domingo, 28 de abril de 2013

[Mudança] (ar)Riscar na Arte


Jovens e Processos Artísticos: Construir em Contextos de Risco

Quantas vezes a estação
É estação de novo.
E a viagem antecipa sempre a ideia,
de voltar a ser.

Liberto-me dos ensaios que concretizam conceptualmente pobreza e criminalidade. Partilho a recriação: jovens, pessoas numa continuidade descontínua de desenvolvimento; arte, hiato para que não haja espaço com barreiras de pensar, nem inércia de construir; contextos de risco, com desafios e necessidades de adaptação mais próximos no espaço e no tempo, que exigem um treino neuronal de tomada de decisão, num ambiente com menos recursos humanos e sociais para os valorizar.
Nesta medida, que há-de ser a minha medida, liberto-me do que pode ser a inclusão social e mergulho no que pode ser o desenvolvimento humano em contextos de risco, onde (sem também) há ruas, tempo, pessoas, desafios e nichos com o chão do crescimento.
Socialmente - reformulo -, economicamente, não sobejam as ferramentas pedagógicas e desenvolvimentistas, porque mesmo quem as pode manusear, os menos jovens, continuam em constante resposta ao meio desafiante, num invólucro tracejado em espiral.
Então, podemos falar em risco transversal e longitudinal. Risco de se bloquear em qualquer momento o papel no sistema, pelo infortúnio treinado de respostas menos adaptadas ao que o contexto grita. Idílico seria pensar em competências que calassem o balbucio barulhento e arrancassem a semântica que todos podemos perceber.

Agora o que pode ser a arte? Arte e Jovens. Harmonizar da criação. Possibilidade de construção. Fase que ainda não escolheu, que ainda não se habituou. A intervenção social, ancorada nas artes e aplicada aos processos de maturação e de escolha, pode ser a mudança que ainda não acordou. Neste movimento existe a vontade de empowerment comunitário, com quem ainda não perdeu a retina de olhar para o lugar e para o ser, apreendendo e movimentando-se. Em contextos de risco, as horas desafiantes, associadas a anos precários, colocam no palco o julgamento do território, que retira, que exige e que, na visão mais romântica, apenas permite sobreviver.
Os processos artísticos utilizados como ferramentas de intervenção comunitária e humana em grupos de jovens serão a folha em branco do pensamento criativo, exploratório e divergente, que procura novas respostas aos desafios, que sobretudo admite haver novas respostas. Seguindo esta assumpção a arte dará, em primeira instância, uma maior capacidade de adaptação aos desafios, nas suas diferenças e recompensas. Dará uma maior capacidade protectora às exigências sistemáticas, num escudo de controlo interno sobre o meio. Dará uma foz às próprias soluções, com responsabilização e júbilo, por assim serem. O contexto será a página que aumenta com novos significados, numa vontade revigorante de procurar sem querer encontrar, de viver as pessoas e de construir uma nova cultura de comunidade.
E quando se fala em arte, fala-se em tudo o que possa já ser ou que possa ser criado, mas sobretudo, criado numa visão gregária: não como um projecto pedido pelo relógio, mas aceitando que sem fim, as ideias da pessoa que vive ao lado são também uma nova motivação para recomeçar.

Oriento as palavras à apresentação da Emergência Social, IPSS que se dedica ao desenvolvimento comunitário no Bairro da Cruz Vermelha, na Alta de Lisboa. Suporte de necessidades básicas da hierarquia de Maslow, avança também nas competências sociais e valores humanos core. Equipa de Profissionais do Humanismo, com quem partilho ideias e intervenções, exerce um trabalho também focado nos jovens e no potencial humano de mudança que o processo de crescimento tem associado. Este ano trabalhamos as artes, no calendário de actividades Moviment´Arte, no qual em cada mês será trabalhado um processo artístico. Serão facilitadas actividades de expressão envolvidas em cada área e também integrada uma vertente de aproximação à prática, através de workshops. A ênfase é dada à construção de projectos de vida, ao desenvolvimento de competências, à descoberta de vocações e de novos significados e em grande cenário, a cultura de bairro como ar que inspira.

No que é caminho, arte e jovens em contextos de risco pretende ser uma relação dinâmica de conhecimento; lápis que cria; ruas que se vivem e não se temem; projectos de vida que devem integrar as fases de desenvolvimento, para poder ser desenvolvimento.
A arte, além de exaltar as respostas criativas aos desafios que se supõem sempre iguais, é caminho para a valorização pessoal, para a orientação a skills artísticos e para o fortalecimento da ideia de cultura comunitária. A arte, como fermentador do potencial humano que adormece.
O que nos acompanhará: criar as ideias será conhecer os novos comportamentos.

Ana Rita Caldeira da Silva

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