sexta-feira, 31 de janeiro de 2014

[Comboio do Desenvolvimento]: Madiba, um exemplar moral


Permitam que hoje desvie, de novo, o percurso do nosso comboio do desenvolvimento psicológico para recordar um acontecimento que a vida académica me ofereceu no final do ano que passou.
Conduzida por uma dessas insondáveis leis do acaso, fui chamada a apresentar o livro de Jorge Ferreira, que questiona O que nos leva a ser morais?, precisamente na semana em que, na África da minha infância, e também do autor, e em todo o nosso mundo, se celebrava esse exemplar moral que foi Madiba. Coincidência surpreendente? Talvez. Seja o que for, acredito que é certamente um sinal da actualidade da temática que este livro nos propõe. Um mundo, representado pela multidão dos seus governantes, que se desloca à África do Sul para celebrar a memória de Nelson Mandela, é certamente um mundo que busca o desenvolvimento moral.
Mas, o que procuramos, de facto, no percurso de vida e de conduta deste e de outros homens que recordamos como moralmente exemplares? A leitura de Jorge Ferreira ajuda-nos a responder:
A construção de uma identidade moral é uma condição necessária, mas não suficiente para que o individuo se sinta fortemente motivado para agir de forma moral. Para isso, é também necessário que o indivíduo estabeleça um compromisso psicológico com os conteúdos ou princípios morais que definiu para a sua identidade, um compromisso com o self” (p.185).

Como o autor nos diz, penso que em exemplares morais como Madiba, procuramos precisamente esse compromisso com o self, esse sentido de auto-consistência, de integridade psicológica e moral que, nas situações de conflito social mais dramáticas, os defende de opções egocêntricas, pragmáticas e socialmente convenientes e os motiva a regularem a sua conduta pela fidelidade a uma ideologia ética orientada para princípios morais. Freitas do Amaral, no prefácio à excelente obra de um especialista português sobre a História recente da África do Sul (Pina, 2012) expressa precisamente esta ideia de Madiba:
Então, qual foi a coragem específica de Nelson Mandela, que o transformou na grande figura histórica do seu país e do mundo? Foi…a coragem do respeito pelo próximo, da renúncia à vingança e da vontade de reconciliação nacional. Depois de 27 anos na prisão, que grande exemplo, o seu!” (p.19).

Os investigadores do desenvolvimento moral confrontam-nos então com a questão da acrasia, essa inconsistência frequente entre o pensamento e a acção moral que marca a conduta das pessoas que somos e que se esbate, de forma surpreendente, nas pessoas que pressentimos moralmente exemplares. É verdade que, de um ponto de vista filosófico, epistémico, o conhecimento do bem induz o exercício do bem, pois a conduta moral é necessariamente controlada pelo conhecimento de um conjunto de normas e princípios, relativamente universais, que regulam a vida social, designadamente o princípio de justiça entre direitos e deveres das pessoas. Contudo, do ponto de vista psicológico, esse conhecimento do bem é apenas um componente de regulação da acção moral, entre outros, pois todos nos damos conta como é fácil praticar o bem em certas situações e não em outras, onde o interesse pessoal, ou a pressão social, ou muitas outras razões nos conduzem à prática de acções que sabemos, conscientemente, imorais. Convido então os meus leitores a descobrirem como esta questão da acrasia levou Jorge Ferreira e outros investigadores do desenvolvimento moral a procurarem captar e compreender as diferenças individuais na motivação para a acção moral.  
Como muitos já o afirmaram, acredito que os tempos que vivemos são, de facto, tempos de crise moral no mundo ocidental. Uma vez mais na História dos homens e das sociedades, vivemos orientados para a felicidade, para o sucesso, para o pragmatismo e utilidade imediata, enfim, para um sentido de conveniência pessoal e social que é frequentemente imoral. Mas, tanto a conceptualização do desenvolvimento psicológico, como o percurso de vida de exemplares morais como Madiba, levam-nos a acreditar que as “crises” são sempre oportunidades de mudança e que essa mudança pode sempre resultar em desenvolvimento psicológico, social e moral.
Para isso acontecer, acredito na educação, na transmissão de conhecimentos e de instrumentos de ação que ampliam o nosso conhecimento e o nosso poder sobre o mundo e promovem o nosso desenvolvimento pessoal e social (Vygotski, 1978). Aliás, contam os biógrafos que o também Nelson Mandela afirmava que: "A educação é a arma mais forte que se pode utilizar para mudar o mundo".
Se assim for, tanto a investigação da psicologia moral, como a memória  daqueles que reconhecemos modelos morais poderão constituir instrumentos de educação contra a “crise” que vivemos e contra muitas outras ”crises” que marcam e que virão a marcar o percurso de vida de cada um de nós e da sociedade que cada dia construímos.     

M. Stella Aguiar

Referências
Ferreira, J. (2013). O que nos leva a ser morais? A psicologia da motivação moral. Lisboa: Climepsi.
Pina, R. C. (2012). África do Sul. A difícil transição. Lisboa: Fronteira do Caos.
Vygotski, L. S. (1978). Mind in society. The development of higher psychological processes. Cambridge, UK: Harvard University Press

domingo, 26 de janeiro de 2014

[Psicriancices]: Trabalhar as Emoções na Terapia da Ansiedade

ACTIVIDADES NA TERAPIA DA ANSIEDADE – Trabalhar as Emoções

A consciência emocional refere-se à capacidade de perceber, identificar e dar nome aos próprios sentimentos e emoções, assim como os demais.

Dicionário das emoções: Criar um dicionário de emoções é uma óptima forma das crianças aprenderem a distinguir e a nomear as emoções. Uma forma de fazer um dicionário deste tipo é recortando de jornais e revistas imagens que revelem diferentes expressões emocionais. Estas imagens podem colar-se numa folha, anotando-se por baixo as emoções. A criança poderá depois levar o material para casa e mostrá-lo à família!
Material: Folhas, revistas, tesoura e cola.
Participantes: Individual mas também em grupo.

Exemplo de um “Dicionário de Emoções”

Representar os sentimentos: A representação dos sentimentos ou o “teatro dos sentimentos” é outra forma da criança diferenciar as emoções. Esta actividade funciona como uma forma de concretização do que foi aprendido na actividade anterior. Para além disso é uma actividade divertida que as crianças gostam muito de fazer! Nesta actividade o objectivo é representar com a criança diferentes tipos de expressão física das emoções, alternando nos papéis de actor e adivinho.
Material: Cartões com os sentimentos escritos ou representados por uma imagem.
Participantes: Individual mas também.

Exemplo de cartões de sentimentos

O que mexe com as minhas emoções: Termos consciência das nossas emoções dominantes é importante para nos conhecermos e reagirmos a estados sentimentais, quando necessário. Por exemplo, um passo importante para lidarmos com os estados emocionais negativos, é termos consciência deles e das situações que os provocam. Nesta actividade pretende-se encorajar cada jovem a explicar o que acontece em relação aos seus sentimentos em determinadas situações críticas, e até que ponto esses sentimentos lhe são vantajosos ou, pelo contrário, prejudiciais. Começa-se por listar todos os sentimentos que os jovens se consigam lembrar, fazendo corresponder situações que lhes desencadeiam esses sentimentos. Posteriormente, são dadas 16 circunferências em papel representando pedaços de tempo (8 circunferências maiores – 4 vermelhas e 4 azuis - e as outras 8 com metade do diâmetro destas - 4 vermelhas e 4 azuis). Cada jovem vai reflectir sobre os estados emocionais que os acompanham com maior frequência, distribuindo as circunferências pelos diversos sentimentos listados: sempre que sentirem essa emoção como negativa para eles colocam o tempo a vermelho; se, pelo contrário, lhes for uma emoção agradável colocam o tempo a azul. A escolha da dimensão da circunferência, maior ou menor, depende do peso que cada jovem sente que aquela emoção tem nele. É dado um momento para a discussão sobre a distribuição do tempo (por exemplo, quais as emoções positivas/negativas com mais tempo, quais as emoções positivas/negativas com menos tempo etc.).
Material: Folhas e 16 circunferências em papel representando pedaços de tempo (8 circunferências maiores – 4 vermelhas e 4 azuis - e as outras 8 com metade do diâmetro destas - 4 vermelhas e 4 azuis).
Participantes: Individual mas também em grupo.

Exemplo de uma ficha par a actividade “O que mexe com as minhas emoções”


Teresa Marques
Vanessa Russo

As actividades “Dicionário de Emoções” e “ Representar os sentimentos” foram retiradas do livro – Kendall, P., Hedtke, K. A. (2011). O Caderno do Gato Habilidoso. Lisboa: Coisas de ler. A actividade “O que mexe com as minhas emoções” foi retirada do livro - Canha, L. N.; Neves, S. M. (sd) Promoção de Competências Pessoais e Sociais Desenvolvimento de um Modelo Adaptado a Crianças e Jovens com Deficiência - Manual Prático. Odemira: Associação de Paralisia Cerebral de Odemira.