quarta-feira, 12 de março de 2014

[Comboio do Desenvolvimento] Fases, etapas, níveis, estádios...


Fases, etapas, níveis, estádios… do Desenvolvimento Psicológico

No ano que passou, o nosso comboio - lembram-se dele? – foi-nos conduzindo a algumas dimensões relativamente consensuais do desenvolvimento psicológico,  enquanto experiência de si e do mundo que vamos activamente construindo ao longo do tempo de vida e não simplesmente porque se vai acumulando e escoando esse tempo que vivemos. Vimos também como J. Piaget conversava com as crianças e como pode mudar, no tempo, o pensamento e/ou conhecimento, por exemplo, sobre a idade das pessoas.
Mas, o que serão então essas mudanças, que Piaget, Freud, Gesell, Wallon, Erikson, entre outros, designaram estádios, níveis, períodos, fases…do desenvolvimento psicológico? Dito de outro modo, o que distingue, de facto, as mudanças que interessam os psicólogos do desenvolvimento?

A observação da conduta humana (e também dos outros animais) mostra como ela é intrinsecamente mutável. Mudam os nossos movimentos, as expressões faciais e a postura corporal. Mudam as nossas aprendizagens, os conhecimentos e pensamentos. Mudam as motivações e emoções, os afectos e sentimentos. Muda a linguagem, a forma de comunicar e as relações que construímos com uns e com outros… Enfim, o que designamos comportamento é, de facto, um continuum de acções de interacção, uma sucessão de respostas a estímulos e contextos que vamos encontrando e que vão também mudando, é tudo o que experimentamos e/ou fazemos, momento a momento, para nos adaptarmos ao mundo.
Porém, há muito que os homens se aperceberam que não podiam descrever e compreender o comportamento humano (e animal) como um todo. Porque a nossa capacidade teórica e metodológica é limitada e precisamos de encontrar critérios que nos permitam dividir esse fluxo de actividade e ir, pouco a pouco, analisando e interpretando só alguns dos seus componentes.
A consulta de qualquer manual de Psicologia, a organização curricular dos cursos de Psicologia ou mesmo as especialidades de formação dos psicólogos mostram, por exemplo, a divisão do comportamento em diferentes domínios, diferentes perspectivas teóricas ou diferentes formas de organização da acção. Porém, a conduta que designamos cognitiva é, de facto, indissociável daquela que designamos perceptiva, motora, emocional ou social. A relação de uma resposta às suas consequências é, de facto, indissociável da relação dessa mesma resposta aos estímulos que a induziram, ou às condições sociais ou emocionais de quem a produz, ou a muitos outros motivos que vão despertando o interesse de diferentes investigadores, em diferentes momentos da história da nossa disciplina.

Enfim, é a curiosidade e a vontade de estudar do comportamento que introduz divisões artificiais numa actividade que é sempre mutável, mas indissociável, interligada, e qualquer critério de compreensão científica desse continuun de mudança comportamental é sempre, e necessariamente, reducionista, limitativo.
Ora, as mudanças que interessam os psicólogos do desenvolvimento parecem superar as limitações inerentes à própria investigação científica e legitimar uma divisão natural, realista e consensual, de diferentes períodos, etapas, níveis ou estádios da ontogénese do comportamento humano. Porquê? 
Porque a simples observação do crescimento e maturação física mostra a evolução do bebé, á criança, ao adolescente, ao adulto e ao idoso, oferecendo assim uma sucessão objectiva de mudanças, cumulativas e qualitativas, que legitimam a divisão do ciclo de vida do organismo em diferentes idades, fases, períodos, etapas comuns a todas as pessoas.

Porque as mudanças fisiológicas, que vão marcando o ciclo de vida do organismo, estão aparentemente associadas à emergência de mudanças do comportamento, sucessivas, qualitativas e cumulativas, que são também relativamente universais ou comuns à maioria das pessoas, o que poderá também legitimar uma divisão natural, realista e consensual, do ciclo de vida das pessoas em diferentes fases, períodos, etapas, níveis ou estádios do desenvolvimento psicológico.  
E porque, desde há muito tempo, a observação dessa sucessão de mudanças induziu práticas educativas, sociais e culturais diversas e relativas a cada uma dessas fases, períodos, etapas, níveis ou estádios de crescimento físico e desenvolvimento psicológico.
Mas, será que a delimitação destas fases, períodos, etapas, níveis ou estádios do desenvolvimento psicológico tem sido, de facto, consensual e comum à maioria das pessoas, das sociedades e até dos investigadores da psicologia do desenvolvimento?
Por hoje, deixo os meus leitores, e particularmente os psicólogos, reflectirem sobre esta questão que parece tão simples, mas que continua, ainda hoje, a alimentar o debate científico na nossa disciplina.

Maria Stella Aguiar

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