A Adolescência, em
latim Adolescere foi um tema
utilizado pela primeira vez na Roma Antiga, por Platão e Aristóteles, cerca do
ano 193 A.C., e significando Crescer.
A Adolescência representa uma etapa do ciclo de vida de transformações
profundas em várias facetas – individual, familiar, social. O reconhecimento
desta etapa enquanto estádio do ciclo vital contribuiu para o inundar do mundo
artístico, sendo a Adolescência representada através da música e da pintura.
Esta etapa de
desenvolvimento foi (é?!!) alvo de controvérsia e a própria investigação
científica neste campo partiu de uma visão negativista da adolescência. Na
verdade, partiu de uma visão “nula” da adolescência em que da infância havia
como que um “ritual de passagem” directo à idade adulta. Só bastante tempo
depois a Adolescência foi encarada como uma etapa de desenvolvimento, ainda que
caracterizada segundo uma perspectiva negativa: turbulenta, instável,
“difícil”, “problemática”. Com o crescente interesse pelo estudo do
desenvolvimento, esta negatividade atenuou-se através do reconhecimento dos
Adolescentes como seres competentes e altamente capazes de lidar com as
inúmeras transformações que os desafios nesta fase de vida.
Actualmente,
é aceite a ideia de que não existe Adolescência mas sim Adolescências
(Sampaio, 2006), na medida em que os jovens manifestam estilos de vida muito
próprios, padrões de comportamento e pensamento idiossincráticos que concorrem
para a heterogeneidade desta etapa de vida e que representam, por sua vez, o
fruto da influência marcada dos contextos proximais (e.g. família, escola) e distais (e.g. políticas educativas, cultura, valores e normas sociais) ao
jovem.
O estudo da
Adolescência em contexto permitiu aumentar os conhecimentos acerca da
Adolescência e um maior enfoque nos processos de mudança e adaptação – no
desafio em detrimento do problema.
Os esforços adaptativos que constituem esta etapa
representam, contudo, um aumento dos níveis de stress que podem representar o perigo para as dificuldades ou a
oportunidade para o crescimento. Neste ponto de viragem e dadas as
características tão próprias dos Adolescentes, a consulta psicológica de
adolescentes, deve ser “adaptada” a esta população, focando sempre os desafios
de desenvolvimento que decorrem, as diversas formas de expressão emocional dos
adolescentes. Descurar estes aspectos
pode representar dificuldades acrescidas para o terapeuta que poderá sentir que
o adolescente se distancia não ocorrendo uma boa adesão terapêutica e,
consequentemente, vivenciar a frustração de conduzir um processo terapêutico
ineficaz.
No que a isto diz respeito, enquanto técnicos de saúde mental
devem considerar continuamente determinados aspectos: 1) um jovem vem habitualmente referenciado pelos pais, escola (em
casos mais extremos, outras instituições como o tribunal) e não por sua livre
vontade; 2) na adolescência, a
pressão da identificação com os pares, em conjunto com a pressão social,
concorrem para uma maior estigmatização do pedido de ajuda psicológica como
algo destinado a pessoas “doentes” ou “incapacitadas”; 3) as razões que conduziram ao pedido de consulta associam-se
geralmente a situações de fracasso (e.g.
insucesso escolar, dificuldades na gestão emocional e de relações entre outras,
as quais são difíceis, para o adolescente, de discutir com um estranho (o
terapeuta!); 4) dada a etapa de vida
em questão e importância do contexto no bem-estar ou nas dificuldades dos
jovens, a participação da família no processo terapêutico é muito importante, o
que nem sempre é bem aceite pelos jovens, que desejam criar um “espaço” de
autonomia.
O estabelecimento de uma boa adesão terapêutica e,
consequentemente, de uma relação de confiança entre o jovem e o terapeuta,
implicam clarificar inicialmente falar dos obstáculos à participação dos pacientes
e estabelecer as regras da consulta, tais como, o tempo da consulta, os da
avaliação ou seguimento, o envolvimento da família e as questões da
confidencialidade. O tema da confidencialidade é um ponto essencial em consulta
de adolescentes. A fantasia dos jovens é a de que “tudo” será contado à família
ou “nada” será contado à família. Nenhuma das versões está realmente de acordo
com a realidade. A confidencialidade tem limites
e aqueles que trabalham em clínica, sobretudo, com esta população, saberão o
quanto esses limites e a transparência na importância que estes têm, determinam
o sucesso terapêutico. O jovem deverá compreender que quando existem dilemas
éticos é necessário que a confidencialidade seja equacionada e que tal não
representa uma aliança com a família ou uma desconfiança face ao jovem, mas sim
um “reforçar” da ajuda que pode ser necessária, sobretudo em situações mais
graves como os comportamentos auto-destrutivos.
Neste ponto, enquanto terapeutas é também muito importante
equacionar quando devem ser evitadas consultas a sós com a família, sem a
presença dos jovens. No nosso entender, parece-nos que a consulta com a família
é absolutamente essencial, e necessária (até porque estamos a falar de
pacientes menores de idade), para o progresso terapêutico. Contudo, a ausência
do jovem nas conversas com a família podem deixá-lo confuso quanto ao papel do
terapeuta na intervenção (“afinal ele é o
meu terapeuta ou o terapeuta da minha família?!”). Numa etapa de
desenvolvimento marcada pelo investimento em movimentos centrífugos à família,
este tipo de questões podem ser prejudiciais ao estabelecimento da relação de
confiança ou vir a perturbá-la.
Reflectindo sobre o próprio terapeuta, o acompanhamento
psicológico de jovens não pode permitir que sejam esquecidas as noções básicas
de ética e profissionalismo. Os jovens apreciam (e exigem!) informação clara e
concisa, um relacionamento adequado ao contexto de ajuda em que estamos e
segurança no projecto terapêutico estabelecido. O terapeuta deve por isso,
evitar uma postura paternalista e autoritária, substituindo-a uma atitude
colaborativa, flexível (ainda que com regras claras!) e centrada no jovem,
adequando a sua linguagem à linguagem do paciente sem personificar um
“adolescente” que não é.
Os jovens, quando vão a uma consulta querem falar com um
profissional e não com “um amigo”. O mesmo acontece com as famílias.
Diana Cruz
Referências:
Guerreiro, D., Cruz, D., Narciso, I., & Sampaio,
D. (2009). Aspectos Particulares da Consulta Psicológica e Psiquiátrica em
Adolescentes. Saúde Mental, XI(4), 29-41.
Sampaio, D. (2006). O conceito de adolescência. In Sampaio.
D. (Ed.), Lavrar o Mar (pp. 17-25).
Lisboa: Caminho.
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