sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

Opinião Psicológica: Tiago Mendonça, Texto 1...

Tiago Mendonça é estudante do 4ºano da Licenciatura em Direito da Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa.

Psicologia: Quid Iuris?

A convite do Tiago, aceitei o desafio de escrever um texto que tentasse relacionar o Direito e a Psicologia, tarefa que não se afigura fácil, tanto mais que esbarra desde logo, no obstáculo inicial de definir o que seja a psicologia, pelo menos, de obter essa definição num sentido estrito, especifico, objectivo.

O único caminho para esta indagação, será portanto, afastar-nos de uma definição cientifica ou técnica do que seja Psicologia, e apreciarmos a sua vertente subjectiva, observando a disciplina de forma empírica, e partindo do pressuposto que Psicologia será um melting pot de capacidade de ouvir, descortinar os problemas em questão com base no que se ouve e, finalmente, apontar soluções ou caminhos de resolução desses mesmos problemas. É uma definição lata do que é a Psicologia, provavelmente tecnicamente errada, mas tem a grande vantagem de ser do conhecimento imediata e corresponder à ideia generalizada de todos os seres.

Se entendermos a Psicologia nesta vertente mais ampla, poderemos afirmar que existem inúmeras decorrências desta ciência, sendo as suas manifestações evidentes num conjunto muito alargado de áreas, a título de exemplo, pense-se na importância cada vez maior dos denominados mind games no desporto. Assim, pensando a Psicologia, como uma capacidade de rapidamente observar o problema e resolve-lo, descortinando essa problemática de uma forma sensorial e quase imediata, nada obsta em afirmar a importância da Psicologia no Direito.

Novo Problema: A definição do que seja Direito. Poupando-nos a todos de uma definição académica do que seja Direito e de abstracções teóricas, que sendo importantes numa perspectiva de fundamentação e enquadramento do estudo de Direito, mas que remeto para um qualquer bom Manual de Introdução ao Direito, proponho que fiquemos na observação empírica, e vou mais longe, confinemos a nossa análise à materialização do Direito, numa sala de julgamento, enfim, porque não afirma-lo, ao mind game gigante que é um julgamento – será uma doce ilusão, pensar-se que um julgamento é algo técnico, confinado a uma argumentação jurídica, sem qualquer estratégia processual ou substancial.

Adoptando esta perspectiva, sim, a Psicologia tem inúmeras decorrências, e é importante num conjunto variadíssimo de áreas. Os problemas que se podem levantar, mas que deixo para uma eventual discussão na caixa de comentários ou numa qualquer mesa redonda, optando por não me pronunciar sobre os mesmos, é se aquilo a que designei por Psicologia será uma característica inata a cada um de nós, ou, pelo contrário, se será uma dotação adquirida, isto é, se à capacidade de em termos imediatos perspectivar o problema e dar a solução, é algo que, naturalmente, umas pessoas são melhores do que outras, ou, pelo contrário, se isso se pode aprender num qualquer curso, por exemplo no Curso de Psicologia. Um outro tópico, que gostaria de aditar, sem dar qualquer opinião, é se a Psicologia, como ciência importante com tantas decorrências pode ser ensinada num curso superior, mais, se o curso de Psicologia contribui, de forma alguma, para esse exercício.

Da minha parte, resta apenas dizer, que acho que as decorrências e a importância da Psicologia é demasiado grande para se poder confinar a um qualquer escritório de atendimento. Será que José Mourinho, tocando no desporto novamente, não será mais psicólogo do que muitos dos licenciados em Psicologia?

Volto a agradecer o convite do Tiago e peço desculpa aos leitores pela óbvia falta de fundamentação técnica para falar da temática, especialmente no que se refere à Psicologia, cujo meu conhecimento é meramente empírico. Espero poder aprender um pouco mais convosco, na caixa de comentários ou numa qualquer mesa redonda, como referi anteriormente.

5 comentários:

Tiago A. G. Fonseca disse...

Caro Tiago, agradeço a participação no Psicologia para Psicólogos.

Aos leitores, importa salientar o pedido feito ao Tiago Mendonça, que passaria por uma tentativa de relacionar a sua definição de Psicologia utilizada em Direito, com o próprio Direito, salientando essa importância, se esta existe.

A relevância é evidente e claro que, tal como dizes, a definição que atribuís à Psicologia é tecnicamente errada mas também concordo que seja a definição comum de todos. De qualquer modo, esse erro técnico não invalida o seu uso noutras áreas de relação humana, como é o caso do Direito.

Mais uma vez agradeço a colaboração e ficas convidado a acompanhar o blog e os seus textos. :)

Cumprimentos

Rita Palhoco disse...

Caro Tiago, agradeço-te também por teres aceite o desafio do Tiago, e saliento a importância de encontrar e apreciar o papel da psicologia nas demais ciências humanas.

Respondendo a algumas questões levantadas, penso que há determinadas capacidades inatas que se manifestam de diferentes forma nos vários indivíduos, ora vejamos, uns são melhores nas matemáticas, outros nas filosofias, uns nas químicas, outros nas biologias...

Transpondo estas diferenças para o nosso dia-a-dia, e tendo como premissa a tão comummente definição que se dá à psicologia, eu pergunto "Quando tens problemas procuras todos os teus amigos, ou um ou dois em especial?".

Penso que a capacidade de ouvir os outros (que é a grande base que permite ajudá-los) existe em cada um de nós, nuns mais do que noutros. No curso de Psicologia treinamos essa capacidade? Claro que sim, mas na prática clínica por exemplo duas pessoas com o mesmo curso na mesma faculdade possuem resultados diferentes. É inevitável a intersubjectividade, porém um psicólogo é MUITO diferente de um amigo. E aí entra a razão pela qual existe um curso de psicologia e não apenas uma prática de senso comum.

No curso de Psicologia aprendemos a estudar o ser humano em toda a sua complexidade, compreendemos o seu funcionamento cerebral e as razões que levam ao seu comportamento; aprendemos, com base na experiência de vários psicólogos, com vários anos de exercício da sua função, que há formas preferenciais de ajudar o outro e que há coisas que não se podem fazer se o nosso propósito é chegar ao bem-estar do outro.

O curso de Psicologia é muito desvalorizado, na minha opinião, mas o que é a capacidade de dar a volta à questão num julgamento, fazer pressão, criar confusão mental no arguido para chegar às incoerências e por fim à confissão? É Psicologia. E quando um advogado acaba o curso, já consegue fazê-lo? Não, necessita de treino, de errar e perceber onde poderia fazer de forma diferente (aprende com a experiência dos outros, aprende com a compreensão do funcionamento da pessoa que tem à sua frente).

O que seria dos anúncios televisivos ou dos centros comerciais se não tivessem equipas com um psicólogo que aplica os conhecimentos adquiridos ao longo de anos e anos sobre a importância que as pessoas dão aos pormenores, sobre as mensagens subliminares (que não são conscientes mas que ficam registadas)...

A Psicologia é a meu ver um comboio muito grande, de conhecimentos, com muita aplicabilidade nas questões do senso comum, do dia-a-dia, mas também nas questões mais elaboradas das ciências humanas, porque estudar o ser humano é isto mesmo, ir do mais rudimentar, do mais básico, ao mais complexo e o mais fantástico no meio disto tudo, é que há tantas coisas que nós fazemos que achamos básicas e são o mais complexo da nossa existência...

Tiago A. G. Fonseca disse...

Tiago, referiste "Espero poder aprender um pouco mais convosco, na caixa de comentários ou numa qualquer mesa redonda", acho que a Rita deu o grande passo :D

Rita, resumiste num bom comentário a grande utilidade da Psicologia noutras vertentes da acção humana, neste caso, aplicamos ao Direito.

Penso que o texto do Tiago está muito bom no que toca à centralização da acção da Psicologia como prática comum e quase obrigatória naquela área.

Gostava então Tiago, com mais estas informações se poderias responder à Rita com exemplos para vermos um pouco melhor o uso prático desta então Psicologia no Direito!

Cumprimentos e obrigado :)

Tiago Mendonça disse...

Carissimos,

O comentário da Rita veio no sentido do meu texto, efectivamente, concordamos que a Psicologia é importante em muitas outras áreas, e os exemplos, estão muito ajustados.

Existem dois tipos de dotações: Dotações Inatas e Dotações Adquiridas, sendo que, as segundas relacionam-se com o investimento em Capital Humano, ou seja, a formação que as pessos fazem nelas próprias, no caso, tirar um curso de Psicologia. Agora, defendo, que pode acontecer, que uma pessoa que nunca tirou o curso de Psicologia domine muito melhor algumas áreas que se leccionam nesse curso do que outra que retirou o curso. Suponham: A Pessoa A tem 10 de Dotação Inata e a Pessoa B tem 2. A Pessoa B tira um curso de Psicologia, sendo uma razoável aluna pelo que será um 7 de 1 a 10. Terá, 9 pontos, contra 10. Isto pode acontecer e creio que acontece. Num sentido amplo, considero que José Mourinho é um psicólogo fantástico.

Por outro lado, acho que a Psicologia no futuro se vai desenvolver muito mais no quadro empresarial, em áreas como o marketing, por exemplo, do que propriamente, a velha ideia do psicólogo fechado no Gabinete à espera de clientes/pacientes.

Tudo visto, reafirmo que acho a Psicologia uma ciência social importante. Que não deve ser desprezada e que assume grande importância. Quanto ao curso em si, não faço ideia do que se leccioina, pelo que não posso opinar.

P.S (D) - Deste bem o exemplo de Direito. Foi no seguimento do que disse. E um Advogado, tem uma formação nesse sentido. As imensas orais que fazemos tem uma componente de avaliação que passa um pouco por aí. Daí que diga, que um Advogado pode ser "psicólogo". E um treinador de Futebol também. E um vendedor, será mesmo o rei dos psicólogos.

Rita Palhoco disse...

Caro Tiago concordo com o que disseste mas faria uma rectificação. É que ser psicólogo e utilizar a psicologia são coisas distintas e o Mourinho utiliza a psicologia (e de forma fantástica, porque a motivação é tão importante como a técnica dos jogadores) mas não é um psicólogo, é um treinador de futebol. Nós não aprendemos apenas a motivar, ou a argumentar, ou a ouvir...

Penso que a tranversalidade da psicologia não faz com que esta se esgote nas outras ciências em que está inserida e contemplada, acho que devemos ter sempre presente que embora possa estar na base de algumas concepções, a psicologia é um iceberg com questões muito complexas, aliás tão próprias da complexidade do cérebro humano ;)

E por fim queria salientar que a psicologia por si só também estaria limitada a nível de aplicabilidade se não nos complementássemos com outros conhecimentos, pois por exemplo em casos de abuso e negligência importa saber actuar a nível de intervenção psicológica, mas é necessário também conhecer os processos jurídicos associados a essas questões e por isso peço-te que sendo essa a tua área de maior competência, que vás acompanhando o blog e sempre que nos possas fornecer informação complementar ficariamos francamente agradecidos que o fizesses!! :)