segunda-feira, 29 de outubro de 2012

[Psicologia e Política]: A RAL e as Pessoas


Para as próximas eleições autárquicas, em Outubro de 2013, a nova lei da Reforma da Administração Local (RAL) entrará em vigor. Neste último ano, desde que se falou da RAL, muito se tem discutido, política e socialmente, sobre o impacto das medidas da dita lei. Muitas são as alterações trazidas pela RAL, mas a mais falada é sem dúvida a diminuição do número de freguesias, agregando algumas, umas às outras, limítrofes.
Importa perceber que as populações, que por obrigação, não têm tanta informação – ou acesso a ela – como quem os governa a nível local, confiam a estes a tarefa de os representarem da melhor forma. O que acontece, neste tema, é que o nível de informação da população continuou o mesmo, mas os governantes locais pediram às suas populações que lutassem com eles, contra a RAL. Razão? Muitas escondidas, sem dúvida. A descoberto está, o que chamam ser, a perda do Sentimento de Pertença destas populações às suas terras.

O Sentimento de Pertença surge nas pessoas devido ao sentimento de confiança atribuído a algo. Este aumenta a auto-estima e a percepção de controlo, o que baixa os níveis de ansiedade das pessoas. A melhor qualidade de vida vem por acréscimo. Tendo em conta as preocupações que nos ocupam o dia-a-dia, é bom poder sentir, quando chegamos a casa, que pertencemos a algo, a um grupo, a uma sociedade.
Por outro lado, quando não existe sentimento de confiança, existe o de instabilidade, que dá percepção de insegurança e não promove a auto-estima ou a percepção de controlo. A ansiedade aumenta e com ela os receios e limites de uma vivência demasiado ponderada pela instabilidade.
O que se estão a esquecer é que este sentimento de segurança não provém, como se quer passar, de a nossa terra se continuar a chamar em termos administrativos – a título de exemplo – Alvalade. Passa sim, por as pessoas serem as mesmas, por partilharem os mesmos interesses e por conseguirem qualidade de vida ao lutarem por objectivos comuns. A terra não deixa de ser a que é por mudar o nome – acrescento aqui, mais uma vez, que a mudança é apenas administrativa - e não deixa de existir há 900 anos, como se quer passar. Se o sentimento de pertença existir, não mudará por leis administrativas que não alteram o dia-a-dia local das pessoas. O que era longe, assim irá continuar. O que estava perto, lá estará.
Na zona da Baixa de Lisboa, 12 freguesias vão ser agregadas. Acham que a sua população deixar de ser “bairristas”? Deixar de mostrar orgulho pela sua terra e de o manifestar? A emoção à terra que era grande, ficará enorme. Porquê? Porque a força das pessoas, o seu sentido de colectividade, aumenta quando fases percebidas como adversas são passadas. São criados novos objectivos colectivos e a qualidade de vida aumentará. Com ela, e no sentido do explicado, aumentará a auto-estima e a percepção de controlo, essenciais à qualidade de vida. Pegando no exemplo, quem vive em Alvalade, irá a continuar a ser de lá e, Alvalade será sempre Alvalade.
A pensar, também, é o facto de certos governantes locais promoverem o sentimento de pertença praticando o sentimento de insegurança, ao informarem de forma errada quem luta sinceramente pela sua terra, sem perceber que não está a lutar por si.


Tiago A. G. Fonseca

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