Antes
de começar a escrever este post, gostaria de começar por agradecer aos meus
colegas da Unidade de Alcoologia de Lisboa, do instituto da Droga e da
Toxicodependência (IDT). Muito do que hoje sei acerca das diversas intervenções
no âmbito dos problemas ligados ao álcool (PLA) deve-se ao que aprendi com os
elementos desta equipa, muitos deles com mais de 20 anos de experiência na
área.
Um
dos primeiros contactos que tive com a área foi no âmbito de desmistificar
ideias que muitas vezes são veiculadas no senso comum, e que é importante ter
em conta principalmente ao trabalhar-se neste contexto.
Alguns
de vocês estarão já a pensar “mas ela não ia falar de toxicodependências? E
agora está para aqui a falar de álcool?!”
O álcool é uma droga (VERDADEIRO). O
álcool provoca dependência física e psíquica como qualquer outra droga, como a
heroína ou a cocaína. A diferença encontra-se na legalização, sendo o álcool
uma droga legal e o seu consumo é socialmente aceite e até mesmo incentivado. Para
algumas pessoas é possível um consumo moderado [explicarei as normas de
moderação noutro post] não implicando riscos para a saúde.
A
Unidade que referi anteriormente criou uma brochura que se encontra disponível
on-line no portal da saúde na qual poderão
encontrar alguma desta informação.
Um dos mitos, talvez
dos mais antigos, associado ao consumo de álcool é que o álcool aquece. Isto não é verdade. Efectivamente quando se
bebem bebidas com álcool existe uma sensação de calor que leva à percepção de
se estar a ficar mais quente. Contudo, estamos é a perder calor! O álcool faz
com que o sangue se desloque do interior do corpo para a superfície, provocando
essa sensação de calor. Mas efectivamente estamos a perder calor, porque este
movimento do sangue provoca perda de calor interno: o sangue encontra-se a uma
temperatura de cerca de 37º e normalmente é superior à temperatura ambiente.
Quando o sangue volta a passar pelo coração há necessidade do organismo
despender energia no restabelecimento da sua temperatura!
Algo que também se ouvia muito, principalmente nas zonas rurais, era que
“o álcool dá força”. Também não é verdade. O álcool tem um efeito estimulante e anestesiante,
que disfarça o cansaço provocado pelo trabalho físico ou intelectual
intenso, dando a ilusão de voltarem as forças. Mas, depois o cansaço é a
dobrar porque o organismo vai gastar ainda mais energias para
"queimar" o álcool no fígado e por um esforço acrescido do coração
para restabelecimento da sua temperatura! Não nos podemos esquecer
que o álcool não é um alimento (verdade!). Contrariamente
aos verdadeiros alimentos, ele não ajuda na edificação, construção e
reconstrução do organismo. O álcool não tem valor nutritivo porque produz
calorias inúteis para os músculos e não serve para o funcionamento das células!
Um outro mito associado
ao consumo de álcool é a que ajuda a
digestão e abre o apetite. Not true! O álcool faz com que os movimentos do estômago sejam muito
mais rápidos do que o normal e os alimentos passam precocemente para o
intestino sem estarem devidamente digeridos, dando a sensação de estômago
vazio. O seu uso prologado pode resultar na falta de apetite e no aparecimento
de gastrites e de úlceras!
Um
outro mito, que me parece que pode prejudicar bastante, e agora penso em
particular no grupo dos jovens, é a ideia de que o álcool ajuda a lidar com a timidez e facilita as relações sociais.
FALSO! O álcool até pode ter esse efeito desinibidor, e assim haver a
sensação de estar mais à vontade. Mas não será isso uma ilusão? Por um lado,
nem sempre é possível controlar os consumos nesse ponto, entre o estar “sóbrio”
e mais desinibido, e por outro as relações não se tornarão pouco profundas ou
até mesmo artificiais?
Aguardo dúvidas,
sugestões e comentários! E vejam lá não se metam nos copos! ;)
Ana Nunes da
Silva
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