Fazendo uma pausa nas
questões das proibições Vs permissões, hoje venho falar-vos do consumo de psicotrópicos
em estudantes universitários.
“Um terço dos universitários no Porto consome
psicotrópicos”
A notícia apresenta
alguns dos dados de um estudo realizado pela Sociedade Portuguesa de Enfermagem
de Saúde Mental (SPESM): “mais de 30% dos
alunos universitários do Porto consome medicamentos psicotrópicos e afirma não
ter prazer nas coisas que faz na vida.” Este estudo refere consumo de
ansiolíticos, hipnóticos e antidepressivos, associado ao aumento de “estados de ansiedade”, “do risco do suicídio” e “questões de isolamento”.
Este tema não é recente, mas dadas as circunstâncias
actuais do próprio país, esta parece uma realidade cada vez mais presente não
só para os estudantes universitários como para os jovens adultos que vem as
suas perspectivas de futuro mais sombrias. Na notícia são ainda focados os consumos de álcool “19% referem consumos todos os dias e 52,4%
referem consumos regulares aos fins-de-semana”.
Para além das questões da prevenção mencionadas na notícia, e
de algum apoio que poderia ser potenciado pela comunidade, amigos e familiares,
penso que existem outras dificuldades associadas a esta situação. Se por um
lado é verdade que os recursos (pelo menos no SNS) dificultam uma resposta
atempada e o diagnóstico adequado, por vezes a própria pessoa sente dificuldade
em procurar este tipo de ajuda porque ainda existe algum (bastante!?) estigma
associada aquilo que vem nomeado na notícia como “doenças mentais leves”.
Confesso que não gosto do termo usado, penso que seria mais adequado chamar-lhe
problemas associados à saúde mental ou algo do género (mais focado na dimensão
saúde e não na doença). Como provavelmente isso implicará a procura de um Psi,
muitas vezes o individuo vai adiando a procura de ajuda na esperança que a
coisa passe “é só uma fase”. E por vezes até pode ser, e se a pessoa se rodear
dos meios adequados possivelmente é “só uma fase”. Contudo, não é incomum, na
prática clinica, os clientes surgirem já com 3 ou 4 (ou mais!) anos de início
das crises de ansiedade ou as tais “doenças mentais leves”. Vão usando as
estratégias que tem à mão, que muitas vezes potenciam o problema, como o
isolamento, a auto medicação, ou o consumo mais acentuado de substâncias,
principalmente o álcool, como estratégia reguladora.
Queria aproveitar para deixar um apelo, se tiverem algumas
destas queixas procurem o vosso médico de família, falem da hipótese de serem
acompanhados por um psicólogo. Não adiem a procura de ajuda porque normalmente
só traz mais sofrimento associado. Se não se sentirem com energias para isso
tentem não se isolar: falem das vossas dificuldades com um amigo mais próximo,
um familiar… Ninguém deveria ter que passar por este tipo de sofrimento sozinho.
Habituamo-nos a ouvir no senso comum “Ah! Isso é psicológico!...” com uma certa conotação depreciativa e
desvalorização daquilo que o outro está a sentir/viver. A ansiedade, e também a
sintomatologia depressiva, podem realmente ser muito incapacitantes e de leve
não têm nada! Procurar ajuda só pode ser um sinal de coragem e nunca de
fraqueza! Se por vezes não fosse
necessário um certo tipo de apoio, nós (psis) não estávamos cá a fazer nada,
não é? ;)
Ana Nunes da Silva
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