Não Confundam Depressão com Tristeza"
A canadiana Nathalie Blanchard perdeu a baixa médica por ter colocado fotos a divertir-se com os amigos no Facebook. Sofria de depressão, doença incapacitante que também afectou António Ventura, Sandra Jesus e Sandra Gouveia - três portugueses que encararam o suicídio como um escape. Os médicos aconselham a sair de casa.Motivos para se ter uma depressão? Muitos: mortes, questões sentimentais, conflitos, falta de trabalho, dificuldades familiares, factores genéticos e fisiológicos.
Sintomas de uma depressão? Vários tipos: angústia, tristeza, não conseguir adormecer, não conseguir sair da cama, incapacidade de resolver problemas, dores físicas.
Tratamento de uma depressão? Em sequência: aconselhamento médico, terapia, medicação, espera, vigilância. Sair de casa, apanhar ar, descomprimir, também pode ser recomendado. Foi isso que Nathalie Blanchard fez.
A canadiana de 29 anos foi atingida pela depressão no ano passado. "Foi-me diagnosticada uma depressão em Fevereiro de 2009. Sofri uma sobrecarga de trabalho. Estava a construir uma casa, estava a frequentar o CEGEP (Colégio de Ensino Geral e Profissional do Quebeque) para a IBM [a empresa onde está empregada], além do meu horário de trabalho normal. O cansaço veio à tona o que me conduziu à depressão", disse à Pública via Facebook.
Ficou de baixa médica, com apoio mensal de uma seguradora. Em Novembro, as fotografias que publicou na rede social mais famosa da Internet fizeram dela notícia pelo pior motivo: a seguradora tomou as imagens como uma prova de que ela não estava doente. Nathalie Blanchard na noite com os amigos + Nathalie Blanchard na praia = a Nathalie Blanchard curada. Resultado, ficou sem o seguro.
A primeira parte desta história podia passar-se cá. Segundo um estudo sobre saúde mental que acabou há poucos meses, durante o ano de 2009, 7,9 por cento da população sofreu de uma prevalência depressiva.
"A depressão é uma das doenças com impacto maior a nível de incapacidade", explica-nos José Miguel Barros Caldas de Almeida, coordenador nacional para a saúde mental. "Em termos de anos de vida vivida com incapacidade é a doença a nível mundial que está em primeiro lugar e em termos de tempo de vida perdida por morte ou por incapacidade está em primeiro lugar nos países desenvolvidos".
António Ventura faz parte destes números. O técnico informático com 60 anos, viveu os últimos dez submetido à doença. No Verão de 2005 chegou ao limite. "Fui internado porque já foi uma situação extrema, na prática já não fazia nada", disse à Pública.
Durante cinco semanas esteve na Clínica de São José. Com a depressão "perdem-se os ritmos todos, todas as coisas que fazem parte da nossa rotina diária", referiu. A clínica voltou a dar-lhe horas para tudo: acordar, tomar as refeições, ter momentos de lazer, deitar. Não foi o fim da doença, mas serviu como alavanca para a saída do poço.
Um estigma que existe"A depressão é algo que dá um sofrimento total à pessoa", afirmou à Pública Alice Nobre, médica psiquiatra e responsável por um dos sectores do Hospital Júlio de Matos. "Para um deprimido estar a tomar uma água na esplanada é um processo muito doloroso, o doente está sem esperança, quer estar sossegado", disse, aludindo às situações de "depressão major", que são as mais graves.
Há uma percentagem significativa que pode ultrapassar as situações de depressão. O problema, segundo esta médica, é não estarmos habituados a reconhecer em nós e nos outros sinais de que algo está mal. As mudanças de comportamento podem ser interpretadas como mau-humor ou até agressividade. O estigma que ainda existe em relação às doenças mentais impede muitos doentes de darem o primeiro passo para o tratamento.
"Infelizmente a nossa sociedade não está preparada para enfrentar ou acompanhar pessoas com problemas desta natureza, porque chamam-nos preguiçosos, dizem que não queremos trabalhar", lamentou-se à Pública Sandra Gouveia, 46 anos."
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Nicolau Ferreira, 16.08.2010 in Correio da Manhã