológica – o individuo
pode sentir que não tem condições de auto gestão e (re)iniciar consumos
abusivos, quer de álcool ou outras substâncias, quer numa perspectiva
anestesiante ou estimulante. Este risco estará acrescido em pessoas que já
tenham usado esta estratégia como forma de regulação emocional ou que tenham
uma dependência de substâncias (ainda que em abstinência). No contexto actual
de crise económica, com aumento do desemprego e crescente visão negativa do
futuro (pessoal, do país, etc) parece-me que estamos perante um risco acrescido
de aumento dos consumos de substâncias.
O
presidente da Sociedade Portuguesa de Alcoologia acerca deste tema
comentou numa entrevista “A crise económica associada que está ao
desemprego gera um aumento de consumo de bebidas alcoólicas e das suas
consequências. Há evidências de que um aumento de 3% no desemprego se associa a
28% de mortes causadas pelos problemas ligados ao álcool. Esta grave crise que
estamos a atravessar é propícia ao aumento dos consumos e às consequências do
mesmo. Sempre que existe um mal-estar procuramos alivia-lo, e as bebidas
alcoólicas acessíveis e a custos baixos são um recurso possível. Mas não
fiquemos “atolados” no pessimismo, porque as crises também geram alternativas e
oportunidades de mudança para melhor. Espero que esta crise propicie movimentos
e medidas positivas para enfrentar este gravíssimo problema.”(http://saude.sapo.pt/saude-medicina/artigos-gerais/crise-esta-a-aumentar-o-consumo-de-alcool.html?pagina=2)
Muito
mais se poderia dizer sobre este tema. Vocês o que pensam sobre isto?
Ana
Nunes da Silva
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