sexta-feira, 14 de fevereiro de 2014

Dia dos Namorados, por Ana Catarina Ferreira

Nos dois primeiros anos do meu namoro importei-me com o Dia dos Namorados, surpreendendo-me a mim mesma, que sempre o considerei apenas mais um dia.
Nos anos seguintes voltei a reconhecer a pessoa pouco romântica que há em mim, voltando a considerá-lo apenas o dia 14 de Fevereiro.

Afinal, teria Pascal razão? Tem o coração razões que a própria razão desconhece?

Eric Fromm (2002) distinguia vários tipos de amor, entre os quais o amor erótico, “o desejo de uma fusão completa, de uma união com uma outra pessoa”; e o amor maturo, “uma união sob a condição de preservar a integridade e a individualidade de cada um”.
Na verdade, parece haver algum consenso em Psicologia sobre a existência de duas categorias de amor: o amor romântico e o amor companheiro.

Durante a fase inicial, o amor romântico (“apaixonar-se”), há emoções intensas, tumultuosas e algumas vezes contraditórias (Gleitman, Fridlund & Reisberg, 1981/2011) e o nosso cérebro liberta oxitocina, vasopressina e dopamina, responsáveis pela construção de laços emocionais e pela vinculação (Zeki, 2007). Parece haver então uma forte necessidade de proximidade do outro, alterando até todas as leis da matemática, sendo usual ouvir as pessoas dizerem que 1+1=1.
Passado este pico emocional e químico, existe o amor companheiro, tornando-se mais relevantes a confiança, o interesse reciproco pelo bem-estar do outro e a semelhança de perspectivas. Nesta altura parece haver um equilíbrio entre a necessidade de Proximidade do outro e de Diferenciação dele, passando 1+1 a igualar 3, eu, tu e nós: “O amor faz com que o homem ultrapasse a sua sensação de isolamento e de separação e, no entanto, permite-lhe ser ele mesmo, manter a sua integridade. No amor dá-se um paradoxo: dois seres transformam-se num só e, no entanto, continuam a ser dois” (Fromm, 2002).
Ainda assim, não se preocupem os românticos, pois podem sempre existir picos de paixão. A propósito, este ano fiz bolachas em forma de coração.
Feliz Dia dos Namorados!

Ana Catarina Ferreira
(participação especial)

Bibliografia:
Zeki, S. (2007). The neurobiology of love. FEBS letters, 581(14), 2575-2579.
Gleitman, H., Fridlund, A. J., & Reisberg, D. (1981/2011). Psicologia (9.ª ed.) (D. R. Silva et al., Trads.). Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian.

Fromm, E. (2002). A Arte de Amar. Cap.2: A Teoria do Amor, pp. 17-86. Lisboa: Pergaminho.

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