Para
as próximas eleições autárquicas, em Outubro de 2013, a nova lei da Reforma da
Administração Local (RAL) entrará em vigor. Neste último ano, desde que se
falou da RAL, muito se tem discutido, política e socialmente, sobre o impacto das
medidas da dita lei. Muitas são as alterações trazidas pela RAL, mas a mais
falada é sem dúvida a diminuição do número de freguesias, agregando algumas,
umas às outras, limítrofes.
Importa
perceber que as populações, que por obrigação, não têm tanta informação – ou
acesso a ela – como quem os governa a nível local, confiam a estes a tarefa de
os representarem da melhor forma. O que acontece, neste tema, é que o nível de
informação da população continuou o mesmo, mas os governantes locais pediram às
suas populações que lutassem com eles, contra a RAL. Razão? Muitas escondidas,
sem dúvida. A descoberto está, o que chamam ser, a perda do Sentimento de
Pertença destas populações às suas terras.
O
Sentimento de Pertença surge nas pessoas devido ao sentimento de confiança
atribuído a algo. Este aumenta a auto-estima e a percepção de controlo, o que
baixa os níveis de ansiedade das pessoas. A melhor qualidade de vida vem por
acréscimo. Tendo em conta as preocupações que nos ocupam o dia-a-dia, é bom
poder sentir, quando chegamos a casa, que pertencemos a algo, a um grupo, a uma
sociedade.
Por
outro lado, quando não existe sentimento de confiança, existe o de instabilidade,
que dá percepção de insegurança e não promove a auto-estima ou a percepção de
controlo. A ansiedade aumenta e com ela os receios e limites de uma vivência
demasiado ponderada pela instabilidade.
O
que se estão a esquecer é que este sentimento de segurança não provém, como se
quer passar, de a nossa terra se continuar a chamar em termos administrativos –
a título de exemplo – Alvalade. Passa sim, por as pessoas serem as mesmas, por
partilharem os mesmos interesses e por conseguirem qualidade de vida ao lutarem
por objectivos comuns. A terra não deixa de ser a que é por mudar o nome –
acrescento aqui, mais uma vez, que a mudança é apenas administrativa - e não
deixa de existir há 900 anos, como se quer passar. Se o sentimento de pertença
existir, não mudará por leis administrativas que não alteram o dia-a-dia local
das pessoas. O que era longe, assim irá continuar. O que estava perto, lá
estará.
Na
zona da Baixa de Lisboa, 12 freguesias vão ser agregadas. Acham que a sua
população deixar de ser “bairristas”? Deixar de mostrar orgulho pela sua terra
e de o manifestar? A emoção à terra que era grande, ficará enorme. Porquê?
Porque a força das pessoas, o seu sentido de colectividade, aumenta quando
fases percebidas como adversas são passadas. São criados novos objectivos
colectivos e a qualidade de vida aumentará. Com ela, e no sentido do explicado,
aumentará a auto-estima e a percepção de controlo, essenciais à qualidade de
vida. Pegando no exemplo, quem vive em Alvalade, irá a continuar a ser de lá e,
Alvalade será sempre Alvalade.
A
pensar, também, é o facto de certos governantes locais promoverem o sentimento
de pertença praticando o sentimento de insegurança, ao informarem de forma
errada quem luta sinceramente pela sua terra, sem perceber que não está a lutar
por si.
Tiago
A. G. Fonseca
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