“Ser inteligente ou não
ser, eis a questão!”. Parafraseando W. Shakespeare, o grande escritor de
Hamlet, remeto para a questão da inteligência, no sentido de um constructo que
tanta investigação tem suscitado, na procura de uma melhor compreensão e de uma
definição mais unificadora.
Desde cedo que a
inteligência tem sido tema de investigação em Psicologia, nomeadamente no campo
da Psicologia das Diferenças Individuais, pois ser considerado como “mais”
inteligente ou “menos” inteligente sempre foi uma preocupação presente na
sociedade, enquanto marca característica de podermos considerar o ser humano
como adaptado e bem-sucedido ou pelo contrário, com dificuldades em se adequar
à realidade do contexto onde vive.
O termo inteligência
tem a sua origem no latim intelligentĭa,
que significa “compreensão, capacidade de entender” que, por sua vez, deriva de
intelligere (“entender,
compreender”). Esta é uma palavra que é composta por dois outros termos: inter (“entre”) e legere (“escolher, separar o que interessa, ler”). Deste modo, a
origem etimológica do conceito de inteligência faz referência a quem sabe
escolher, daí que a própria noção mais global de inteligência encontrar-se
ligada à possibilidade de seleccionar/escolher, de proceder à selecção de quais
as melhores opções perante a necessidade de resolver determinada questão.
Independentemente das diversas definições de inteligência que possamos
encontrar, este constructo evolve a capacidade de entender, assimilar, elaborar
informação e usá-la de forma adequada à situação, seja ela mais teórica ou mais
prática. São vários os autores dentro da Psicologia que se têm debruçado sobre
o estudo deste fenómeno complexo, passando por nomes como David Wechsler,
Howard Gardner, Robert Sternberg, defendendo diversas ideias para incorporar na
definição do que é a inteligência e como se pode avaliar um sistema tão
complexo como este. Não obstante as diversas escolas paradigmáticas e as
diferentes teorias que têm vindo a ser criadas através dessas mesmas correntes,
a questão da medição da inteligência tem sido uma preocupação constante em
Psicologia, o que levou ao desenvolvimento de diversos conceitos e diferentes
formas de medir o constructo inteligência.
Os tão conhecidos
testes de Inteligência, erroneamente apelidados de testes de QI, pretendem
assim operacionalizar as diferentes concepções teóricas acerca da inteligência,
utilizando para isso certos procedimentos psicométricos, que permitem a
obtenção de índices de medida como o caso do Quociente de Inteligência ou de
outros índices estatísticos como os percentis, onde iremos enquadrar os
resultados dos indivíduos num padrão de resultados relativos ao seu grupo de
referência. Assim, conseguimos atingir um resultado que permite situar o nível
de capacidade do sujeito em relação às capacidades necessárias para conseguir
responder de forma eficaz e eficiente aos diferentes problemas que são
colocados pela diversidade de tarefas que preconizam os instrumentos de medida
da inteligência. Deste modo, os resultados que um indivíduo tem num dado teste,
dizem respeito aos resultados referentes a esse mesmo teste, a um determinado
momento de desenvolvimento da sua vida e ao constructo de inteligência que está
a ser avaliado, não remetendo para um valor universal, imutável e cristalizado,
como por vezes se atribui aos QI’s que nada mais são do que índices de medida
que expressam a comparação dos resultados de um sujeito em comparação com a
população de referência, dependendo do desempenho do sujeito de acordo com o
momento do seu desenvolvimento, do conteúdo do instrumento de medida e da
amostra com a qual o indivíduo está a ser comparado.
A medição do constructo
inteligência é possível desde que tenhamos um conceito bem delimitado e um
instrumento de medida adequado e fundamentado para o mesmo fim. Medir a
inteligência sim, mas com um bom instrumento alicerçado num campo teórico bem
definido.
Por isso, a resposta à
pergunta inicialmente colocada “Ser inteligente ou não ser?”, é uma resposta
mais complexa do que inicialmente se possa crer, pois envolve toda uma
investigação de conceitos e de instrumentos que possam traduzir a real dimensão
da inteligência, sendo que a inteligência medida considera-se como um atributo
do comportamento do sujeito.
Maria João Santos
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