segunda-feira, 11 de novembro de 2013

NEPC: Violência e Agressividade: que diferenças?


Etimologicamente, a palavra VIOLÊNCIA deriva do latim – vis – tendo como significado força. A OMS (s/data, citado por Magalhães, 2010) menciona violência referindo-se à violência intencional ou não intencional.
A primeira remete-nos para um comportamento voluntário, direto ou indireto, surgindo num contexto interativo ou existindo uma relação de duas ou mais pessoas, com desigualdade de poderes. Por sua vez a violência não intencional poderá ser utilizada associada a acidentes (Magalhães, 2010).
Hart e Dempster (1997, citados por Tapscott, Hancock, & Hoaken, 2012) diferenciam estes dois tipos de violência, caracterizando a violência instrumental como um meio para um fim (i.e., que visa a obtenção de um objetivo externo que não o infligir da injúria), e a violência reativa como um fim em si mesmo. O objetivo último da violência reativa é ameaçar a vítima, posteriormente à perceção de provocação (e.g. insultos verbais, ameaça de agressão) (Bushman & Anderson, 2001, citados por Tapscott, Hancock, & Hoaken, 2012).
Desta forma, e de acordo com alguns teóricos (e.g. Bandura, 1973; Baron & Richardson, 1994; Berkowitz, 1993; Bushman & Anderson, 2001; Geen, 2001; Kingsbury, Lambert, & Hendrickse, 1997, citados por Tapscott, Hancock, & Hoaken, 2012), a violência (entendida nesta perspetiva como violência instrumental) traduz-se no comportamento, por parte de uma pessoa contra outra, que intencionalmente é de ameaça.
Por outro lado, a AGRESSÃO (entendida âmbito como violência reativa) é então entendida como qualquer comportamento que é executado com o intuito de causar ameaça física ou psicológico a outro indivíduo. (Reiss & Roth, 1993, citados por Tapscott, Hancock, & Hoaken, 2012).
Ferguson e Rule (1983, citados por Eysenck, 2000) acrescem ainda que um comportamento agressivo representa um ato real com intuito de magoar e que configura uma violação das normas quando percecionado como ilegítimo.
Todavia, os conceitos de prejudicar e magoar dependem dos valores e contexto social das diferentes culturas e sociedades (Blackburn, 1993). De salientar assim que um comportamento agressivo não tem que necessariamente envolver ataques físicos, como é o exemplo da agressividade verbal e/ou emocional.
No entanto, a terminologia permanece pouco clarificadora e pode causar problemas práticos na distinção destes dois conceitos, pelo que a literatura distingue-os através das consequências legais implícitas ao comportamento. Quer isto dizer que os comportamentos que são punidos por lei tendem a ser referidos como violência, enquanto que os comportamentos de ameaça, que não são contemplados pela lei (ou cuja «moldura» penal não implica cumprimento de pena de prisão efetiva) tendem a ser tidos como agressão (Megargee, 1982; Patrick & Zempolich, 1998, citados por Tapscott, Hancock, & Hoaken, 2012).
Em suma, podemos afirmar que violência é a expressão comportamental (física e verbal) da agressividade e está associada ao dano. A violência é uma variável associada à agressão, que a define, mediante as características do comportamento expresso, i.e., trata-se da consideração da dimensão contextual na qual se pode produzir as agressões.
 
Sandra Matias
 
Referências:
Blackburn, R. (1993). The psychology of criminal conduct. West Sussex: John Wiley & Sons Ltd.
Eysenck, W. (2000). Psychology – a student’s handbook. West Sussex: Psychology Press.
Magalhães, T. (2010). Violência e abuso. Coimbra: Imprensa da Universidade de Coimbra.
Tapscott, J., Hancok, M., & Hoaken, P. (2012). Severity and frequency of reactive and instrumental violent offending: Divergent validity of subtypes in an adult forensic sample. Criminal Justice and Behavior, 39 (2), 202-219.

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