Se
encararmos o ano e as suas estações como uma metáfora para o ciclo de vida dos
humanos, tal como é sugerido por algumas crenças religiosas/espirituais, o
outono corresponderia à “meia idade” e a velhice ao inverno.
Aprecio
esta ideia porque, frequentemente, quando
se fala de envelhecer, fala-se em perdas, em sofrimento e tristeza. Mas o
inverno não são só dias de chuva e muito frio apesar de o ser também. São
exatamente os dias chuvosos e feios que enaltecem e nos fazem apreciar
muitissimo mais a beleza dos raios de sol. O frio aguça os sentidos e faz
parecer muito mais aconchegante o calorsinho do sol a bater na cara num fim de
tarde. Apesar de sermos avisados para a
importância dos pequenos prazeres ao longo da vida, é especialmente saliente a
sua relevância no final. Talvez porque a fome de outras coisas foi satisfeita
ou porque já se teve de tudo um pouco (ou muito) deixe de saber ao mesmo, a
fome de se viver simplesmente seja a que resta, a fome de estar no aqui e agora,
de amar e de estar com quem se ama, vivendo cada momento como se nada mais
importasse.
É claro que nem todos os que
envelhecem conseguem (ou sabem, ou querem) saborear essa parte da viagem, tal
como nem todos saboreiam a sua infância ou adolescência, seja por que motivo
for.
O
que importa sublinhar é que tal como a preparação do inverno começa na
primavera também a preparação do nosso envelhecer deve ser começada desde
pequenitos. A aprender a apreciar a velhice, mesmo que seja o envelhecer dos 6
para os 7 anos já é envelhecer. Ensinar os mais pequenos a não temerem a
velhice, a não a vermos como uma fase de vergonha, triste, mal-cheirosa e de
sofrimento. Deveriamos mostrar-lhes que tal como todas as restantes estações do
ano tem coisas boas, como o natal, a lareira, uma cama quentinha em dias de
chuva, as laranjas e os limões com tudo a cheirar a canela, e menos boas como o
frio que gela os ossos, os pés molhados, gripes e constipações, o custar a sair
da cama de manhã, não deixando de ser mais uma parte do precurso que fazemos
por cá.
Ana
Carla Nunes
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