Isaac
Newton era agricultor
-
Como pode surgir o foco na criação de projectos sociais? -
“Que a tua vida não seja uma vida
estéril. – Sê útil. – Deixa rasto. – Ilumina, com o resplendor da tua fé e do
teu amor. “
S.Josemaria
Escrivá Caminho, n.1
Temos também em nós a
natural mutilação de ideias, também somos nós os comedores de rasto. É aceite
pela sobrevivência e pela luta contra o tempo-urgente: precisamos do chão de
agora, do número e da data, do terreno fértil e da festa de inauguração.
Na concomitância,
existe a espera, a criação, o encontro e o acaso, que são vizinhos e que às
vezes dão-se mal.
Escuto-me.
As partículas de luz
esperaram pelo acaso; apareceu o significado depois do encontro. Analogamente
falo das ideias e da grande responsabilidade a que nos sujeitamos: sermos o
motor que escolhe o agente, o objecto, a acção e a razão.
Tal como a luz, não se
cria autoritariamente nenhuma lei, nenhuma ligação, nenhuma mudança. Colabora-se,
com o encanto da atenção e da disponibilidade.
Naturalmente, se
quisermos ser preconizadores de ideias, podemos pensar neste caminho: as
pessoas procuram o encanto das raízes, do ser-aqui. A vivência de ser-aqui e
não de ser-em-qualquer-sítio, do seria-igual-em-qualquer-sítio ou da vigência de
se ser. As pessoas procuram através da sua natureza exploradora e existencial a
forma de conhecer a história e a cultura, de se conhecerem e de se
desenvolverem com a responsabilidade desse conhecimento. Reconhecerem a
responsabilidade e a ideia. Respeitarem a alma, que só pode funcionar num único
mundo de uma forma única, a alma como nuvem irrepetível e irreparável. A alma
de estar, de ser, de crescer e de criar, que existe com alguém para este sítio
e para este momento, como um júbilo do cosmos.
Por isso, que a questão
do foco não nos atemorize. Onde está o foco? Treme a ciência, a investigação e os
relatórios de projecto. Assustar-me-ia se perdesse eu um dia num jardim o motor
que liga as ideias e as transforma numa e depois noutra.
Tudo o que já conhecemos
e que respeito, porque foi, acredito, encontrado e criado para existir também -
os prazos e a definição – dão-nos o prazer do movimento ao calendário; e esse
prazer pode depois ser vazio, onde ao conseguir respeitar o número acaba depois
o ventre do tempo. Para mim são essas as metástases da criação sem alma, sem
vida e sem história.
Se a sobrevivência pede
a definição, a definição também pede as raízes, a terra segura, quente e
confortável, o sentimento de ter sido criada para ali e não para outro sítio.
Chamo-lhe identidade.
Chamo-lhe conhecer de
dentro para fora e repito a semântica: a história, a cultura, a primeira arte, as
raízes, o encanto do bairro, o brilho do chão, as danças de anos, os sabores
que se lêem, os instrumentos que se estudam, o tempo que não é dia nem é noite.
Porque acredito nas
emoções e no compromisso com a humanidade, acredito também que a economia, a
matemática e as leis da física são uma forma de sensibilidade. A economia
avança também através da atitude emocional, de um trabalho reflexivo enérgico e
sensível.
Também Newton estudou
filosofia e teologia e depois viu e sentiu a maçã; pensou sobre a maçã; comeu a
maçã. Também ele estava atento aos estímulos, à natureza, ao redor, ao redor de
dentro. E teve ele a oportunidade para questionar mais e ficar encantado com
isso, atento e disponível para o que o distanciava das leis.
Acredito, eu, que
optar pelo poder de escolher, de limitar, de criar apenas no que conhecemos e
para o que conhecemos pode funcionar se vivermos confortáveis com a hipótese
escolhida. Mas também podemos finalmente ver coragem e ligar estímulos que
viajam connosco para outra língua e para outros símbolos. O significado nasce e
viaja e somos nós o seu veículo; e somos nós parte do motor.
Não posso ser mais
objectiva, quando quisermos falar de foco. O foco é o momento certo e esse sabemos
que existe, sabemos que o conhecemos e sabemos que é alcançado também através de
encontros pela metodologia de contacto e de descoberta humana que se chama Intuição.
Quando um homem cria um
objectivo e escolhe um foco, obriga-se a ser magnânimo. E pode ser. Mas as
pequenas coisas estão neste momento a perder os olhos que as vêem e que se
renovam sempre maiores quando trabalhamos com pessoas.
Aqui,
quando acordamos, percebemos que foi criado o novo verbo.
Ana
Rita Caldeira da Silva
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