Jovens e Processos Artísticos: Construir
em Contextos de Risco
Quantas
vezes a estação
É
estação de novo.
E
a viagem antecipa sempre a ideia,
de
voltar a ser.
Liberto-me dos ensaios
que concretizam conceptualmente pobreza e criminalidade. Partilho a recriação:
jovens, pessoas numa continuidade descontínua de desenvolvimento; arte, hiato
para que não haja espaço com barreiras de pensar, nem inércia de construir;
contextos de risco, com desafios e necessidades de adaptação mais próximos no
espaço e no tempo, que exigem um treino neuronal de tomada de decisão, num
ambiente com menos recursos humanos e sociais para os valorizar.
Nesta medida, que há-de
ser a minha medida, liberto-me do que pode ser a inclusão social e mergulho no
que pode ser o desenvolvimento humano em contextos de risco, onde (sem também)
há ruas, tempo, pessoas, desafios e nichos com o chão do crescimento.
Socialmente - reformulo
-, economicamente, não sobejam as ferramentas pedagógicas e desenvolvimentistas,
porque mesmo quem as pode manusear, os menos jovens, continuam em constante resposta
ao meio desafiante, num invólucro tracejado em espiral.
Então, podemos falar em
risco transversal e longitudinal. Risco de se bloquear em qualquer momento o
papel no sistema, pelo infortúnio treinado de respostas menos adaptadas ao que
o contexto grita. Idílico seria pensar em competências que calassem o balbucio
barulhento e arrancassem a semântica que todos podemos perceber.
Agora o que pode ser a
arte? Arte e Jovens. Harmonizar da criação. Possibilidade de construção. Fase
que ainda não escolheu, que ainda não se habituou. A intervenção social, ancorada nas artes
e aplicada aos processos de maturação e de escolha, pode ser a mudança que ainda
não acordou. Neste movimento existe a vontade de empowerment comunitário, com quem ainda não perdeu a retina de
olhar para o lugar e para o ser, apreendendo e movimentando-se. Em contextos de
risco, as horas desafiantes, associadas a anos precários, colocam no palco o julgamento
do território, que retira, que exige e que, na visão mais romântica, apenas permite
sobreviver.
Os processos artísticos
utilizados como ferramentas de intervenção comunitária e humana em grupos de
jovens serão a folha em branco do pensamento criativo, exploratório e divergente,
que procura novas respostas aos desafios, que sobretudo admite haver novas
respostas. Seguindo esta assumpção a arte dará, em primeira instância, uma
maior capacidade de adaptação aos desafios, nas suas diferenças e recompensas.
Dará uma maior capacidade protectora às exigências sistemáticas, num escudo de
controlo interno sobre o meio. Dará uma foz às próprias soluções, com
responsabilização e júbilo, por assim serem. O contexto será a página que
aumenta com novos significados, numa vontade revigorante de procurar sem querer
encontrar, de viver as pessoas e de construir uma nova cultura de comunidade.
E quando se fala em
arte, fala-se em tudo o que possa já ser ou que possa ser criado, mas
sobretudo, criado numa visão gregária: não como um projecto pedido pelo
relógio, mas aceitando que sem fim, as ideias da pessoa que vive ao lado são
também uma nova motivação para recomeçar.
Oriento as palavras à
apresentação da Emergência Social, IPSS que se dedica ao desenvolvimento comunitário
no Bairro da Cruz Vermelha, na Alta de Lisboa. Suporte de necessidades básicas
da hierarquia de Maslow, avança também nas competências sociais e valores
humanos core. Equipa de Profissionais
do Humanismo, com quem partilho ideias e intervenções, exerce um trabalho
também focado nos jovens e no potencial humano de mudança que o processo de
crescimento tem associado. Este ano trabalhamos as artes, no calendário de
actividades Moviment´Arte, no qual em cada mês será trabalhado um processo
artístico. Serão facilitadas actividades de expressão envolvidas em cada área e
também integrada uma vertente de aproximação à prática, através de workshops. A ênfase é dada à construção
de projectos de vida, ao desenvolvimento de competências, à descoberta de
vocações e de novos significados e em grande cenário, a cultura de bairro como
ar que inspira.
No que é caminho, arte e
jovens em contextos de risco pretende ser uma relação dinâmica de conhecimento;
lápis que cria; ruas que se vivem e não se temem; projectos de vida que devem
integrar as fases de desenvolvimento, para poder ser desenvolvimento.
A arte, além de exaltar
as respostas criativas aos desafios que se supõem sempre iguais, é caminho para
a valorização pessoal, para a orientação a skills
artísticos e para o fortalecimento da ideia de cultura comunitária. A arte,
como fermentador do potencial humano que adormece.
O
que nos acompanhará: criar as ideias será conhecer os novos comportamentos.
Ana Rita Caldeira da Silva
Sem comentários:
Enviar um comentário