Fases,
etapas, níveis, estádios… do Desenvolvimento Psicológico
No
ano que passou, o nosso comboio - lembram-se dele? – foi-nos conduzindo a
algumas dimensões relativamente consensuais do desenvolvimento
psicológico, enquanto experiência de si
e do mundo que vamos activamente construindo ao longo do tempo de vida e não
simplesmente porque se vai acumulando e escoando esse tempo que vivemos. Vimos
também como J. Piaget conversava com as crianças e como pode mudar, no tempo, o
pensamento e/ou conhecimento, por exemplo, sobre a idade das pessoas.
Mas,
o que serão então essas mudanças, que Piaget, Freud, Gesell, Wallon, Erikson,
entre outros, designaram estádios, níveis, períodos, fases…do desenvolvimento
psicológico? Dito de outro modo, o que distingue, de facto, as mudanças que
interessam os psicólogos do desenvolvimento?
A
observação da conduta humana (e também dos outros animais) mostra como ela é
intrinsecamente mutável. Mudam os nossos movimentos, as expressões faciais e a
postura corporal. Mudam as nossas aprendizagens, os conhecimentos e
pensamentos. Mudam as motivações e emoções, os afectos e sentimentos. Muda a
linguagem, a forma de comunicar e as relações que construímos com uns e com
outros… Enfim, o que designamos comportamento é, de facto, um continuum de acções de interacção, uma
sucessão de respostas a estímulos e contextos que vamos encontrando e que vão
também mudando, é tudo o que experimentamos e/ou fazemos, momento a momento,
para nos adaptarmos ao mundo.
Porém,
há muito que os homens se aperceberam que não podiam descrever e compreender o
comportamento humano (e animal) como um todo. Porque a nossa capacidade teórica
e metodológica é limitada e precisamos de encontrar critérios que nos permitam
dividir esse fluxo de actividade e ir, pouco a pouco, analisando e
interpretando só alguns dos seus componentes.
A
consulta de qualquer manual de Psicologia, a organização curricular dos cursos
de Psicologia ou mesmo as especialidades de formação dos psicólogos mostram,
por exemplo, a divisão do comportamento em diferentes domínios, diferentes
perspectivas teóricas ou diferentes formas de organização da acção. Porém, a
conduta que designamos cognitiva é, de facto, indissociável daquela que
designamos perceptiva, motora, emocional ou social. A relação de uma resposta
às suas consequências é, de facto, indissociável da relação dessa mesma
resposta aos estímulos que a induziram, ou às condições sociais ou emocionais
de quem a produz, ou a muitos outros motivos que vão despertando o interesse de
diferentes investigadores, em diferentes momentos da história da nossa disciplina.
Enfim,
é a curiosidade e a vontade de estudar do comportamento que introduz divisões
artificiais numa actividade que é sempre mutável, mas indissociável,
interligada, e qualquer critério de compreensão científica desse continuun de mudança comportamental é
sempre, e necessariamente, reducionista, limitativo.
Ora,
as mudanças que interessam os psicólogos do desenvolvimento parecem superar as
limitações inerentes à própria investigação científica e legitimar uma divisão
natural, realista e consensual, de diferentes períodos, etapas, níveis ou
estádios da ontogénese do comportamento humano. Porquê?
Porque
a simples observação do crescimento e maturação física mostra a evolução do
bebé, á criança, ao adolescente, ao adulto e ao idoso, oferecendo assim uma
sucessão objectiva de mudanças, cumulativas e qualitativas, que legitimam a
divisão do ciclo de vida do organismo em diferentes idades, fases, períodos,
etapas comuns a todas as pessoas.
Porque
as mudanças fisiológicas, que vão marcando o ciclo de vida do organismo, estão
aparentemente associadas à emergência de mudanças do comportamento, sucessivas,
qualitativas e cumulativas, que são também relativamente universais ou comuns à
maioria das pessoas, o que poderá também legitimar uma divisão natural,
realista e consensual, do ciclo de vida das pessoas em diferentes fases,
períodos, etapas, níveis ou estádios do desenvolvimento psicológico.
E
porque, desde há muito tempo, a observação dessa sucessão de mudanças induziu
práticas educativas, sociais e culturais diversas e relativas a cada uma dessas
fases, períodos, etapas, níveis ou estádios de crescimento físico e
desenvolvimento psicológico.
Mas,
será que a delimitação destas fases, períodos, etapas, níveis ou estádios do
desenvolvimento psicológico tem sido, de facto, consensual e comum à maioria
das pessoas, das sociedades e até dos investigadores da psicologia do
desenvolvimento?
Por
hoje, deixo os meus leitores, e particularmente os psicólogos, reflectirem
sobre esta questão que parece tão simples, mas que continua, ainda hoje, a
alimentar o debate científico na nossa disciplina.
Maria
Stella Aguiar
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