O profiling é um
processo de utilização de evidências comportamentais deixadas no local de crime
para inferir caraterísticas acerca do ofensor, incluindo personalidade e
psicopatologia. Os primeiros perfis criados utilizavam juízo clínico e teorias
vigentes da época, como a psicoanálise (Torres, Boccaccini & Miller, 2006).
Um dos perfis mais
conhecidos é o de Hitler: em 1943, foi feito um perfil criminal pelo Dr. Henry
A. Murray da Universidade de Harvard com o objetivo de auxiliar os aliados na
sua estratégia, sendo que também outro relatório foi elaborado pelo Dr. Walter
Langer. Basearam-se nos discursos e textos escritos por Hitler, pessoas
próximas, relatos de eventos e filmes, registos escolares, militares e outras
fontes.
Primeiramente existe
uma descrição da vida de Hitler, afirmando-se que os dois lados da família não
possuiriam habilitações, sendo camponeses com casamentos intrafamiliares. O pai
de Hitler era filho bastardo, não existindo menção ao pai nem aos avós
paternos: o nome provinha da sua sogra, um nome judeu bastante comum.
O seu pai seria particularmente
agressivo com Adolf, traduzindo-se num indivíduo muito submisso à autoridade
mas com muita revolta. Aos seus 19 anos, a mãe morreu de cancro e vai para
Viena, sabendo-se que o mesmo possuía um grande afeto pela mesma.
Verificou-se depois uma
distinção na vida pessoal e na vida política. Num contexto mais íntimo, era descrito
como esquisito, tímido e incapaz de se decidir, sendo que simultaneamente
possuía violentas mudanças de humor e agressividade, contrapondo-se à ideia de
grandeza que transmitia ao público e à missão divina sentida pelo mesmo.
Pode-se relacionar também com a clivagem relativamente aos pais: a mãe
representaria tudo o que seria bom e o pai tudo o que seria mau. Segundo esta
interpretação, a sua divisão de personalidade dever-se-ia à identificação com a
sua mãe, que amava profundamente, e com o seu pai, o qual receava e odiava.
Esta identificação contraditória seria projetada num mundo em que a Alemanha
viria a representar a sua mãe, e os judeus o seu pai, pretendendo assim salvar
a sua mãe da infeção proveniente do pai (existindo suspeitas que o seu pai
teria ascendência judia). Foi também sugerido que a agressão que Hitler estava
a direcionar para a população, iria numa última instância canalizá-la para si e
suicidar-se.
Ana Lopes
Referências:
Murray, A. (1943). Analysis of the personality of Adolf
Hitler: With predictions of his future behavior and suggestions for dealing
with him now and after Germany’s surrender. Harvard Psychological Clinic.
Torres, A., Boccaccini, M. & Miller, H. (2006). Perceptions of
the validity and utility of criminal profiling among forensic psychologists and
psychiatrists. Professional Psychology: Research and Practice, 37 (1), 51-58.
Doi: 10.1037/0735-7028.37.1.51
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