quinta-feira, 30 de maio de 2013

[Psicologia e Diferenças Humanas]: A Inteligência e a sua Medição


Ser inteligente ou não ser, eis a questão!”. Parafraseando W. Shakespeare, o grande escritor de Hamlet, remeto para a questão da inteligência, no sentido de um constructo que tanta investigação tem suscitado, na procura de uma melhor compreensão e de uma definição mais unificadora.

Desde cedo que a inteligência tem sido tema de investigação em Psicologia, nomeadamente no campo da Psicologia das Diferenças Individuais, pois ser considerado como “mais” inteligente ou “menos” inteligente sempre foi uma preocupação presente na sociedade, enquanto marca característica de podermos considerar o ser humano como adaptado e bem-sucedido ou pelo contrário, com dificuldades em se adequar à realidade do contexto onde vive.
O termo inteligência tem a sua origem no latim intelligentĭa, que significa “compreensão, capacidade de entender” que, por sua vez, deriva de intelligere (“entender, compreender”). Esta é uma palavra que é composta por dois outros termos: inter (“entre”) e legere (“escolher, separar o que interessa, ler”). Deste modo, a origem etimológica do conceito de inteligência faz referência a quem sabe escolher, daí que a própria noção mais global de inteligência encontrar-se ligada à possibilidade de seleccionar/escolher, de proceder à selecção de quais as melhores opções perante a necessidade de resolver determinada questão. Independentemente das diversas definições de inteligência que possamos encontrar, este constructo evolve a capacidade de entender, assimilar, elaborar informação e usá-la de forma adequada à situação, seja ela mais teórica ou mais prática. São vários os autores dentro da Psicologia que se têm debruçado sobre o estudo deste fenómeno complexo, passando por nomes como David Wechsler, Howard Gardner, Robert Sternberg, defendendo diversas ideias para incorporar na definição do que é a inteligência e como se pode avaliar um sistema tão complexo como este. Não obstante as diversas escolas paradigmáticas e as diferentes teorias que têm vindo a ser criadas através dessas mesmas correntes, a questão da medição da inteligência tem sido uma preocupação constante em Psicologia, o que levou ao desenvolvimento de diversos conceitos e diferentes formas de medir o constructo inteligência.

Os tão conhecidos testes de Inteligência, erroneamente apelidados de testes de QI, pretendem assim operacionalizar as diferentes concepções teóricas acerca da inteligência, utilizando para isso certos procedimentos psicométricos, que permitem a obtenção de índices de medida como o caso do Quociente de Inteligência ou de outros índices estatísticos como os percentis, onde iremos enquadrar os resultados dos indivíduos num padrão de resultados relativos ao seu grupo de referência. Assim, conseguimos atingir um resultado que permite situar o nível de capacidade do sujeito em relação às capacidades necessárias para conseguir responder de forma eficaz e eficiente aos diferentes problemas que são colocados pela diversidade de tarefas que preconizam os instrumentos de medida da inteligência. Deste modo, os resultados que um indivíduo tem num dado teste, dizem respeito aos resultados referentes a esse mesmo teste, a um determinado momento de desenvolvimento da sua vida e ao constructo de inteligência que está a ser avaliado, não remetendo para um valor universal, imutável e cristalizado, como por vezes se atribui aos QI’s que nada mais são do que índices de medida que expressam a comparação dos resultados de um sujeito em comparação com a população de referência, dependendo do desempenho do sujeito de acordo com o momento do seu desenvolvimento, do conteúdo do instrumento de medida e da amostra com a qual o indivíduo está a ser comparado.

A medição do constructo inteligência é possível desde que tenhamos um conceito bem delimitado e um instrumento de medida adequado e fundamentado para o mesmo fim. Medir a inteligência sim, mas com um bom instrumento alicerçado num campo teórico bem definido.
Por isso, a resposta à pergunta inicialmente colocada “Ser inteligente ou não ser?”, é uma resposta mais complexa do que inicialmente se possa crer, pois envolve toda uma investigação de conceitos e de instrumentos que possam traduzir a real dimensão da inteligência, sendo que a inteligência medida considera-se como um atributo do comportamento do sujeito.

Maria João Santos

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