Nos
dois primeiros anos do meu namoro importei-me com o Dia dos Namorados,
surpreendendo-me a mim mesma, que sempre o considerei apenas mais um dia.
Nos
anos seguintes voltei a reconhecer a pessoa pouco romântica que há em mim,
voltando a considerá-lo apenas o dia 14 de Fevereiro.
Afinal,
teria Pascal razão? Tem o coração razões
que a própria razão desconhece?
Eric
Fromm (2002) distinguia vários tipos de amor, entre os quais o amor erótico, “o desejo de uma fusão completa, de uma união
com uma outra pessoa”; e o amor maturo, “uma união sob a condição de preservar a integridade e a individualidade
de cada um”.
Na
verdade, parece haver algum consenso em Psicologia sobre a existência de duas
categorias de amor: o amor romântico e o amor companheiro.
Durante
a fase inicial, o amor romântico (“apaixonar-se”), há emoções intensas,
tumultuosas e algumas vezes contraditórias (Gleitman, Fridlund & Reisberg,
1981/2011) e o nosso cérebro liberta oxitocina, vasopressina e dopamina,
responsáveis pela construção de laços emocionais e pela vinculação (Zeki,
2007). Parece haver então uma forte necessidade de proximidade do outro,
alterando até todas as leis da matemática, sendo usual ouvir as pessoas dizerem
que 1+1=1.
Passado
este pico emocional e químico, existe o amor companheiro, tornando-se mais
relevantes a confiança, o interesse reciproco pelo bem-estar do outro e a
semelhança de perspectivas. Nesta altura parece haver um equilíbrio entre a
necessidade de Proximidade do outro e de Diferenciação dele, passando 1+1 a
igualar 3, eu, tu e nós: “O amor faz com que o homem ultrapasse a sua sensação
de isolamento e de separação e, no entanto, permite-lhe ser ele mesmo, manter a
sua integridade. No amor dá-se um paradoxo: dois seres transformam-se num só e,
no entanto, continuam a ser dois” (Fromm, 2002).
Ainda assim, não se preocupem os
românticos, pois podem sempre existir picos de paixão. A propósito, este ano
fiz bolachas em forma de coração.
Feliz
Dia dos Namorados!
Ana
Catarina Ferreira
(participação especial)
Bibliografia:
Zeki,
S. (2007). The neurobiology of love. FEBS letters, 581(14), 2575-2579.
Gleitman, H., Fridlund, A. J., & Reisberg, D.
(1981/2011). Psicologia (9.ª ed.)
(D. R. Silva et al., Trads.). Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian.
Fromm,
E. (2002). A Arte de Amar. Cap.2: A Teoria do Amor, pp. 17-86. Lisboa:
Pergaminho.
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