sexta-feira, 26 de abril de 2013

[Envelhecer]: Será preciso “superar” o Envelhecimento?

Numa pesquisa breve sobre que tipos de títulos aparecem acerca do envelhecimento, verifica-se que aparecem inúmeros títulos negativos, sobre a diminuição de capacidades, perdas, limitações; os outros mais positivos são sobre como superar essa fase com sucesso.
Como se envelhecer fosse uma experiência traumática que é preciso superar ou encaixar porque pode causar danos?! Será mesmo assim tão dolorosa? E superar para chegar onde?
Tal como as mamãs querem dicas para superarem os primeiros meses de vida dos bebés, os adolescentes querem saber como superar as suas“fases” e os pais desses adolescentes desesperam para saber como superar a “fase” em que os filhos estão, também os adultos querem saber o que fazer para melhor superarem a fase seguinte que se avizinha - o Envelhecer.
Parece que já nenhuma altura da vida se vive no presente, nem nenhuma “fase” tem coisas boas a aproveitar. É tudo para superar. Pergunto-me, com que objectivo?
Temos todos de nos apressar a superar a fase que vivemos porque é sempre má e queremos que passe depressa, porque o amanhã será sempre melhor?!
Como se todas as etapas de desenvolvimento fossem uma corrida de obstáculos, onde o que interessa é chegar ao fim. Mas se algumas pessoas nem têm uma ideia clara do que haverá nesse fim, para quê querer passar à frente, superar, correr?
O foco no futuro longínquo deixa-nos dormentes a esta altura (seja qual for a que estivermos a viver) da nossa vida. Dormentes no nosso presente e a quem somos no Agora.

Deixo-vos a conclusão de António Manuel Fonseca, que no seu livro intitulado O envelhecimento - uma abordagem psicológica (2006), conclui do seguinte modo:
Haverá poucas realidades tão universais como o envelhecimento. (…) o envelhecimento é uma condição bem mais complexa do que parece à primeira vista, pelo menos tão complexa como o crescimento, o que pode querer dizer que tal como temos responsabilidades no acto de crescer, elas também existem relativamente ao acto de envelhecer; se ninguém nos diz totalmente como devemos crescer, também ninguém determina completamente o nosso envelhecimento. Porém, ao invés de crescimento, serão decerto bastante menos aqueles que perspectivam o envelhecimento como uma oportunidade seja do que for, acabando a maioria de nós por vê-lo antes como um mal irremediável, um desfecho incompreensível no fim de uma vida feita de aprendizgens, de relações, de projectos, etc. Não se vislumbrando de imediato , no acto de envelhecer, qualquer potencialidade construtiva, como pode a velhice trazer algo de positivo à vida humana?”(p.185-186).
Aqui fica a questão.

Ana Carla Nunes

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