Não é meramente uma adversidade que torna uma pessoa
num terrorista. É tentador perspetivar este comportamento como maluco, pois diluiria
assim a intencionalidade e não se trataria somente de “pura maldade”. Se também
determinássemos as causas destas patologias, podíamos eliminar o perigo,
dando-nos maior controlo sobre a situação.
Apesar dos ofensores mais comuns serem descritos
pela impulsividade, baixo nível de inteligência, baixo nível de planeamento e
autocontrolo, e tendo relacionamentos interpessoais para fim de exploração e
consumo frequente de álcool e drogas, os criminosos “políticos” são
percecionados como tendo um nível de inteligência médio e sem consumo de
substâncias ou perturbações mentais.
Quando confrontados com as consequências dos seus
atos, demonstram reserva (ao contrário da ausência de remorsos dos psicopatas),
sendo capazes de racionalizar e compartimentalizar as suas actividades violentas,
crendo ser ações necessárias para lutar por uma causa maior (Horgan, 2003,
citado por Miller, 2006). A personalidade de um indivíduo influencia a direção
da escolha de cometer atos prejudiciais, quer por auto-gratificação ou por um
propósito mais elevado. Apesar de 40% das caraterísticas de personalidade serem
hereditárias, esta também é moldada pelos contextos familiar, social, económico
e político em que a pessoa se desenvolve. Quando as caraterísticas se tornam
mais que variações menores, percepcionamo-las não só como traços, mas como
perturbações da personalidade.
O terrorismo religioso acredita assim que só prestam
contas a Deus, podendo matar em Seu nome (June, 1999, citado por Miller, 2006),
podendo dividir-se em indivíduos que são os mais ideologicamente motivados,
servindo como ponto focal do grupo; os criminosos, que aparecem como indivíduos
que procuram uma desculpa para expressar os seus impulsos antissociais através
de uma causa nobre e aceitável e ainda os sujeitos com psicopatologia, que são
normalmente atraídos pela extremismo que o grupo representa, podendo
desempenhar papéis úteis para os objetivos da estrutura (Hacker, 1976, citado
por Miller, 2006).
Ana Lopes
Miller, L. (2006). The
terrorist mind: II. Typologies, psychopathologies and practical guidelines for
investigation. International Journal of
Offender Therapy and Comparative Criminology, 50 (3), 255-268. Doi:
10.1177/0306624X05281406
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