Reflectindo
sobre o que significa envelhecer deparamo-nos com um dos tabus da sociedade: a
morte.
Não
se expõe, não se fala abertamente e nem é socialmente aceite grandes manifestações
de pesar aos que sofrem com a perda de um ente querido. Talvez porque a velhice
é a etapa de desenvolvimento mais próxima do fim natural da vida, sendo o medo
da morte contagiante, torna-a no “bicho papão” inevitável.
Envelhecer
é comum a todos os que vivemos, desde a nossa concepção. O tempo a passar é uma
constante. Na nossa vida, regida por relógios, há uma consciência comum de que o
tempo passa, que estamos “atrasados” e “sem tempo”, o que aumenta a pressão
sobre a idade. Surge a tentativa de fuga ao envelhecer, negando os aniversários
que passam, mentindo sobre a idade, omitindo as marcas do tempo no nosso corpo.
Para quê?
Porque ser velho não é moda. É feio
numa sociedade focada na beleza jovem, na eficácia e eficiência aliada à
velocidade, desvalorizando tanto a temperança, como a sabedoria e a experiência.
Tenho
a sorte de pertencer a uma classe profissional que enaltece e valoriza a
experiência e a sabedoria, mas nem todas o fazem, correndo o risco de
desperdiçar recursos incalculáveis, só porque esta pessoa “expirou o prazo de
validade” para a sociedade e tem de se reformar.
Penso
que quem souber cuidar e prezar os seus Velhos terá sempre mais recursos disponíveis
para atingir a excelência no que quer que faça.
Há
ainda outros factores envolvidos nesta aversão ao envelhecer. Os meios de
comunicação e o marketing propagam
uma imagem de beleza jovem e fresca. Quase todos os atributos característicos
da velhice tornaram-se obscenos e “a eliminar”.
Como sublinhava Eunice Muñoz, numa
entrevista televisiva recentemente, “Envelhecer
é obsceno, as rugas são obscenas” mas apesar disso ela orgulha-se delas e
não as esconde.
Que
sentido faz este comportamento numa sociedade que quer “eliminar/esconder as
rugas”? São “marcas do tempo”, dizia
esta grande Senhora, são marcas de tudo o que viveu. Então, porque esconder que
já se viveu tanto, que há tantas recordações por celebrar?
Ana
Carla Nunes
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