quinta-feira, 4 de junho de 2009

Opinião: A Europa das Universidades...

A Europa das Universidades

É provável que, de todas as categorias socioprofissionais, a classe universitária seja a mais europeísta. Não apenas porque as faculdades estão cheias de estrangeiros, investigadores, docentes e estudantes vindos até nós graças aos programas de intercâmbio (Erasmus, Leonardo da Vinci…), nem tão-pouco devido à harmonização europeia dos cursos e dos diplomas (e ao novo e “universal” sistema de créditos ECTS) e, em termos mais gerais, à implementação do Processo de Bolonha, mas sobretudo em virtude da própria cultura universitária.

Qualquer que seja a área disciplinar a que pertença, um professor respira
num meio europeu pelos seus contactos, pelas suas viagens, pelas redes e associações de que é membro e, mais ainda, pela natureza do seu trabalho que o obriga a elevar-se acima dos interesses locais. Quem não tiver o espírito europeu sentir-se-á sempre estrangeiro num espaço aberto à diversidade das línguas e das culturas, espaço onde a utopia não é uma quimera, mas, sob a capa diversa de modelos e de hipóteses, um método de trabalho. A Europa, como património e como projecção, como historicidade e como racionalidade, estrutura a consciência – e o inconsciente – da universidade.

Assim, podemos achar estranho que a universidade não se comprometa mais no combate político europeu, sobretudo num momento em que as eleições parlamentares vão decidir o futuro da instituição europeia e (em grande parte) o nosso próprio futuro. E embora os políticos façam o que podem para trazer os professores do ensino superior ao “combate”, e de um deles ter aceitado encabeçar uma lista de candidatos, uma andorinha não faz a primavera… As eleições europeias são globalmente deixadas aos profissionais da política enquanto os universitários se concentram apenas nos interesses da Europa universitária.

E no entanto, numa das últimas assembleias-gerais da EUA (European University Association), Durão Barroso exortava os reitores e, através eles, as universidades a que apoiassem activamente, publicamente e fervorosamente a causa da integração europeia para impedir que Bruxelas se transformasse num simples órgão de gestão de fundos e atribuição de subsídios. O Presidente da Comissão dizia precisar do idealismo do mundo da investigação e da inteligência para escapar à pressão dos grupos económicos e financeiros. E, de facto, se as pessoas que devem terem ideias e ideais europeus se desinteressam da prática europeia, onde encontraremos o sal da terra?

Cristina Robalo Cordeiro, Vice-Reitora da Universidade de Coimbra
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Jornal 1, 3 de Junho de 2009

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