terça-feira, 4 de dezembro de 2012

[Envelhecer]: Envelhecer: É Outono ou Inverno?


Se encararmos o ano e as suas estações como uma metáfora para o ciclo de vida dos humanos, tal como é sugerido por algumas crenças religiosas/espirituais, o outono corresponderia à “meia idade” e a velhice ao inverno.
Aprecio esta ideia porque, frequentemente, quando se fala de envelhecer, fala-se em perdas, em sofrimento e tristeza. Mas o inverno não são só dias de chuva e muito frio apesar de o ser também. São exatamente os dias chuvosos e feios que enaltecem e nos fazem apreciar muitissimo mais a beleza dos raios de sol. O frio aguça os sentidos e faz parecer muito mais aconchegante o calorsinho do sol a bater na cara num fim de tarde. Apesar de sermos avisados para  a importância dos pequenos prazeres ao longo da vida, é especialmente saliente a sua relevância no final. Talvez porque a fome de outras coisas foi satisfeita ou porque já se teve de tudo um pouco (ou muito) deixe de saber ao mesmo, a fome de se viver simplesmente seja a que resta, a fome de estar no aqui e agora, de amar e de estar com quem se ama, vivendo cada momento como se nada mais importasse.

É claro que nem todos os que envelhecem conseguem (ou sabem, ou querem) saborear essa parte da viagem, tal como nem todos saboreiam a sua infância ou adolescência, seja por que motivo for.
O que importa sublinhar é que tal como a preparação do inverno começa na primavera também a preparação do nosso envelhecer deve ser começada desde pequenitos. A aprender a apreciar a velhice, mesmo que seja o envelhecer dos 6 para os 7 anos já é envelhecer. Ensinar os mais pequenos a não temerem a velhice, a não a vermos como uma fase de vergonha, triste, mal-cheirosa e de sofrimento. Deveriamos mostrar-lhes que tal como todas as restantes estações do ano tem coisas boas, como o natal, a lareira, uma cama quentinha em dias de chuva, as laranjas e os limões com tudo a cheirar a canela, e menos boas como o frio que gela os ossos, os pés molhados, gripes e constipações, o custar a sair da cama de manhã, não deixando de ser mais uma parte do precurso que fazemos por cá.

Ana Carla Nunes

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