quarta-feira, 17 de outubro de 2012

[Envelhecer]: Envelhecer...


Reflectindo sobre o que significa envelhecer deparamo-nos com um dos tabus da sociedade: a morte.
Não se expõe, não se fala abertamente e nem é socialmente aceite grandes manifestações de pesar aos que sofrem com a perda de um ente querido. Talvez porque a velhice é a etapa de desenvolvimento mais próxima do fim natural da vida, sendo o medo da morte contagiante, torna-a no “bicho papão” inevitável.

Envelhecer é comum a todos os que vivemos, desde a nossa concepção. O tempo a passar é uma constante. Na nossa vida, regida por relógios, há uma consciência comum de que o tempo passa, que estamos “atrasados” e “sem tempo”, o que aumenta a pressão sobre a idade. Surge a tentativa de fuga ao envelhecer, negando os aniversários que passam, mentindo sobre a idade, omitindo as marcas do tempo no nosso corpo. Para quê?
            Porque ser velho não é moda. É feio numa sociedade focada na beleza jovem, na eficácia e eficiência aliada à velocidade, desvalorizando tanto a temperança, como a sabedoria e a experiência.

Tenho a sorte de pertencer a uma classe profissional que enaltece e valoriza a experiência e a sabedoria, mas nem todas o fazem, correndo o risco de desperdiçar recursos incalculáveis, só porque esta pessoa “expirou o prazo de validade” para a sociedade e tem de se reformar.
Penso que quem souber cuidar e prezar os seus Velhos terá sempre mais recursos disponíveis para atingir a excelência no que quer que faça.

Há ainda outros factores envolvidos nesta aversão ao envelhecer. Os meios de comunicação e o marketing propagam uma imagem de beleza jovem e fresca. Quase todos os atributos característicos da velhice tornaram-se obscenos e “a eliminar”.

            Como sublinhava Eunice Muñoz, numa entrevista televisiva recentemente, “Envelhecer é obsceno, as rugas são obscenas” mas apesar disso ela orgulha-se delas e não as esconde.
Que sentido faz este comportamento numa sociedade que quer “eliminar/esconder as rugas”? São “marcas do tempo”, dizia esta grande Senhora, são marcas de tudo o que viveu. Então, porque esconder que já se viveu tanto, que há tantas recordações por celebrar?

Ana Carla Nunes

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